terça-feira, 30 de junho de 2020

Sobre oligopsônios e entregadores, alguns números, FSP


João Sabino

Líder de políticas públicas do iFood

A pandemia expôs com mais intensidade as vulnerabilidades de significativas parcelas da sociedade brasileira. Pautas sobre melhorias das condições de trabalho ganham a atenção dos meios de comunicação. A paralisação dos entregadores de delivery, convocada para esta quarta-feira (1º de julho), se enquadra nessa categoria.

O economista e colunista da Folha Rodrigo Zeidan, discorrendo sobre danos às relações trabalhistas, afirmou que o modelo de negócio das plataformas de delivery promove um “oligopsônio” (poucas empresas são compradoras, neste caso, do serviço dos entregadores), com o poder de baixar “na marra” as remunerações dos trabalhadores e que, quanto maiores os apps, menores são os ganhos dos entregadores. Tal discussão, tão relevante e contemporânea, foi tratada pelo articulista sem usar números locais do setor de entrega de comidas.

Entregadores do iFood em São Paulo
Entregadores do iFood em São Paulo - Karime Xavier - 24.mar.2020/Folhapress

No Brasil, 90% das entregas de comida ainda são feitas pelos próprios restaurantes. O surgimento dos apps amplia a competição pela contratação dos entregadores e aumenta os ganhos desses trabalhadores, e não o contrário.

Há oligopsônio quando apenas 10% do mercado de entrega de refeições conta com a participação dos aplicativos e quando sua fatia é disputada por ao menos cinco plataformas? Além disso, afirmar genericamente e sem qualquer fonte de dados que milhares de entregadores trabalham 200 horas mensais para ganhar “miséria” não só é incorreto como não contribui para o bom debate.

O iFood é uma empresa brasileira nascida em 2011. Maior “foodtech” da América Latina, não poderia deixar de se manifestar sobre o tema. A plataforma está presente em mais de mil cidades e promove renda para mais de 2 milhões de pessoas, entre entregadores que trabalham com o app (170 mil), entregadores dos próprios restaurantes e demais funcionários e empreendedores desses estabelecimentos.

Os entregadores que trabalham com o iFood ficam com o aplicativo ligado, em média, três horas por dia e têm ganhos médios de R$ 9,50 por hora online. Se consideradas apenas as horas trabalhadas, o valor sobe para R$ 21 por hora, ou mais de quatro vezes o preço-hora implícito no salário mínimo. Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 9 em 10 entregadores prezam tanto a flexibilidade de horário como a liberdade para compor e ampliar sua renda mensal. Na mesma pesquisa, 9 entre 10 pretendem seguir fazendo entregas mesmo após a pandemia. Antes de surgirem as pautas da paralisação, o iFood já oferecia aos entregadores seguro de vida e contra acidentes e auxílio saúde. Na pandemia, já foram distribuídos 800 mil itens de proteção, como máscaras e álcool em gel. Também foram criados fundos para manter em casa os entregadores que fazem parte de grupos de risco ou que foram contaminados pela Covid-19.

Iniciativas como essas trazem reconhecimento. De acordo com mensuração feita em junho pela RepTrak Company, renomada empresa de pesquisa, a reputação do iFood na visão dos entregadores superou os 70 pontos, resultado equivalente ao das melhores empresas do país. Nem por isso estamos satisfeitos. Há muito o que fazer na base do diálogo. Aplicativos de delivery, poder público e entregadores devem ser corresponsáveis e cocriadores da nova ordem. O iFood está à disposição.

Nenhum comentário: