Por que ninguém se lembrou dos cem anos da morte de Emilio de Menezes?
Quando Olavo Bilac morreu, no dia 28 de dezembro de 1918, o Brasil achou que lhe roubavam um pedaço de sua alma. Ele era nacionalmente adorado. Naquele dia ninguém acreditaria se lhe dissessem que, em 2018, o centenário de morte de Bilac passaria em branco. Ou que, graças a uma brutal campanha de desqualificação, o Brasil deixaria de amar sua poesia. Se a morte de Bilac foi esquecida, era inevitável que outro poeta celebérrimo daquela época também tivesse seu centenário de morte, no dia 5 de junho último, ignorado: Emilio de Menezes.
Como Bilac, Emilio pertencia à já moribunda escola parnasiana. A diferença era que a poesia de Bilac era um hino à sensualidade e à beleza, ao passo que a de Emilio era uma cócega nas axilas. Foi talvez o maior humorista da poesia nacional. Assim como, em 1924, Oswald de Andrade inventaria o poema-piada, Emilio era o mestre do soneto-piada —sátiras tão mortais quanto, só que em versos de métrica e rimas perfeitas.
Também como Oswald, Emilio era exuberante, gordo, portador de dois ou três queixos, e disparava trocadilhos de improviso em qualquer situação. Mas, como todos os poetas de sua geração, foi limado da história pelos modernistas de 1922. Para estes, Emilio era o passado. Não valia nada. O próprio Oswald definiu-o, em 1933, como um “palhaço da burguesia”. Mas, em outros tempos, quando vinha com frequência ao Rio expressamente para ouvi-lo e beijar-lhe as mãos, sua visão era diferente.
“Emilio, quero viver muito tempo para que, velho, passando pela tua estátua, eu possa dizer aos moços que te conheci de perto, e explicar que, homem, eras ainda maior que o poeta. A glorificação que te trarão os teus versos será bem mesquinha, decerto, por maior que seja, ao lado dos templos que se irão erguendo para o teu culto no coração dos teus amigos.”
Carta enviada em 1913 para Emilio de Menezes por Oswald de Andrade.
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