Para a tristeza de alguns cérebros peregrinos que continuam a tentar "organizá-la", a história não obedece a relações de causalidade. Empiricamente, ela conforma-se mais com uma sucessão de acidentes aleatórios para os quais, posteriormente, nosso cérebro, treinado para nos enganar, arquiteta causalidades para que a narrativa proporcione algum conforto.
Nos idos dos anos 40 do século passado, um pequeno acidente (um preconceito de gênero) presenteou a recém-criada FEA-USP com a professora de história econômica Alice Piffer Canabrava. Sua honestidade profissional, seu comportamento espartano, sua enorme capacidade de trabalho e sua dedicação a quem mostrava interesse estimularam o crescimento de toda uma "escola" que rejeita o "achismo" e vai buscar os fatos nos documentos. Um dia (creio que em 1955), Alice me confidenciou que "até aqui, tudo o que sabemos sobre a história da Colônia é obra de imaginosos romancistas".
Por isso iniciara uma pesquisa que pretendia revelar o que, empiricamente, se poderia dizer sobre a Colônia. Exigente consigo mesma, não chegou a pôr ordem no imenso material que colheu ao longo de décadas. Ele se encontra sob a guarda do Instituto FHC: um tesouro à espera de um investigador inteligente e ambicioso que fará com ele o seu nome.
A história recente carece, também, de mais cuidado do que os "clichês" que supõem que a política de substituição de importações vigorou no Brasil de 1950 até a "abertura" de Collor. Toma o período 1950-1984 como único, quando teve pelo menos três políticas distintas. Ignora a grande mudança da política de exportação enfatizada a partir de 1967 com: 1. reforma das tarifas efetivas; 2. a nova política cambial; 3. a completa desoneração das importações dos insumos das exportações; 4. a devolução total dos impostos internos nas exportações; 5. a agilização do crédito às exportações.
Os resultados foram muito bons. As exportações cresceram à taxa de 25% ao ano, a de produtos industriais brasileiros/exportações industriais do mundo, à taxa de 15% ao ano, e o Brasil, a 7% ao ano.
Os fatos podem ser encontrados num velho livro da insuspeitíssima Anne O. Krueger, "Liberalization Attempts and its Consequences", de 1978 (págs. 277-296). Isso reduzirá o nível de fantasia que envolvem as comparações ligeiras entre Brasil e Coreia do Sul, que ignoram o papel da abertura comercial americana a ela para conter o avanço da URSS. No nosso caso, por exemplo, os EUA nunca se conformaram nem aceitaram a indústria de café solúvel brasileira, "porque ela faria concorrência desleal à americana". Ah, essa história sem documentos!
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