O petista Luiz Inácio Lula da Silva pode até vencer a eleição presidencial, mas seu governo terá de conviver com um Congresso ainda mais bolsonarista do que o eleito quando o chefe da extrema direita se tornou presidente em 2018. Não é só o Senado que terá diversos ex-ministro do governo de Bolsonaro, muitos deles figuras carimbadas nas lives presidenciais dos últimos três anos e meio. O eleitor também escolheu nas listas do PL, do PP e do Republicanos deputados identificados com a ala mais estridente do atual governo.
Em São Paulo, a deputado federal Carla Zambelli está reeleita. Não só ela. O filho do presidente Eduardo Bolsonaro e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles também garantiram cadeiras no Parlamento. Em Santa Catarina Jorge Seif, ex-secretário da Pesca, estava a um passo de ser eleito senador em Santa Catarina. No Rio de Janeiro, o general Eduardo Pazuello, o ministro da Saúde responsável pelo desastre da condução do combate à covid-19 podia se tornar um dos deputados federais mais votados do PL.
Acossado pela direita, Lula também será acossado pela esquerda. Em São Paulo, não são os candidatos de alas moderadas do PT e do PSB que estão entre os mais votados. É justamente Guilherme Boulos, do PSOL, quem liderava à esquerda entre os candidatos mais bem votados. No Rio, o fenômeno se repetia: Taliria Petrone e Tarcísio Motta estão entre os mais votados. Lindbergh Farias (PT) aparecia então em quinto entre os mais votados.
Sendo assim, um eventual governo Lula e seus planos de uma grande aliança com o centro ficaria espremido entre os dois extremos que foram as escolhas dos eleitores no Parlamento. Nos governos estaduais, a situação de Lula não é melhor. Tarcísio Freitas (Republicanos) chega ao segundo turno com uma votação enorme, e como favorito diante de Fernando Haddad (PT) - Tarcísio, porém, terá uma Assembleia com uma forte presença da esquerda se ganhar . Ou seja, uma aliança com os governadores, como procurava Lula para reformas como a tributária, também será difícil.
Por fim, a esperança de fazer um governo mais ao centro para produzir consenso e assim poder governar em razão de a esquerda ficar longe da maioria e mesmo dos 180 deputados para impedir qualquer tentativa de impeachment fica cada vez mais difícil em função do desastre colhido pelo PSDB, pelo Cidadania e pelo MDB nessa eleição. Destituído de sua principal base – São Paulo – o PSDB perde a sua relevância na cena política nacional, levando para o fundo das águas o sonho petista de reeditar no País uma Concertación, a coalizão que governou com estabilidade o Chile após o fim do governo de Augusto Pinochet.
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