A maioria dos brasileiros costuma ficar otimista depois de eleições para presidente. Não tem sido diferente no caso de Jair Bolsonaro.
No Datafolha, 65% dos eleitores acreditam que a economia vai melhorar. Na CNI/Ibope, 75% acham que o presidente eleito "está no caminho certo". A animação vai bem além dos adeptos de Bolsonaro, que não chegou a ter 50% dos votos de quem foi às urnas no segundo turno.
Mesmo na eleição de Dilma 2, a confiança em dias melhores deu um salto, embora o país já vivesse em recessão e no tumulto da Lava Jato. A ex-presidente caiu em descrédito terminal apenas depois do estelionato eleitoral.
Além de otimista, o povo tem mais paciência. No primeiro ano de Lula 1 (2003), o país ficaria na prática mais pobre. Mesmo assim, o prestígio luliano era alto (chegou a 45% de "ótimo/bom"). Degringolou com o mensalão, em 2005 (caiu a 28% de "ótimo/bom"). No biênio 2004-2005, a economia cresceria mais de 8%.
O que pode haver de diferente no caso de Bolsonaro?
Antes de mais nada, note-se que o eleitorado é dado a arriscar reviravoltas políticas. Foi assim com Fernando Collor (1989), Lula (2002) e, agora, com Bolsonaro. Cada um a seu modo, fizeram carreira eleitoral como gente de fora do establishment. No sentido mais trivial da palavra, o povo não é conservador.
Collor foi um naufrágio quase instantâneo, não conta. Lula integrou-se ao sistema por bons e horríficos motivos, tanto que o petismo e seus agregados ficaram no poder por 13 anos. Bolsonaro não apenas sobe ao Planalto carregado por onda rara e profunda de revolta popular como também promete uma quase revolução.
O povo estaria bem informado do sentido das revoluções embutidas no projeto Bolsonaro, como na economia? Teria expectativas demais em relação às promessas mais alardeadas, no caso de segurança, corrupção e costumes?
Bolsonaro delegou a seus economistas a liberdade de planejar mudança profunda em relações socioeconômicas: 1) nas aposentadorias e, pois, nos incentivos de poupar mais (consumir menos); 2) nas relações trabalhistas, que seriam mais liberais; 3) na redistribuição da carga de impostos (muita gente pagaria mais); 4) ao sujeitar empresas a mais competição externa; 5) na vida dos servidores públicos.
Os brasileiros sabem desses planos? Como vão encará-los, quando e se forem implementados?
Bolsonaro é um presidente desconectado de várias elites: das intelectuais e das políticas, com quem não fez acordo quase algum, até agora. Tem mais conexão com parte da finança, parte bem pequena do empresariado e com os revoltados online.
Por alguns anos, não terá como oferecer serviços públicos melhores, que de resto pouco dependem dele. Educação, saúde e segurança estão a cargo de estados e cidades, mais falidos do que o governo federal.
O risco evidente é de muitas dessintonias entre planos até agora pouco conhecidos pelo povo comum e grandes expectativas baseadas em fé vaga ou fanática na "quebra do sistema". No tumulto da eleição, Bolsonaro foi mais uma ideia nebulosa do que um programa.
Pode até ser que a animação se dissipe com um suspiro, sem explosões. Talvez a maioria do povo fique satisfeita com alguma melhora na economia, temperada por diversionismos moralistas e conservadores.
Não foi assim que o jogo foi armado, para um empate morno, mas para uma goleada apoteótica, com invasão de campo e romaria em volta do gramado.
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