A eleição nos EUA tem um impacto tão grande na vida das pessoas do mundo inteiro que todos deveriam votar. É o que prega o dito popular. Nesse momento atípico em que vivemos, essa máxima é ainda mais verdadeira.
E terá enorme impacto no Brasil, sobretudo se Trump não se reeleger, dada a relação de dependência do governo brasileiro. Nas últimas semanas, consolidou-se o desgaste do presidente americano, o que foi evidenciado na pesquisa do Instituto Gallup, com queda de dez pontos na sua aprovação, chegando a 39%. Antes da pandemia, Trump tinha 49%, o que lhe conferia boa chance de reeleição.
A combinação do grande número de mortes por Covid-19 —tratado com desdém por Trump—, a crise econômica com mais de 20 milhões de desempregados neste período e a reação desastrada e insensível à violência policial contra negros, foram a gota d'água para a redução de sua popularidade. Além disto, ele começa a perder apoio dentro do próprio partido, de grupos de republicanos que enxergam a política personalista de Trump um fator inibidor da defesa do liberalismo que sempre caracterizou o partido. Portanto, é concreta a possibilidade de Trump perder as eleições, o que alterará as diretrizes políticas no mundo.
Donald Trump minou o multilateralismo e apostou nas relações bilaterais. Em um mundo extremamente desigual fez valer o poder militar e econômico, desavergonhadamente. O confisco pelos EUA de respiradores e equipamentos destinados a outros países na pandemia foi só o mais recente comportamento antiético, inaceitável a qualquer tempo.
As crises que vivemos e viveremos não respeitam fronteiras de países, são planetárias e têm origem em um modelo que não tem limites, predador de florestas e da biodiversidade, e gerador de exclusão da maioria da população. Insustentável, portanto, social e ambientalmente.
A pandemia e a maneira desigual com que atingiu as pessoas são prova disso. No Brasil, o risco de morte tem relação direta com o endereço e a renda das pessoas. E com a crise climática não será diferente. Ela é só mais paciente. As políticas de enfrentamento destes problemas globais causados pelo modo de viver dos humanos exigem lideranças à altura dos desafios. Precisamos cada vez mais de líderes políticos e empresariais com uma visão mais integrada dos problemas para podermos enfrentá-los.
No Brasil, Bolsonaro também teve grande desgaste desde o início da pandemia, há três meses. Da mesma forma que Trump, desdenhou o impacto da doença que já provocou mais de 50 mil mortes. A crise econômica surge com enorme proporção registrando o aumento de 4,9 milhões de desocupados até abril e deverá se aprofundar.
Além disso, os problemas políticos potencializam a desaprovação que, se não aparece na pesquisa Datafolha, surge quando se percebe que somente 22% de seus 33% de atuais apoiadores votaram nele. Além disso, a sucessão de fatos negativos vem provocando um raro alinhamento das instituições: STF, STE, Congresso e boa parte da mídia têm em comum posicionamentos críticos ao governo federal.
No momento das eleições municipais de 2020, que deverão ocorrer em novembro e dezembro, o cenário provável registrará mais de cem mil mortes, desemprego de aproximadamente 20 milhões de pessoas e queda do PIB de 6% a 10%, a pior de toda série histórica. Neste contexto, o debate das eleições será dominado pelas propostas de enfrentamento da pandemia e não deixará de funcionar como referendo ao Governo Federal. É grande a chance de mudança na atual correlação de forças políticas no país.
Foi lançada na semana passada, com o apoio de dezenas de entidades da sociedade civil a campanha "Eleições seguras: Democracia é atividade essencial". Defende o respeito à Constituição, a importância da realização das eleições neste ano e, ainda, medidas de segurança que considerem a atual crise sanitária.
Vivemos um momento inusitado em nossa história. Estamos percebendo a importância da política, para o bem e para o mal, e sua inegável capacidade de construir políticas públicas em escala para o enfrentamento de desafios da proporção desse que vivemos. A pandemia evidenciou problemas que já existiam em nossa sociedade e a eleição será uma oportunidade para debater propostas que encaminhem soluções.
A definição de onde investir, em quem investir, de onde virão os recursos e a prioridade dos investimentos, alimentarão os debates. O que poderá resultar em governos mais alinhados às reais necessidades da população, sobretudo a mais vulnerável. Foi nas cidades que a pandemia apareceu com mais força e será nas cidades que poderemos enfrentá-la, atuando nas desigualdades estruturantes que nos deixam vulneráveis como sociedade e limitam qualquer possibilidade de desenvolvimento mais ambicioso.
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