Nesta quarta-feira (24) completam-se dois meses da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Parece que foram dois anos.
De lá para cá, no meio de uma epidemia, caíram dois ministros da Saúde e escafedeu-se o da Educassão. Isso, esquecendo-se a novela de Regina Duarte. O czar da Economia está atordoado, prestes a abandonar a emenda constitucional que aliviaria as finanças de estados e municípios. Do outro lado do balcão há mais de um milhão de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e 12 milhões de desempregados.
Desde o dia em que assumiu a Presidência, Jair Bolsonaro sabe que precisa respeitar a primeira Lei de Delfim Netto: “Tem que abrir a quitanda às nove da manhã com beringelas para vender a preço razoável e troco na caixa para atender a freguesia”.
Entra-se na quitanda e lá discutem-se as prerrogativas do Judiciário, o silêncio de Fabrício Queiroz, o paradeiro de sua mulher, a fidelidade de Frederick Wassef e as virtudes da cloroquina. Beringelas? Só quando se souber o que será colocado no lugar do Pró-Brasil, aquele ex-Plano Marshall. Troco? Só quando o gerente e o caixa chegarem a um acordo a respeito do valor do auxílio para os “invisíveis”. O secretário do Tesouro está de malas prontas.
Depois de encrencar com meio mundo, Bolsonaro diz que a imagem do Brasil “não está boa” porque há muita desinformação. Está ruim porque seu governo ampara os agrotrogloditas que dificultam os negócios de empresas competitivas e até mesmo a vida de sua ministra da Agricultura, obrigada a apagar incêndios da Europa à China. Nas palavras do presidente da Cargill, a maior exportadora de soja e milho, “é preocupante ver oficiais do governo insultando nosso principal cliente”.
Se a quitanda está emperrada por desinformação, ela vem do governo. Em agosto de 2019, quando começaram as trapalhadas do governo o empresário Blairo Maggi avisou: “O governo não fez nenhuma mudança aqui internamente, não facilitou a vida de ninguém, no entanto estamos pagando um preço muito alto. Acho que teremos problemas sérios. Não tem essa que o mundo precisa do Brasil”.
Maggi conhece todos os cantos da quitanda, é um dos maiores produtores de grãos do país, foi senador, ministro da Agricultura e governou Mato Grosso.
Esticando cordas, o capitão atrapalhou até a vida de parte de sua base de apoio nas Forças Armadas. Cumpriu uma escrita fracassada, confundindo generais de palácio (reservistas, em muitos casos) com generais de quartéis.
Nos últimos dias, de Bolsonaro e de sua família, partiram mais elogios a Fabrício Queiroz e ao doutor Wassef do que a todos os seus ministros. Assef e Abraham Weintraub foram os únicos colaboradores a quem se deu direito a uma saída honrosa. Ela foi negada a Sergio Moro e a Luiz Henrique Mandetta. A audácia do breve Nelson Teich construiu-lhe na saída uma honra que a entrada no ministério não lhe havia concedido.
É compreensível que os Bolsonaros queiram se dissociar dos milicianos com quem se meteram, mas é necessário que o presidente se associe à administração. Seria boa ideia ouvir a canção de Carlos Lyra: “Vou pedir ao meu babalorixá / Pra fazer uma oração pra Xangô / Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou”.
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