De onde menos se espera, daí é que não sai nada, diria Apparício Torelly, o "barão de Itararé". Quase dois dias após ser derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro deixou milhões de brasileiros e dezenas de profissionais da imprensa plantados, à espera do projeto de ditador finalmente reconhecer o resultado das eleições. Tolinhos — e eu me incluo nesse bonde.
Havia um tiquinho de esperança de que houvesse algum resquício de civilidade. O que tivemos foi mais do mesmo: golpista sendo golpista. Agradeceu os votos dos eleitores, ignorou, como sempre fez, a outra metade do país para quem ele fez questão de não governar, e aproveitou o holofote para
atiçar a militância.
"Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral." Tão direto como só um covarde consegue ser, deu a entender que não foi uma eleição limpa. Recorro ao "barão de Itararé", novamente: "não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar".
Jair Bolsonaro seria um prato cheio para o "barão" que de nobre tinha apenas o texto afiado, o deboche, o humor anárquico. Jornalista e escritor, Torelly não perdoava políticos, intelectuais, ricos e pobres. Deixou uma lista enorme de frases impagáveis que conversam com o nosso século e com a crônica política atual, embora uma delas tenha ficado datada. "O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato."
Sorte de o "barão" não ter conhecido o eleitor bolsonarista-raiz que não apenas se orgulha, como tem passado os últimos dias defendendo arruaça, fechamento de estradas e acredita que o país vai parar para defender o indefensável: golpe militar. "Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância", diria o barão. Mas isso é mais difícil para o bolsonarismo e para Jair Bolsonaro do que reconhecer a derrota.
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