Desde 1889, quando depuseram monarca moribundo, militares assombram a República
Joaquim Nabuco (1849-1910) frustrou-se com o levante militar que inaugurou a República em 1889. A 7 de setembro do ano seguinte, o líder liberal que ajudara um gabinete conservador a abolir a escravidão escrevia ao Jornal do Comércio para justificar por que fora e ainda continuava a ser monarquista.
“Por prever que a monarquia parlamentar só podia ter por sucessora revolucionária a ditadura militar, quando a sua legítima sucessora evolutiva era a democracia civil; por pensar que a República seria no Brasil a pseudo-República que é em toda a América Latina.”
E emendava o político, escritor e diplomata pernambucano: “A causa da altivez com que todo brasileiro olhava para o imperador era a certeza de que ele nada podia tentar contra o último dos cidadãos”.
Bingo. Nabuco, mais liberal que monarquista, fornecia a chave para o sucesso dos regimes abertos que se consolidavam no Ocidente: a morte de direito, mas não necessariamente de fato, da figura imperial.
Ela pode até caminhar entre os seres humanos, como o monarca britânico e o tardio Pedro 2º idealizado por Nabuco, mas perdeu os dentes. Tornou-se o emblema de um superpoder que se esvaziou e se pulverizou pela comunidade política. Atua como o lembrete da vitória definitiva da cidadania sobre a tirania.
Não há dúvida de que a República atingira o mesmo fim nos Estados Unidos e na Suíça, argumenta Nabuco. Ele também concede que democráticos eram os ideais originais do Partido Republicano no Brasil.
No entanto “o primeiro grande contingente que ele recebeu”, o apoio de escravocratas ressentidos, “fê-lo perder de vista o povo; e o segundo contingente, o do Exército, que o tornou vencedor sem combate, fê-lo perder de vista a própria República”.
O golpe de 15 de novembro de 1889 substituíra um imperador moribundo por um vigoroso monarca coletivo e fardado. Essa praga tem assombrado a nossa história desde então.
Ou o Brasil mata o imperialismo militar ou a República não florescerá.
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