Para Bolsonaro, nós, paisanos, somos brasileiros de segunda classe
No domingo, 21, Jair Bolsonaro tomou um jato da FAB em Brasília e veio ao Rio para o velório de um paraquedista morto na véspera —preso na aeronave ao saltar; quando se soltou, o paraquedas não abriu e ele foi ao solo. Usando o infeliz soldado como pretexto, Bolsonaro, de pífia carreira militar, fez um discurso falando em nome das Forças Armadas e, mais uma vez, deu a entender que elas intervirão se o “povo” —seus apoiadores no chiqueirinho do Alvorada— for contrariado.
É reconfortante saber que Bolsonaro se comoveu com a morte de um cidadão brasileiro, a ponto de requisitar avião, gasolina e tripulação oficiais e voar 935 km para homenageá-lo. Já poderia ter feito o mesmo com pelo menos um dos 52 mil brasileiros mortos pela Covid-19 e sem deslocamento tão dispendioso. Bastaria acionar a equipe que filma suas lives em palácio. Mas não o fez, talvez porque tais mortos —de quem não se sabe quantos são homens ou mulheres, brancos ou pretos, velhos ou jovens— sejam, para ele, brasileiros de 2ª classe.
Esta é uma das características menos percebidas de Bolsonaro: sua aberta adesão aos assuntos da caserna, em detrimento dos interesses de um contingente que deve compor 90 por cento da população —o nosso, o dos reles paisanos.
É assim que, enquanto seu governo se dedica a arrasar a educação, a saúde, o meio ambiente, os indígenas, o patrimônio histórico, a cultura e as relações internacionais, os militares —que, no passado, costumavam ser atentos a tais problemas— não têm do que se queixar.
Não são só os 3.000 fardados infiltrados no Executivo, a maioria em cargos para os quais são tão preparados quanto um civil para lubrificar canhão. São também os soldos bem protegidos pelas reformas econômicas, os quartéis nos trinques, as espadas tinindo nas recepções. Em troca disso, Bolsonaro só lhes exige vista grossa e continência.
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