sábado, 12 de fevereiro de 2022

TOSTÃO Chelsea teve total domínio do jogo, como se esperava, FSP

 Antes da Copa de 1958, o futebol brasileiro já era conhecido pela habilidade, pela fantasia e pela improvisação. Faltava um grande título para mostrar que era também eficiente. Depois do Mundial, criou-se a mística do jogo bonito, do futebol-arte. Alguns lances se tornaram a marca de um estilo, de um jeito de ser, como os passes de curva, de rosca e de trivela, os dribles, os elásticos, os chapéus e tantos outros efeitos especiais.

Os jogadores brasileiros eram chamados de artistas da bola. Porém não era só isso. Os artistas só se tornam craques se têm ótima técnica individual, visão coletiva e lucidez para fazer as escolhas certas. Os jogadores especiais imaginam, entendem e dominam o tempo e o espaço, tudo o que acontece em volta deles, dos companheiros e dos adversários.

Garrincha não foi apenas o maior driblador, o mágico da bola. Ele tinha também muita técnica e uma ampla visão de jogo. Garrincha era mais do que um artista. Era um sábio em campo. Não só ele mas tantos outros grandes jogadores.

As seleções vitoriosas de 1958, de 1962 e de 1970 e outras que encantaram e não venceram, como a de 1982, uniam a improvisação e os efeitos especiais com a organização, o jogo concatenado, linear. No mesmo raciocínio, as vitoriosas seleções brasileiras de 1994 e de 2002 juntavam o pragmatismo e o princípio da realidade com o prazer. Grandes craques dessas épocas, como Romário, Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, foram eleitos os melhores do mundo.

Muitos dizem que a origem de tanta habilidade do jogador brasileiro estava nos campos de pelada, de terra, sem regras e sem professores. Não é bem assim. No mundo, são cada vez mais raros os campos de pelada e cada vez mais frequente a formação de craques.

A miscigenação foi um fator importante da criatividade brasileira. Alguns pensadores relacionaram, no passado, o talento com a descontração, a irreverência, a brincadeira e a falta de compromisso do cidadão brasileiro.

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Apesar do modernismo, da união do pragmatismo com a beleza do espetáculo, o que já ocorria nos anos 1960, discute-se muito, até hoje, a dicotomia, como se existissem dois futebóis, o do resultado e o do desempenho. Assim como há uma fetichização do jogo bonito, sem compromisso, há também uma fetichização do jogo linear, programado, com princípio e fim.

Independentemente das atuações e do resultado na final do Mundial de Clubes, entre Palmeiras e Chelsea, mesmo os dois times não sendo os maiores representantes do futebol mundial, as duas equipes tentaram praticar um jogo de construção e de invenção, com duas estratégias bem diferentes.

O Chelsea teve total domínio do jogo, como se esperava, com o Palmeiras marcando muito atrás, com uma linha de cinco defensores e com os dez jogadores no próprio campo, para tentar ganhar no contra-ataque, em um lance inesperado ou em uma bola parada. Quase fez 1 a 0 em um gol perdido por Dudu. As chances de gol do Chelsea também foram poucas. Na prorrogação, o time inglês, merecidamente, conquistou o título mundial.

Apesar de o Chelsea não ter feito um ótimo jogo e ter empatado por 1 a 1 no tempo normal, a partida confirmou a nítida superioridade dos grandes times europeus sobre as principais equipes brasileiras.

A estratégia do Palmeiras foi a esperada, a correta, pois era a que tinha mais chance de dar certo, mas faltou mais qualidade individual quando o time recuperava a bola e um pouco mais de troca de passes e de ousadia nos contra-ataques.


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