quarta-feira, 24 de março de 2021

Presidente da CBF sai de seu mutismo para revelar-se discípulo de Bolsonaro, Juca Kfouri FSP

 Rogério Caboclo é adepto do perfil baixo, menos por ser discreto, mais por ser medíocre.

Inábil no trato da língua, é capaz de defender a continuidade dos campeonatos com frase que diz o contrário: “Eu não abrirei mão…de deixar de jogar as competições nacionais".

Tão deplorável como, ouvimos no vídeo vazado da reunião da CBF com os 40 clubes das séries A e B, no dia 10 de março, o repeteco do palavreado da famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020.

O delicado Caboclo sentenciou diante de plateia subserviente e docemente constrangida:“Vocês estão fodidos se não tiver futebol".

Lobinho em pele de cordeirinho, Caboclo candidatou-se a ditador da Casa Bandida do Futebol, trilha já percorrida em tempos idos por João Havelange e Ricardo Teixeira, de tristes fins.

Na prática, calou quem quis ponderar, como fez com o presidente formal do Palmeiras, mais uma vez no papel de Rainha da Inglaterra, ao enfiar o rabo entre as pernas, incapaz de mostrar ao tiranete que a gloriosa Sociedade Esportiva Palmeiras é a razão de ser da CBF e não o inverso.

Como só conhecemos pouco menos de 20 minutos da reunião, não se sabe como agiram outros cartolas, embora tenha ficado clara a parceria com o presidente do Flamengo.

Mas do Corinthians, o clube que um dia abrigou a histórica Democracia Corinthiana nos anos 1980, sabe-se ter aceitado sem tugir nem mugir ir jogar em Volta Redonda pelo Paulistinha, num estádio sede de policlínica que recebe eventuais pacientes infectados pelo novo coronavírus.

O Corinthians que andou batendo recordes de jogadores com a Covid-19. Quanta subserviência!

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O que remete nem à libertária Democracia Corinthiana, mas ao conservador, autoritário, saudoso e folclórico Vicente Matheus, que em 1979 peitou a Federação Paulista de Futebol, recusou-se a jogar em rodada dupla os jogos que definiriam os finalistas do campeonato se a maior parte da renda não revertesse ao clube de maior torcida e, em vez de ser sentenciado com W.O., viu a rodada ser desmembrada após ir à Justiça.

Como a Justiça demorou para julgar, as semifinais só puderam ser jogadas após as férias. O gesto soberano equilibrou o lado técnico com o superior Palmeiras, que acabou derrotado, e culminou com o 17º título alvinegro.

Outros tempos, outras colunas vertebrais, cujos donos levavam em conta a frase de Millôr Fernandes: “Quem se curva diante dos poderosos mostra o traseiro aos oprimidos”.

E Caboclo ainda lançou mão de mentiras, fake news como se diz modernamente, ao afirmar que a Rede Globo não queria paralisar os jogos, de resto algo que querer ninguém quer, para ter de engolir em seguida a nota oficial da emissora, com a informação de estar de acordo com aquilo que as autoridades de saúde determinarem.

Enfim, surpresas não há.

Em sendo quem é o genocida do Planalto, por que se escandalizar com mais um na Barra da Tijuca?

Estamos mesmo em péssimos lençóis.

O negacionismo é sócio da necropolítica e os 300 mil mortos não comovem aqueles que só pensam em cifras.

No caso da CBF é mais grave, porque bilionária não divide seu bilhão com os clubes mais necessitados.

Caboclo e sua turma seguem na condução do futebol ao abismo.

Que os deuses dos estádios nos protejam.


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