Outro dia, antes do início da guerra na Ucrânia, o jornalista americano Thomas Friedman escreveu que o melhor lugar para se acompanhar a crise é tentando entrar "na cabeça de Vladimir Putin".
Diversas pessoas já tentaram mapear essa cabeça, da alemã Angela Merkel à ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright. O presidente russo é frio como cobra.
Em dezembro de 1989, ele estava na sede da KGB, em Dresden, na falecida Alemanha Oriental, quando uma multidão se aproximou da casa. Ele foi para o portão, disse que era um intérprete e recomendou que fossem embora, do contrário seus compatriotas atirariam. Deu certo, mas não havia atiradores.
Dois anos depois a Alemanha Oriental se acabara, a União Soviética derretera e a Rússia perdera cerca da metade de seu produto interno. Putin havia voltado para São Petersburgo e trabalhava com o prefeito da cidade.
Para fechar o orçamento familiar, fazia bicos como motorista. Lembrando essa época numa entrevista, foi breve: "É desagradável falar sobre isso, mas infelizmente foi o caso".
Esse anônimo burocrata que viu o fim do império soviético e a exaustão do estado russo governa o país há 22 anos com mão de ferro.
Fortaleceu a economia e reequipou suas Forças Armadas. (Em 1991 o quartel do regimento Preobrazhensky, criado no século 18 e provado em todas as guerras russas, estava aos pandarecos. No dia de hoje, há 105 anos, os amotinados do regimento aderiram à Revolução Democrática de Fevereiro. Dias depois, o czar Nicolau 2º abdicou.)
Vendo-se a figura de Putin nos salões da Rússia imperial, vale a pena lembrar que Vladimir já teve que trabalhar como chofer para fechar as contas.
PROBLEMAS PARA AMANHÃ
Na melhor das hipóteses, a invasão da Ucrânia criou dois problemas para amanhã. Cada um para um lado da questão:
Putin deverá lidar com o movimento de resistência dos nacionalistas ucranianos.
Os países europeus deverão lidar com centenas de milhares, senão milhões, de refugiados em busca de fronteiras que estiverem abertas para recebê-los.
PRAZO DE VALIDADE
De quem já viu de tudo:
Putin tem no máximo uma semana para se livrar do peso de suas operações militares e iniciar conversações diplomáticas, mesmo que as conduza em segredo.
Em 1962, a crise dos mísseis soviéticos instalados em Cuba começou em outubro, com o presidente americano John Kennedy anunciando o bloqueio naval de Cuba.
O mundo passou dias à beira de uma guerra e parte da liderança soviética deixou Moscou.
No dia 27, o embaixador soviético Anatoly Dobrynin encontrou-se com Robert Kennedy, irmão do presidente. O diplomata ofereceu a retirada dos mísseis e pediu que os americanos tirassem seus foguetes da Turquia (eram 15).
Fecharam negócio, mas o lado turco do acerto deveria ficar em segredo, pois o país era membro da Otan.
No dia seguinte, Moscou anunciou a retirada dos mísseis.
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