Livros sobre a antiga Hollywood falam de uma visita do escritor William Faulkner à MGM em 1934, a convite de um produtor que o admirava e achava que ele se daria bem como roteirista de cinema. Ao conduzi-lo pelo estúdio, o sujeito apresentou-o a Clark Gable, sem dizer suas ocupações. Nem precisava —Faulkner, aos 37 anos, era o autor dos explosivos romances “O Som e a Fúria” (1929), “Santuário” (1931) e “Luz em Agosto” (1932); Gable, aos 33, acabara de estrelar “Terra de Paixões”, com Jean Harlow, “Amor de Dançarina”, com Joan Crawford, e “Aconteceu Naquela Noite”, com Claudette Colbert, que lhe daria o Oscar.
Nenhum dos dois, como se vê, anônimo. Mas, depois de trocarem amenidades, Gable perguntou: “Qual é o seu ramo, Sr. Faulkner?”. Faulkner respondeu com naturalidade: “Sou escritor, Sr. Gable. E o senhor?” —o que fez Gable cair de seu 1,85 m. Mas é possível que Faulkner nunca tivesse mesmo ouvido falar dele. Sua cultura de artistas de cinema estacionara em 1918, tempos de Tom Mix, Theda Bara e Elmo (“Tarzan”) Lincoln, heróis de sua juventude.
A minha também —não em 1918, mas na década de 1980, quando me convenci de que, com o cinema entregue a George Lucas, Steven Spielberg e James Cameron, eu estourara o limite de idade de 13 anos exigido pelos filmes deles. Os anos seguintes, dominados por rambos, robocops e homens-aranhas, me levaram a ficar em casa, assistindo aos clássicos em VHS, laser disc e DVD. Cinco mil clássicos depois —aos olhos de hoje, qualquer filme de 1895 a 1980 é um clássico—, não me arrependo.
Significa que, se me apresentarem a George Clooney e não me disserem que é o próprio, ameaço, como Faulkner, dar vexame. Nunca vi um filme de George, mas sei muito bem quem é. É sobrinho da cantora Rosemary Clooney (1928-2002), de quem tenho uns 20 LPs e CDs. Ele talvez gostasse de me ouvir sobre minha paixão pela titia.
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