Jair Bolsonaro tenta emular os passos de Donald Trump. Ele esperou quase 48 horas para se pronunciar sobre o pleito e, quando finalmente falou, agradeceu os votos recebidos e reclamou de uma suposta injustiça do sistema eleitoral. Não parabenizou Lula nem reconheceu explicitamente a derrota. Fê-lo apenas indiretamente, indicando que jogaria nas quatro linhas da Constituição. Também autorizou seu ministro da Casa Civil a dizer que daria início ao processo de transição.
Se fosse só isso, poderíamos classificar a atitude como uma infantilidade sem maiores consequências. Denotaria uma tremenda falta de educação e de compromisso com os ritos da democracia, mas Bolsonaro já fez coisas piores. Se ele não quiser entregar a faixa a Lula, sua ausência não será lamentada. João Figueiredo, o último ditador militar, também saiu pela porta dos fundos.
Há motivos, porém, para recear que o comportamento de Bolsonaro tenha configurado um ensaio de sublevação, uma tentativa brancaleônica de reverter o resultado da eleição. As longas horas de silêncio do presidente serviram de senha para que uma ala radical de seus apoiadores promovesse bloqueios em estradas.
O que ele precisaria ter feito agora seria condenar com veemência esse movimento e exigir sua imediata cessação. O que vimos, porém, foi uma leve admoestação, que alguns fanáticos podrão ler até como estímulo, já que ele justificou a motivação dos baderneiros.
É a versão tupiniquim da invasão ao Capitólio, em que o mandatário, por omissão ou estímulo direto, cria uma situação de desordem, na esperança de que ela sirva de pretexto para algum tipo de intervenção com desfecho desconhecido.
Bolsonaro, porém, se viu isolado e teve de recuar, exatamente como ocorrera com Trump em 2021. Bolsonaro não recebeu apoio nem dos militares nem de seus principais aliados políticos. Aparentemente, só a milícia rodoviária federal estava com ele.
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