sexta-feira, 26 de março de 2021

Três sinais de que a velha TV tem muito a oferecer e a trocar com o streaming, Mauricio Stycer, FSP

 Lançado nos Estados Unidos em maio do ano passado, o serviço de streaming HBO Max tem previsão de chegada ao Brasil em junho deste ano. Ele reúne o conteúdo de uma série de canais do grupo WarnerMedia, como a própria HBO, Turner, CNN, Cartoon Network, entre outros.

A plataforma não é das mais populares no mercado americano, onde a assinatura custa US$ 15 (cerca de R$ 84), contra US$ 9 (R$ 50) do plano básico na Netflix, ou US$ 7 (R$ 40) do Disney+, por exemplo.

Por esse motivo, a empresa acaba de anunciar que vai lançar em junho uma versão do HBO Max com publicidade. Foi a forma encontrada para baixar o valor da assinatura e tentar popularizar o serviço. Ainda não foi informado o preço.

Logos da Disney+, Netflix, HBOMax e CBS
Logos da Disney+, Netflix, HBOMax e CBS - Reuters

Para quem está acostumado a ver séries e filmes online sem intervalos comerciais, foi um choque. Não à toa, Jason Kilar, CEO da WarnerMedia, prometeu que pretende "fazer as coisas elegantemente". Mas, numa conversa com acionistas, observou: "A maioria das pessoas neste planeta não é rica".

Streaming com publicidade lembra o quê? Televisão. Pois é. E este não é o único sinal de que a velha e boa TV serve de inspiração ou está orientando os executivos das novas empresas.

Muita gente credita parte do sucesso inicial do Disney+ (100 milhões de assinantes em 16 meses) à forma como tem lançado as suas séries originais. Em vez de pôr todos os episódios de uma só vez na plataforma, eles os têm oferecido em episódios semanais, como ainda ocorre na televisão.

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Tanto "The Mandalorian" quanto "WandaVision", as duas principais séries originais do Disney+ nesse período, foram lançadas dessa forma, a conta-gotas, ajudando a alimentar um burburinho por semanas seguidas nas redes sociais.

A decisão vai na contramão da política consagrada pela Netflix, que desde 2013 (com "House of Cards") põe todos os episódios de novas séries à disposição dos assinantes de uma vez só.

Um terceiro sinal de que a televisão tem muito a oferecer ao streaming pode ser visto aqui no Brasil, na experiência da Globo com o Big Brother Brasil –o da exibição de programação ao vivo online.

De forma explícita, a emissora tem criado situações no reality ("ganchos") que estimulam o espectador a desligar a televisão e, imediatamente, acionar o serviço online, onde o programa continua.

Não é o primeiro ano em que isso ocorre, mas em 2021 ganhou uma nova proporção –e trouxe novos problemas. O Globoplay não tem resistido, com a robustez necessária, a essa transição instantânea de público, deixando o espectador na mão. É o que, internamente, é chamado de "rajada".

"Ninguém no mundo faz esse processo de transferência de audiência. O programa termina com gancho para internet. Migração de dezenas de milhões [de pessoas] no mesmo minuto", disse Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo, em entrevista a este autor no UOL.

Segundo Barros, as seguidas falhas no serviço ocorreram por causa do sucesso maior do que o esperado. "Claro que estamos preparados para isso, mas não abrimos o programa preparados para a dimensão de migração de audiência que passamos a ter este ano."

Descontados os problemas tecnológicos, que devem ser superados, essa experiência de migração de audiência aponta para novos desafios da combinação entre a velha TV e os serviços de streaming: as transmissões esportivas e, num futuro próximo, creio, a exibição de novelas originais.

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