Luiz Inácio Lula da Silva, 77, tornou-se neste domingo (30) o primeiro brasileiro a ser eleito por três vezes para a Presidência da República. Sua vitória e, dentro de dois meses, sua posse consagrarão a alternância de poder e a solidez da democracia brasileira.
Lula conquista o novo mandato graças, em parte, à memória de realizações durante sua passagem pelo governo. Em seus momentos mais virtuosos, o petista soube aproveitar com responsabilidade as vantagens do bom momento econômico global na década retrasada e das transformações demográficas do Brasil.
Muito do triunfo lulista se deve também à firme e mais do que justificada rejeição de metade do eleitorado a seu oponente, Jair Bolsonaro (PL), o primeiro presidente a perder a disputa no cargo desde que o país adotou a reeleição.
O ímpeto autoritário, a truculência, a inoperância e o desmazelo de Bolsonaro facilitaram a campanha de Lula, que se deu ao luxo de sonegar ao eleitor o detalhamento de seus planos econômicos para um governo que se afigura difícil.
O presidente eleito —com a menor margem de votos desde a redemocratização— é também rejeitado por parcela expressiva e influente da sociedade, seja pelos escândalos de corrupção durante suas administrações, seja pela ruína econômica operada por sua sucessora, Dilma Rousseff, seja pela pauta ideológica abraçada por vezes de forma intolerante pelo PT.
Deverá enfrentar no Congresso uma oposição mais ampla e radical que a de 20 anos antes. O bolsonarismo e outras forças à direita conquistaram posições importantes no Legislativo e nos estados.
Não poderá esperar uma conjuntura internacional favorável, ao menos de pronto. A guerra na Ucrânia e a alta da inflação e dos juros em todo o mundo elevaram os riscos de recessão. No plano doméstico, as finanças do governo exigem ajuste crível e rigoroso.
Por tudo isso, Lula precisa dar mostras imediatas de responsabilidade orçamentária e disposição de rumar ao centro, política e economicamente. Deve se cercar de especialistas e quadros qualificados, para além do raio estreito do partido e de aliados à esquerda.
Sem definir uma regra fiscal que assegure a solvência da dívida pública, não haverá dinheiro para as demandas prementes em educação, saúde e assistência social. Sem permitir que a economia funcione com liberdade e competição, não haverá o crescimento sustentado essencial para reduzir a pobreza.
Acaba a propaganda de campanha, começam as responsabilidades de governo. A democracia estará fortalecida se o país for capaz de superar ideias e práticas que obstruem seu desenvolvimento.
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