“Grande Dia!”, comemorou João Doria em uma mensagem disparada pelo WhatsApp e postada em suas redes sociais na manhã desta sexta-feira (26), ao reagir ao anúncio da criação da vacina do Butantan, que ainda depende de testes.
Eufórico, o governador de São Paulo e presidenciável tucano produziu sua própria versão de um “apito para cachorro”, como são chamadas as mensagens sutis direcionadas a públicos específicos que têm estado em voga entre os bolsonaristas ultimamente.
Neste caso, a provocação é a seu inimigo que ocupa o Palácio do Planalto e com quem deve travar embate no ano que vem. “Grande dia” é um conhecido slogan da base conservadora do presidente nas redes sociais para celebrar algum fato positivo ou espezinhar algum adversário derrotado.
A mensagem foi apenas o ápice de uma sequência de ações de Doria que surpreenderam mesmo os mais acostumados aos famosos dotes de marketing do governador.
Começou na noite de quinta-feira (25), com um comunicado enigmático enviado pela assessoria do tucano convidando para um anúncio na manhã seguinte sobre “avanços na pesquisa contra o coronavírus no Brasil”.
Duas horas depois, um vídeo estrelado por Doria e pelo diretor do Butantan, Dimas Covas, apresentava uma nova modalidade de comunicação, o teaser político.
“O Dimas nos trouxe aqui uma notícia espetacular, que nos enche de esperança em relação à saúde, à ciência e à vida dos brasileiros”, disse o governador, em mensagem de cerca de 1 minuto distribuída a seus contatos no WhatsApp.
Introdução feita, o tucano passou a palavra a Covas, que, em jogada ensaiada, apenas aumentou o clima de expectativa.
“É isso, governador, amanhã mais um anúncio de uma grande contribuição que vai fazer a diferença no curso dessa epidemia aqui no nosso país e vai ajudar a combater essa epidemia no mundo também”, afirmou.
O mistério só foi desfeito às 23h15, quando a Folha antecipou do que tudo aquilo se tratava, sendo seguida por outros veículos de comunicação.
Ao anunciar novidades como se fosse o Netflix antecipando uma nova série, o governador mostra estar buscando novos formatos para valorizar seu papel no combate à pandemia.
Não é algo que teve início agora. No início da crise, ele já havia criado a entrevista coletiva diária no Palácio dos Bandeirantes no horário quebrado das 12h45, feito para coincidir com o telejornal SP1, da Rede Globo.
Também é cada vez mais claro que o governador quer dominar a arte de amenizar as muitas notícias deprimentes da pandemia com o que dá para oferecer de novidades alvissareiras.
Coincidência ou não, o anúncio da conquista do Buntantan, com Doria presente, ocorreu poucas horas antes da prorrogação da fase emergencial do Plano São Paulo, desta vez sem a presença do governador.
Doria não parece se preocupar com acusações de que tem exagerado na marquetagem, feitas inclusive por correligionários como o deputado Aécio Neves (MG) e até o prefeito Bruno Covas, que recentemente defendeu “menos falação” no combate à pandemia.
Com a entrada em cena de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o desgaste de Bolsonaro, o tucano parece avaliar que é hora de elevar o tom.
Nas últimas semanas, ele passou a ser mais enfático contra figuras que até então eram relativamente poupadas de suas farpas, como o ministro Paulo Guedes (Economia). Também tem alfinetado em público a falta de produção em escala de outras vacinas, o que já incomoda a Fiocruz, responsável pela AstraZeneca.
Doria parece dar de barato que Lula estará no segundo turno em 2022 e que o momento é de ir para cima de um presidente fragilizado para ficar com a outra vaga. Se der certo, será seu verdadeiro grande dia.
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