domingo, 9 de dezembro de 2018

Ruy Castro Os mestres fotógrafos, FSP

Safos e escolados, eles davam as dicas para os jovens repórteres de fraldas úmidas

Passeata na avenida Rio Branco, no Rio; foto publicada em 6 de agosto de 1968 no Correio da Manhã
Passeata na avenida Rio Branco, no Rio; foto publicada em 6 de agosto de 1968 no Correio da Manhã - Rubens Seixas/Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional
Uma exposição de fotografias na Caixa Cultural, na avenida Almirante Barroso, traz de volta o jornal carioca Correio da Manhã. Em boa parte de sua existência, de 1901 a 1974, foi o maior veículo da imprensa brasileira —o mais temido, respeitado e bem escrito. Seus editoriais derrubavam ministros. Nenhuma coletiva começava sem o repórter do Correio. E nenhum jornal incomodou tanto os militares —no dia seguinte ao Ato Institucional nº 5, em 1968, eles não mandaram um ou dois censores para ocupá-lo, mas oito coronéis do Exército. 
A maioria dos pesquisadores desconhece a riqueza de informações que os espera na coleção do Correio da Manhã, já digitalizada na Biblioteca Nacional, ou o seu fabuloso arquivo fotográfico, hoje no Arquivo Nacional, aqui no Rio. A historiadora Maria do Carmo Rainho, que domina a coleção e o arquivo como ninguém, é a criadora da exposição. Foi também a coordenadora, na semana passada, de uma mesa sobre o Correio, de que tive a honra de participar, com Pery Cotta, editor de política do jornal no ano-chave de 1968, e o fotógrafo Osmar Gallo. 
Gallo, autor de fotos históricas, foi um dos grandes do Correio nos anos 60, ao lado de Sebastião Marinho, Fernando Pimentel, Antônio Andrade, Manuel Gomes da Costa, Rodolpho Machado, Gilmar Santos, Rubens Seixas e outros, chefiados por Erno Schneider. Fui repórter do Correio em 1967 e saí a trabalho com vários deles —eu, foca, de fraldas úmidas, e eles, safos e escolados. Eram os fotógrafos que davam as dicas para os jovens repórteres: “Vá falar com aquele sujeito ali!” ou “Não deixe o Fulano escapar!”. Eles nos formaram. 
Pery e Gallo descreveram uma época em que ser jornalista significava ter a cultura da rua, conhecer todo mundo, tapear o poder, às vezes apanhar ou ser preso. Em meio à conversa, não tiveram como esconder as lágrimas. 
Eu consegui disfarçar as minhas.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

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