segunda-feira, 22 de junho de 2020

O que aprendemos (e o que não) com a gripe espanhola de 1918, FSp ( com vídeo)

Henrique Santana
SÃO PAULO

No dia 7 de outubro de 1918, o New York Times publicou uma reportagem alertando seus leitores sobre uma epidemia que as autoridades de saúde do país não entendiam muito bem. Uma moléstia que se espalhava rapidamente, fazendo instituições de ensino suspenderem suas aulas, comércios fecharem as portas e teatros serem proibidos de fazer apresentações ao público.

A notícia reportava a disseminação da gripe espanhola pelo país durante os últimos anos da década de 1910, em um retrato muito similar ao que se observou durante a pandemia causada pelo novo coronavírus.

Sem vacinas ou medicamentos para combater a gripe de 1918, as autoridades públicas da época também se viram obrigadas a adotar intervenções sanitárias rigorosas para conter o surto. Mas apesar dos cem anos que separam as duas epidemias, as iniciativas tomadas no início do século passado não foram muito diferentes das atuais.

“As medidas que foram adotadas fazem parte do protocolo da Organização Mundial da Saúde nos dias de hoje. Ou seja: quarentena, as instituições são fechadas, os teatros foram fechados e lavados com desinfetantes, a população foi aconselhada a usar máscaras e ficar o máximo que podia nas suas casas. Então, ainda que as políticas não tenham sido tomadas de maneira antecipada, elas são muito semelhantes ao que nós vemos hoje”, afirma a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz.

Doutora em antropologia social e coautora do livro "Brasil: uma biografia", ao lado da historiadora Heloisa Starling, Schwarcz concedeu entrevista à Folha para a produção de uma reportagem em vídeo sobre o período. A produção reuniu o relatos de historiadores, dados sobre a epidemia e pesquisa em acervos de jornais para investigar os paralelos entre os dois surtos virais.

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A historiadora Christiane de Souza, doutora em História da Ciência pela Casa de Oswaldo Cruz, pondera sobre a necessidade de diferenciar os dois períodos. “Na década de 1930, por exemplo, foi inventado o microscópio. A partir daí foi possível entender que existiam vírus e doenças que eram transmitidas por vírus."

“De qualquer forma, me parece que há esse legado das pandemias que nos antecederam. Elas mostram que, se a gente não tem uma bala mágica, um remédio que vai atuar naquele agente patogênico, a gente tem que evitar a circulação do vírus. Ficar em casa para evitar que todos adoeçam ao mesmo tempo, porque não tem sistema de saúde que possa fazer frente à isso”, completa a pesquisadora.

Já Schwarcz argumenta que relembrar epidemias que afetaram o país no passado pode auxiliar na compreensão do momento atual. “Terminada a pandemia de 1918, a população foi às ruas e esqueceu muito rapidamente do que foi a gripe espanhola. Eu acho que o que nós precisamos fazer no Brasil é um esforço para não esquecer”, diz.

“Na história nós sabemos que as pandemias vão e voltam, mas o que impressiona é a teimosia humana. Ou seja, que não se prepara e não pensa que é preciso constituir um exército sanitário de reserva para estar à frente da pandemia, e não correndo atrás dela”, conclui.

A imagem é dividida em ao meio verticalmente. Na esquerda, o ano 2020 e na direita 1918. Nas duas imagens, médicos cuidam de pacientes, porém na da direita os recursos são menores, assim como os equipamentos de proteção do médico
Doenças do passado ajudam a compreender atual epidemia de coronavírus - TV Folha

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