Não foi por acaso que o Padre José de Anchieta recebeu o título de "apóstolo do Brasil". Nascido em 1534 em Tenerife, nas Ilhas Canárias, Anchieta foi um jesuíta incansável e um homem cordial. Seu papel na fundação de São Paulo foi decisivo: era um eficiente catequizador, dava aulas de latim, circulava por vastas regiões e mantinha uma relação amistosa com os indígenas.
Foi poeta e escreveu peças de teatro e uma gramática tupi-guarani. Além disso, confeccionava roupas e alpargatas, construía casas e atendia como boticário. Outra de suas qualidades era pensar estrategicamente a colonização. Anchieta foi beatificado em 1980 e há dez anos aconteceu sua canonização pelo papa Francisco. A ele eram atribuídos milagres, como estar em vários lugares ao mesmo tempo e levitar.
Quando morreu, em 1597, aos 63 anos, o santo foi enterrado na igreja de São Tiago, no Espírito Santo, lugar onde passou seus últimos anos. Anchieta estava descansando em paz até que em 1609 foi feita a exumação dos seus restos mortais, levados para a catedral de Salvador (BA) por ordem do superior geral da Companhia de Jesus, padre Cláudio Acquaviva.
A partir daí se abriu uma caixa de relíquias e os ossos do jesuíta se espalharam pelo Brasil e por outras partes do mundo, como Portugal e Itália. Para os católicos, as relíquias são uma forma de ter proximidade física com alguém que alcançou o ápice espiritual.
Ossos de Anchieta foram repartidos entre pessoas seculares e religiosas, que os pediam na esperança de milagres. O padre Fernão Cardim chegou a declarar que com a água abençoada com um desses ossos, Deus fez maravilhas para vários necessitados.
Um dos fêmures do jesuíta, antes exposto na igreja de São Tiago, hoje sede do governo capixaba, foi transferido para Roma. Ficou lá por três séculos e meio. Em 1759, com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marquês de Pombal, um baú de jacarandá que estava na Bahia com parte dos restos mortais do santo e com um manto marrom que seria dele, foram mandados para Portugal. O baú só foi encontrado em 1964 na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em 1971, o governo de São Paulo e os jesuítas pediram à Portugal a devolução do baú com os ossos e o manto, o que só ocorreu na década de 1980, mais ou menos na mesma época em que o Vaticano devolveu o fêmur. O manto passou a ficar exposto no Pateo do Collegio.
Além dele, há pelo menos outras sete relíquias oficiais de Anchieta no Brasil: duas no Pateo do Collegio, um osso do braço chamado úmero no Museu Anchieta e um fragmento de fêmur na Igreja São José de Anchieta. Também há um pedaço de fêmur na igreja São Miguel Arcanjo, na zona leste de São Paulo. O tamanho dos ossos indica que Anchieta deveria ter cerca de 1,65 metro de altura
Existe um pedaço de osso no município de Anchieta (ES), antes chamado Reritiba, onde o padre morreu, e outra relíquia em Itaici, em Indaiatuba (SP), onde a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) faz seus encontros. O mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, também abriga um pedaço de osso em uma urna na capela dedicada ao santo.
Fora do Brasil, há uma relíquia na igreja de São Roque, em Lisboa, lugar de devoção a Anchieta, e também na igreja do Gesù, em Roma, primeiro templo da Companhia de Jesus na cidade.
A campanha para a beatificação de Anchieta foi iniciada na Capitania da Bahia vinte anos após sua morte, em 1617. Mas ele só foi beatificado em 1980 pelo papa João Paulo 2º. Atribui-se esse grande lapso de tempo inicialmente ao Marquês de Pombal, que perseguia os jesuítas e pode ter impedido o trâmite do processo.
A canonização foi mais rápida. Mesmo sem milagres comprovados, o papa Francisco considerou, em 2014, o trabalho de Anchieta, pioneiro na introdução do cristianismo no Brasil e fundador de São Paulo. Também se levou em conta que antes de ser professor dos indígenas tratou de aprender suas línguas, costumes e de entender sua cosmovisão. Anchieta foi um conciliador.
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