De que realidade falamos? Da de quem vive perto dos cartões-postais ou na parte bruta da cidade?
Em véspera de longos feriados ou de férias escolares, recebo mensagem de amigos e de conhecidos ávidos por dias de sol, samba e cerveja, pelas bandas de cá. “Está muito perigoso?”, querem saber. Difícil responder.
Quem olha de fora pode ter a sensação de que a situação é pior do que a realidade, porque o noticiário privilegia o caos. Mas de que realidade falamos? Da de quem vive perto dos cartões-postais e goza de relativa segurança ou de quem apenas sobrevive na parte feia, pobre e bruta da cidade?
Há de se admitir que o morador do Rio, refém de um cotidiano violento e sem solução, se acovarda e desiste de apontar o dedo para a criminalidade porque apenas pensa no problema quando ele atravessa o túnel e faz vítimas na parte mais bonita da cidade, onde a paisagem anestesia os sentimentos de indignação.
Quero dizer que venham, que encham a cidade, ocupem os hotéis, as ruas e os restaurantes, movimentem a economia, diminuam o desemprego. Mas ao analisar os números da segurança pública num ano sob intervenção federal (que deve acabar em 31 de dezembro), qualquer pessoa diria, melhor escolher outro lugar.
Os tiroteios cresceram 56%. Os roubos de rua se mantiveram no patamar escandaloso do ano passado. Houve uma leve queda na quantidade de homicídios, mas tão pouco que não dá para comemorar.
Por outro lado, está quente feito o inferno, as ruas estão festivas, é quando o Rio é mais Rio. As praias definham em poluição, mas há poucos lugares no mundo tão bonitos. O chope é quase sempre ruim, mas os bolinhos salvam o programa. Há ótimos restaurantes e, pasme, o serviço melhorou bastante. Alguns taxistas ainda prejudicam a imagem da categoria, mas os aplicativos ajudam o turista a não bancar o otário.
Venham, tem muito problema, mas o Rio continua lindo.
Feliz 2019 e obrigada pela companhia.
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e roteirista de TV.
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