Sei que minha coluna é focada em falar sobre a história e curiosidades de São Paulo, mas não tem como dissociar a história que contamos com a história que iremos escrever nos livros do futuro, razão essa que me impele a ir adiante com o texto desta semana. Muitos dos que me leem não estão preparados para o que eu vou dizer, mas, infelizmente, é a pura verdade: o pior de São Paulo é o próprio eleitor paulistano.
Não é de hoje que o paulistano parece odiar a própria cidade em que vive quando o assunto é a escolha do prefeito de São Paulo. A história recente mostra que São Paulo já elegeu pessoas que sequer deveriam ter tido carreira política, mas que ou são ótimos na oratória para convencer o povão ou tem um padrinho muito forte.
Recordando o passado recente, desde o desastre inesquecível da gestão de Celso Pitta (1997-2001) até a fatídica reeleição do então mortiço Bruno Covas, parece que o eleitor paulistano tem o dedo podre na urna e, suspeito, que isso venha a acontecer novamente.
Afinal, quem não se lembra de prefeitos que declararam juras de amor e fidelidade aos paulistanos mas abandonaram o barco na primeira oportunidade, pensando unicamente na sua carreira política? José Serra largou a prefeitura para ser governador paulista e Doria, anos mais tarde faria o mesmo. O primeiro deixou na administração da maior cidade do Brasil um obscuro e até então desconhecido vice, Gilberto Kassab, que tratou de apoiar-se nos factoides para se popularizar. Afinal quem não se lembra das "cruzadas" de Kassab contra o Bahamas e a boate Kilt em prol da moral e dos bons costumes? De legado mesmo o vice que virou titular só teve um: a lei Cidade Limpa.
Anos mais tarde o paulistano, sempre ele, cairia novamente na lábia de um candidato: João Doria Jr. posando como outsider, milionário que não precisa nem do salário do cargo, Doria surfou na onda de insatisfação do eleitor paulistano com a esquerda e elegeu-se ainda no primeiro turno, em derrota para lá de humilhante de Fernando Haddad, que buscava a reeleição.
O que se viu após a posse foi a gestão de um homem pouco afeito aos problemas reais da cidade, mas obcecado pelo próprio projeto de poder, que visava um salto rumo à presidência do Brasil. Cansou de criar factoides pela cidade, a vestir-se de gari a jardineiro e alardear ter acabado com a cracolândia, quando na verdade a dispersou por toda a capital paulista. Figura egoísta, atropelou desde o paulistano até o próprio partido para tentar a presidência, mas contentou-se com o governo paulista.
Deixou em seu lugar na prefeitura o vice Bruno Covas que, embora não fosse tão obscuro quanto Kassab, era pouco conhecido do paulistano. Fez uma gestão bastante razoável, o que o cacifou para disputar a reeleição, mas com um pequeno inconveniente: estava muito doente.
Mesmo moribundo Covas não foi bacana com o povo de São Paulo e manteve-se na disputa pela reeleição, levando consigo um vice absolutamente desconhecido, repetindo o padrão de outros que o antecederam. Era óbvio por parte do eleitorado que Covas não iria longe e a prefeitura cairia novamente nas mãos do vice, mesmo assim o eleitor, sempre ele, o reelegeu.
Meses depois de reeleito Bruno Covas partia desse plano para deixar aos paulistanos o presente de grego por nele terem acreditado: Ricardo Nunes. Um obscuro vereador da zona sul paulistana alçado a prefeito da maior cidade do país. Até então seu maior feito era negativo: agredir a própria esposa.
Quase quatro anos se passaram e São Paulo pagou duramente por ter reeleito um prefeito que estava morrendo. Ricardo Nunes, seu vice, completamente despreparado para cargo tão importante mergulhou a cidade naquele que foi seu período mais sombrio, com o centro às moscas, violência e furtos fora de controle, empresas de ônibus suspeitas de envolvimento com PCC e lixo por toda a parte.
Paulistano, acredite, você é o culpado. E parece que não aprendeu a lição
Estando novamente em tempo de eleição, a disputa infelicita o cidadão com diversos candidatos que se mostram absolutamente incapazes de gerir a cidade, alguns deles, inclusive, já deixando no ar que largarão a cidade no meio do mandato para alçar voos maiores.
Ou você duvida que Nunes deixará o cargo em algum momento para o vice indicado a dedo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro? Outro vice, aliás, completamente obscuro e desconhecido do paulistano.
Ou você crê que Pablo Marçal que – fosse o Brasil um país sério estaria ou atrás das grades ou, no mínimo, impedido de concorrer – vai se contentar em ficar no cargo de prefeito, quando ele mesmo já deixou claro que anseia a presidência da República em 2026? Você conhece sua vice? Sua trajetória? Com o crescimento dele nas intenções de voto procure saber quem é sua parceira de chapa pois ela pode vir a ser sua prefeita por pelo menos dois anos, mesmo eventualmente sendo incapaz para isso.
De todos os candidatos e candidatas que postulam o cargo de prefeito paulistano arrisco a dizer que Boulos, Tabata e Marina Helena parecem ser honestos com o paulistano no que diz respeito a ficar até o final do mandato. Já os demais, inclusive o errante Datena, mais parecem usar a cidade como um trampolim para algo maior em suas carreiras, mesmo que signifique manter São Paulo em um lamaçal de incompetência.
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