domingo, 14 de junho de 2020

Está em curso um momento de cretinismo das massas inebriadas pela paixão política, Elio Gaspari

Estupidez nada tem a ver com manifestação política contra racismo, é apenas estupidez

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Está em curso um momento de cretinismo das massas inebriadas pela paixão política. Nos Estados Unidos, decapitaram uma estátua de Cristóvão Colombo. Na Inglaterra, jogaram num rio o bronze de um comerciante de escravos do século 19. Estupidez nada tem a ver com manifestação política, é apenas estupidez.

Racistas vandalizam estátuas de Martin Luther King, e em 1871 a Comuna de Paris derrubou a coluna da praça Vendôme que celebrava a vitória de Napoleão na batalha de Austerlitz. (Felizmente
ela foi reconstruída.)

Funcionário lava inscrição 'era um racista' do pedestal de estátua de Churchill, em Londres
Funcionário lava inscrição 'era um racista' do pedestal de estátua de Churchill, em Londres - Justin Tallis - 8.jun.20/AFP

Dói ver a polícia protegendo as magníficas estátuas de Winston Churchill em Londres e em Praga, em cujos pedestais picharam que ele era racista. Era, mas ajudou a salvar a civilização ocidental
quando parecia que o nazifascismo dominaria o mundo.

O traficante de escravos não deveria ser homenageado e sua estátua não deveria ter sido jogada no rio. Não era preciso. Os russos ensinaram ao mundo como lidar com esse problema. Depois do colapso da União Soviética, as estátuas dos dirigentes comunistas foram retiradas de seus pedestais e colocadas num parque. (Um dos bons negócios do início do século foi comprar a preço de banana quadros de alguns pintores do realismo socialista soviético.)

Na cidade do México há uma estátua do rei espanhol Carlos 4° e no seu pedestal uma placa informa que ela está ali pelo seu valor artístico.

Fizeram melhor os brasileiros. Dona Maria 1ª, rainha de Portugal, mandou enforcar o alferes Joaquim José da Silva Xavier. Seu neto homenageou o pai (dom Pedro 1°) com uma linda estátua equestre na praça da Constituição. Veio a República e a Casa dos Bragança foi desterrada, mas a estátua de dom Pedro ficou lá, na praça à qual foi dado um novo nome, o de Tiradentes.

TRUMP DERRETE

Donald Trump achou que teve uma boa ideia quando ameaçou botar as Forças Armadas americanas nas ruas diante dos atos de vandalismo praticados durante os protestos contra o racismo. A ideia parecia tão boa que o general Mark Milley, a mais alta autoridade do serviço ativo, acompanhou-o
numa de suas palhaçadas.

Passados alguns dias, Milley desculpou-se: “Eu não deveria estar lá”.

Esse episódio poderá vir a ser um marco no derretimento da candidatura de Trump à reeleição.

Decreto para permitir ao Exército operar com aeronaves de asa fixa foi lambança de Bolsonaro

Tendo colocado um general na Saúde, presidente deveria escolher um médico para aconselhá-lo em assuntos militares

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Tendo colocado um general no ministério da Saúde, Jair Bolsonaro deveria escolher um médico para aconselhá-lo em assuntos militares. Fazendo isso, evitaria lambanças como a que produziu assinando um decreto que permitia ao Exército operar com aeronaves de asa fixa.

Assinou o decreto no dia 2 e revogou-o uma semana depois. No escurinho de Brasília e na confusão da epidemia, passava-se uma boiada que criaria a aviação do Exército.

A incorporação de aeronaves às forças de terra e de mar é uma velha encrenca doutrinária. Caxias usou balões fixos na Guerra do Paraguai, antes do voo do primeiro avião. O Exército teve uma aviação e seu patrono é o tenente Ricardo Kirk, que em 1915 morreu ao cair em Caçador (SC), combatendo os
revoltosos do Contestado.

A Força Aérea não gosta da ideia de aviões com a Marinha ou com o Exército. Em 1964 o marechal Castello Branco teve que descascar o abacaxi da aviação embarcada que tripularia o navio aeródromo Minas Gerais.

Nessa crise, um capitão da FAB metralhou o rotor de um helicóptero da Marinha que pousou na base gaúcha de Tramandaí. Esse foi o único incidente em que os desentendimentos militares ocorridos durante a ditadura tiveram tiros. Em todos os outros as questões foram resolvidas por telefone.

O presidente Castello Branco viu no episódio “um deplorável estado de espírito” de “vários elementos da Marinha e da Força Aérea Brasileira”. Em poucos meses caíram dois ministros da Aeronáutica
e um ministro da Marinha.

Finada a ditadura, durante o comando do general Leônidas Pires Gonçalves, sem quaisquer atritos, o Exército organizou uma força de helicópteros que vai muito bem, obrigado. Iam assim as coisas, até que alguém teve a ideia do decreto que daria aviões à tropa terrestre.

Como era previsível, a FAB incomodou-se e certamente a Marinha também não gostou. Se uma iniciativa desse tamanho tivesse sido tomada com algum debate público, cada lado teria bons argumentos. Depois da canetada, o melhor caminho foi pegar a Bic para revogá-la.

Bolsonaro fala em “minhas Forças Armadas”. Elas não são suas, mas o capitão precisa saber o que fazer com elas. Vá lá que batalhe pela cloroquinaque ouvisse seu ministro da Educassão e tentasse passar a boiada das nomeações de reitores.

A ideia de equipar a aviação do Exército é velha. Tratar essa questão com uma canetada foi um despropósito, tanto assim que nunca havia sido tentado. Se Bolsonaro tivesse consultado um médico antes de assinar o decreto, certamente teria sido dissuadido.

SAUDADES DE TEICH

Era pedra cantada que o ministro Luiz Henrique Mandetta deixaria saudade. O que ninguém esperava era sentir saudades do doutor Nelson Teich.


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