Ministra evangélica deu exemplo ao prometer deixar fé restrita à igreja
Como hoje é Natal, nada melhor do que falar sobre Deus.
Estamos a sete dias da posse do governo que se elegeu sob o lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Nenhum outro dos sete presidentes civis do pós-ditadura assumiu com tal amparo na Bíblia.
Incontáveis atrocidades humanas foram e são cometidas em nome de Deus. Felizmente estamos longe das brutalidades de outras épocas e outros países —mas nunca dá boa coisa misturar governo com religião.
Bolsonaro foi durante quase 30 anos um deputado zero à esquerda. Em 2011 começou a sair da obscuridade na aba da bancada religiosa, criadora da fake news do kit gay.
Um material educativo aprovado pela Unesco e que seria distribuído a escolas do ensino médio com histórico de discriminação contra alunos homossexuais virou, no discurso dessa turma, um amontoado de putarias que seria apresentado a criancinhas de seis anos. Muita gente caiu e ainda cai nesse conto do vigário.
Pensamentos de tal quilate ameaçam nublar a gestão de áreas do novo governo, como a educação.
Um sopro de alento, porém, surgiu de onde menos se esperava, da ministra pastora evangélica. Damares Alves (Mulheres, Família e Direitos Humanos) é autora de declarações patéticas sobre as mulheres. Mas mostrou coragem ao prometer combater a discriminação contra gays.
Um sopro de alento, porém, surgiu de onde menos se esperava, da ministra pastora evangélica. Damares Alves (Mulheres, Família e Direitos Humanos) é autora de declarações patéticas sobre as mulheres. Mas mostrou coragem ao prometer combater a discriminação contra gays.
Ela diz ter sido estuprada por pastores na infância. E que a visão de Jesus, quando cogitava se matar em cima do pé de goiaba, salvou-lhe a vida.
No quintal da minha casa havia duas goiabeiras, onde passei incríveis dias da minha meninice. Nunca vi Jesus. Mas jamais menosprezaria a epifania de uma criança que sofreu o que ela diz ter sofrido. Décadas depois, a agora futura ministra sinaliza entender que, não importa a fé, Estado e religião não devem se confundir. "Quem está assumindo esse ministério é uma advogada e militante dos direitos humanos. A pastora fica lá na igreja, no domingo."
Que essa visão contagie colegas e o chefe a partir de 1º de janeiro.
Ranier Bragon
Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.
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