O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu nesta quinta-feira (20), em discurso em São Gonçalo (RJ), que evangélicos não deixem pastores mentirem sobre política nas igrejas e locais de culto.
"Quero dizer a vocês que quem é evangélico deve frequentar a sua igreja e não permitir que o pastor minta. Ninguém que é religioso, nem padre ou pastor, deve mentir. O povo não vai na igreja para discutir política, vai para discutir sua fé."
São Gonçalo é uma das cidades com maior concentração de evangélicos no Rio de Janeiro. Foi no município que o petista participou de encontro com religiosos cristãos no primeiro turno.
O petista afirma ser alvo de uma campanha difamatória na TV e nas redes sociais e pediu a militantes que desmontem as mentiras. "Para voltar a presidir esse país é preciso a gente desmontar todas as mentiras que nosso adversário está contando na televisão e nas redes sociais", disse.
Lula voltou a criticar o uso da máquina da Presidência por Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha. Ele comparou o comportamento do atual mandatário com o seu, em 2006, e o de Dilma Rousseff, em 2014, quando disputavam a reeleição.
"Nunca vi na história desse país um candidato gastar 10% do dinheiro que meu adversário está gastando e utilizando a máquina pública. A gente só fazia campanha no final de semana e depois das seis horas da tarde. Ele só vai ao Palácio pra receber os lambe botas dele."
Ele instou seus militantes a receberem os benefícios liberados pelo governo durante a campanha, mas manterem o voto em seu nome.
"Nós precisamos provar que o dinheiro não compra nosso voto. Ele agora, perto das eleições, sabendo que vai perder, inventou de distribuir o vale emergência, ele inventou de dar 13º para o salário emergência, tratou de liberar o fundo de garantia para o ano que vem, e anunciou o crédito consignado para quem já está devendo", afirmou.
"Isso é política na tentativa de comprar a consciência do povo. Ele acha que nós somos gado e que pode comprar a gente com qualquer dinheiro. É preciso que a gente tenha o comportamento: tudo que for depositado na conta de vocês, peguem. E, quando chegar o dia 30 votem no 13 para ele nunca mais tentar enganar o povo brasileiro."
Em meio a uma grande diferença entre o ex-presidente e o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), na intenção de voto da população evangélica, Lula se esforça para conter danos e aproximar o segmento. Símbolo disso é a carta a evangélicos lançada na quarta-feira (19) em São Paulo.
Nela, Lula volta a se dizer contra o aborto. Seu projeto de governo, afirma, "tem compromisso com a vida plena em todas as suas fases", porque para ele "a vida é sagrada, obra das mãos do Criador".
Nova sinalização à base conservadora veio no trecho em que diz entender "que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los, dialogando e respeitando os valores das famílias, sem a interferência do Estado".
Ele também definiu como um "triste escândalo" o uso da fé para fins eleitorais e assumiu o compromisso de não usar símbolos da fé para fins político-partidários, "respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da igreja".
Há dúvidas, porém, sobre o alcance da carta ao eleitorado a 11 dias do segundo encontro entre o eleitor e a urna eletrônica, já que há a visão no PT de que não há tempo para conciliar-se com lideranças evangélicas que já estiveram nos mandatos de Lula, como Silas Malafaia e Edir Macedo.
Entre os danos causados à campanha estão a difusão de notícias falsas por apoiadores de Bolsonaro, entre elas a mais antiga, de 1989, que conspira sobre o fechamento de igreja em um mandato do pernambucano.
Já Bolsonaro continua atuando para manter e expandir sua influência entre os evangélicos, que desde o início demonstravam preferência ao candidato à reeleição. Também na quarta-feira (19), a primeira-dama Michelle Bolsonaro reagiu com críticas aos evangélicos que se reuniram com Lula.
"É inadmissível cristãos se reunirem com um homem que foi um câncer na nossa nação. Falou que ia levar água para o Nordeste, não levou. Agora vai trazer picanha, isso é conversa para boi dormir", disse a primeira-dama, que também fez um aceno ao agronegócio.
Em seus discursos, a primeira-dama voltou a se referir ao PT como partido das trevas e disposto a acabar com a liberdade dos religiosos. "Ele está com sangue nos olhos, com sangue de vingança, mas nós não vamos deixar", completou.
Lula voltou a criticar o presidente em comício em Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro.
"Esse atual presidente não está preocupado em cuidar do país. Ele só está preocupado em cuidar dos seus milicianos, ele só está preocupado em cuidar dos seus filhos."
Ele criticou os planos do ministro da Economia, Paulo Guedes, de reajustar o salário mínimo e benefícios previdenciários abaixo da inflação.
Guedes também foi alvo por sua sugestão sobre privatização de praias, feita em entrevista ao Flow PodCast, realizada no mês passado.
"O Guedes anunciou que estava pensando em privatizar as praias desse país. Imagina você não poder mais ir na praia de Copacabana porque ela vai ter um dono. E o dono irá fazer uma cerca para que as pessoas não possam ir para a praia. A praia é o lugar mais democrático do mundo, onde pobre e rico se confundem, onde as pessoas são iguais, e ninguém repara se o cara é branco, negro, amarelo, pardo. Todos na praia são iguais. Basta ter cinco reais para tomar uma caipirosca que todos ficam iguais na praia", disse o petista.
A caminhada na zona oeste foi organizada pelo prefeito Eduardo Paes (PSD).
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