domingo, 23 de dezembro de 2018

O inventor do soneto-piada, Ruy Castro , FSP

Por que ninguém se lembrou dos cem anos da morte de Emilio de Menezes?

Quando Olavo Bilac morreu, no dia 28 de dezembro de 1918, o Brasil achou que lhe roubavam um pedaço de sua alma. Ele era nacionalmente adorado. Naquele dia ninguém acreditaria se lhe dissessem que, em 2018, o centenário de morte de Bilac passaria em branco. Ou que, graças a uma brutal campanha de desqualificação, o Brasil deixaria de amar sua poesia. Se a morte de Bilac foi esquecida, era inevitável que outro poeta celebérrimo daquela época também tivesse seu centenário de morte, no dia 5 de junho último, ignorado: Emilio de Menezes. 
Como Bilac, Emilio pertencia à já moribunda escola parnasiana. A diferença era que a poesia de Bilac era um hino à sensualidade e à beleza, ao passo que a de Emilio era uma cócega nas axilas. Foi talvez o maior humorista da poesia nacional. Assim como, em 1924, Oswald de Andrade inventaria o poema-piada, Emilio era o mestre do soneto-piada —sátiras tão mortais quanto, só que em versos de métrica e rimas perfeitas. 
Também como Oswald, Emilio era exuberante, gordo, portador de dois ou três queixos, e disparava trocadilhos de improviso em qualquer situação. Mas, como todos os poetas de sua geração, foi limado da história pelos modernistas de 1922. Para estes, Emilio era o passado. Não valia nada. O próprio Oswald definiu-o, em 1933, como um “palhaço da burguesia”. Mas, em outros tempos, quando vinha com frequência ao Rio expressamente para ouvi-lo e beijar-lhe as mãos, sua visão era diferente. 
“Emilio, quero viver muito tempo para que, velho, passando pela tua estátua, eu possa dizer aos moços que te conheci de perto, e explicar que, homem, eras ainda maior que o poeta. A glorificação que te trarão os teus versos será bem mesquinha, decerto, por maior que seja, ao lado dos templos que se irão erguendo para o teu culto no coração dos teus amigos.”
Carta enviada em 1913 para Emilio de Menezes por Oswald de Andrade.
Busto do poeta Emilio de Menezes no largo do Machado, no Rio
Busto do poeta Emilio de Menezes no largo do Machado, no Rio - Julia Romeu

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