O que pode ser tão normal quando 50 mil brasileiros perderam a vida?
A Suécia, cujo governo relaxado ou confiante demais contou com a responsabilidade do povo e não impôs medidas de restrição durante a epidemia do coronavírus, já acumula 500 mortos por milhão de habitantes. Isto corresponde a mais mortos por milhão do que os ocorridos nas vizinhas Noruega e Dinamarca juntas.
A França também preocupa, pois recupera, após a volta às aulas, mais de 400 novos casos nos últimos dias, ultrapassando o número observado na Itália, na Espanha e no Reino Unido no mesmo período. A Europa está com medo do efeito rebote. Já na China, 25 novos casos foram detectados em Pequim, na sexta feira passada, contaminados com um coronavírus de origem europeia. Ou seja, o vírus saiu da China, passeou pela Europa e voltou… Já são 193 casos só em Pequim. O fogaréu causado pela Covid-19 está demorando a ser apagado, e a “segunda onda” parece já ter chegado nos lados de lá do Atlântico e do Pacífico.
E o Brasil? Em que onda é que fica? Enquanto os europeus só afrouxaram o isolamento quando a curva de suas mortes estava descendente e, mesmo assim, se preocupam agora com o retorno de casos e com a ausência de vacinas ou remédios adequados, o nosso país continua altivo, orgulhoso, aumentando o número de infectados e de mortos diariamente. É o segundo país mais infectado do mundo, mas é só o sexto mais populoso! O Brasil tem mais de 1 milhão de infectados e 1.250 mortos por dia, mas ainda assim o governo flexibiliza o isolamento social.
A que se deve isto? A resposta é simples: à verdadeira incompreensão pública da gravidade do coronavírus e da doença que ele causa. A folga obtida no número de leitos de UTI, por exemplo, não é compatível com a falta de anestésicos necessários para entubar um paciente severo. Os testes sorológicos disponíveis no mercado, preconizados a torto e a direito, ainda não são rigorosos o suficiente para revelar se um indivíduo está infectado pelo coronavírus, por outro microrganismo causador de uma doença respiratória distinta, ou ainda se é simplesmente negativo.
Os leigos afirmam tudo saber, se insurgem e dispensam ensinamentos de cientistas, do pessoal da linha de frente e de médicos, preferindo ignorar os mais simples princípios de preservação do próximo. Esta semana fui testemunha desta falta de conhecimento e de lucidez. Por exemplo, alguns acreditam que a Covid-19, quanto mais severa, evolui para Covid-20, 21, podendo chegar à Covid-35!
Outros, agradecem a Deus quando o diagnóstico revela que, ao invés da Covid-19, seus parentes “só” estão acometidos pela dengue hemorrágica. Os condomínios pressionam síndicos para que flexibilizem o isolamento social, as lojas são abertas e o povo vai para as ruas. As máscaras, de todas as cores, são usadas como adereços no pescoço, penduradas nas orelhas, ou simplesmente ignoradas… Tudo isto na mais total leviandade patriótica!
Segundo o governo, entramos numa nova fase em busca do “novo normal”. Que estranha a sensação sobre este estado de normalidade contemporâneo! O que pode ser tão normal quando em apenas três meses 50 mil brasileiros perderam a vida? Entre outras esquisitices, é normal trocar quatro secretários de Estado da Cultura, dois ministros da Saúde, um ministro da Justiça e um ministro da Casa Civil em meros 18 meses. É também normal indicar para a direção executiva do Banco Mundial, lá nos Estados Unidos, um ministro que, acusado de racismo e de ameaçar a suprema corte brasileira, escapole do país antes de sua exoneração. Talvez seja por essas e outras extravagâncias que o Brasil divide em toda normalidade com seu irmão americano do norte os primeiros lugares no fracasso mundial do combate à pandemia do coronavírus!
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