Foi numa casa no centro de Ribeirão Preto que, ainda nos anos 60, os filhos de seu Raimundo e dona Guiomar começaram a chutar bolas na garagem, com um gol improvisado, para passar o tempo.
A vida no interior paulista era novidade para a família, que havia deixado o Pará após Raimundo ser transferido para trabalhar em Ribeirão. O casal não sabia, mas começava ali uma história que décadas depois resultaria na participação de dois filhos em três Copas do Mundo.
Guiomar Souza Vieira de Oliveira, a Guió, sempre foi vista pela família e por amigos como uma pessoa muito carinhosa, não só com seus seis filhos, todos homens —Sócrates (1954-2011), Sóstenes, Sófocles, Raimundo, Raimar e Raí.
O primeiro defendeu o Brasil nas Copas do Mundo de 1982 (Espanha) e 1986 (México), enquanto o caçula disputou a Copa de 1994 (EUA).
“Era uma figuraça, super mãe, não só dos filhos dela. Dois anos atrás, fizemos uma festa na data de aniversário do Sócrates e ela foi. Fazia tempo que não a via e achei que de repente ela não me reconheceria, mas falou ‘Ô Kaxassa, você eu conheço até pelo cheiro’”, disse Fernando Kaxassa, 60, amigo do ex-jogador do Corinthians.
Ele afirmou ter ficado mal ao saber da morte de Guió, ocorrida nesta quarta-feira (24), mas que guardará as melhores recordações dela.
“Uma vez ela questionou o fato de Sócrates querer dar o nome de Fidel ao seu filho mais novo, e eu disse que ela já tinha aceitado Sóstenes, Sófocles e Sócrates e que ele fazia questão de escolher o nome. Depois, com Fidel já grande, ela disse que não conseguia imaginá-lo com outro nome.”
Raí disse à Folha em 2015, quando completou 50 anos, que não imaginava chegar aos 100 anos e que sua mãe, à época com 94, estava “super bem” de saúde.
Segundo amigos, o ídolo são-paulino, aliás, estava fazendo visitas frequentes a Ribeirão para ver a mãe, impossibilitada de viajar devido à pandemia.
Em 18 de janeiro, Guió completou 100 anos e, no último dia 1º, tomou a segunda dose da vacina Coronavac, contra a Covid-19, o que foi celebrado pelo ex-jogador em redes sociais.
Também amigo de Sócrates —se formaram na mesma turma na FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), da USP—, o cardiologista Said Miguel Junior disse que Guió tratava todos os amigos do filho famoso com carinho e bom humor.
“Eu nunca a vi mal humorada. Mesmo quando chegávamos das gandaias no final da madrugada ela acordava bem humorada para servir o pessoal. Sempre foi uma mãezona”, disse. Segundo ele, Raí era o xodó, “por ter sido a rapa do tacho”.
Dona Guió morreu de causas naturais, em sua casa. O corpo foi enterrado nesta quinta-feira (25), no cemitério Bom Pastor, em Ribeirão Preto, onde também foram sepultados seu marido, Raimundo Vieira de Oliveira, e Sócrates. Ela deixa 5 filhos, 16 netos e 7 bisnetos.
Botafogo, clube em que surgiram Sócrates e Raí, Corinthians e São Paulo publicaram mensagens de pesar pela morte. Guió participou do primeiro evento das festividades do centenário do clube de Ribeirão, em 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário