Na semana passada, Lula inaugurou uma nova era no combate ao bolsonarismo. Mas um tema central na política brasileira passou batido: o meio ambiente.
Um fato curioso, dado que nenhuma bandeira está tão associada à renovação da centro-esquerda como a luta por uma reconstrução sustentável da economia.
Citado nominalmente no discurso do ex-presidente, Bernie Sanders lidera a nova geração responsável por impor a agenda climática dentro do partido democrata. Na administração Biden, ela é o denominador comum entre a ala progressista e centrista.
Outra líder mencionada pelo petista, a prefeita de Paris e presidenciável Anne Hidalgo foi reeleita graças a uma estratégia de “aquisição hostil” do eleitorado ambientalista.
Neste domingo, os verdes alemães consolidaram o seu poder vencendo duas eleições regionais e devem assumir um papel central no tabuleiro nacional na era pós-Merkel. Quem assumir a presidência do Brasil em 2023 terá de lidar com o “bloco verde” do Atlântico Norte.
Em breve, os atores nacionais vão sentir as consequências desses desdobramentos. Prevista para novembro, a COP26 vai selar a aliança do Ocidente e das potências asiáticas em torno de uma nova agenda climática. Ela vai enterrar a ilusão dos predadores da Amazônia que acreditam ser possível ignorar o novo paradigma global e manter o Brasil competitivo no comércio internacional.
As resistências devem cair até nos setores mais conservadores. A importância do Centro-Oeste cresce exponencialmente, mas sua base eleitoral é insuficiente para pesar de maneira decisiva na construção de alianças nacionais. Cada vez mais afetadas economicamente pelas insanidades diplomáticas de Ernesto Araújo, as lideranças do setor receberão com entusiasmo um projeto de multilateralismo sustentável.
Dos militantes que usavam estrelas verdes nas primeiras campanhas dos anos 1980 à participação do Brasil nas negociações do Acordo de Paris, passando pela atuação de Jaques Wagner no Senado, o PT tem uma longa história de ativismo ambiental. A guinada verde, porém, implica mudanças profundas na sua visão de desenvolvimento nacional. A barragem de Belo Monte, essa monstruosidade concebida pelos generais da ditadura e inaugurado pela presidente Dilma Rousseff, é um tipo de folia incompatível com a visão da centro-esquerda moderna.
Na Petrobras, os arcaísmos dos anos 1950 devem ser substituídos por uma estratégia corajosa de transição enérgica, que assuma a transição da empresa para a economia pós-petróleo. No Brasil e alhures, a crise climática oferece uma oportunidade única para a atualização programática da centro-esquerda.
Lula pode fazer a diferença na democratização da luta contra o aquecimento global. A última década deixou claro que a revolução verde não se fará com discursos pomposos repletos de expressões e siglas anglófonas como Green New Deal e ESG, mas através da mobilização das categorias populares. Mestre na arte de trazer os temas complexos para a sociedade, ele pode fazer da causa a força legitimadora do seu regresso aos palcos internacionais.
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