Em sua primeira semana como presidente do México, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador esmerou-se em tentar provar que está em curso “uma mudança de regime político”, como afirmou em seu discurso de posse, no dia 1º.
De partida, pôs em marcha as promessas de campanha mais simples, mas não menos vistosas. Colocou à venda o luxuoso avião usado pelo antecessor, Enrique Peña Nieto, e abriu a residência oficial à visitação pública, pois continuará a morar em sua casa.
AMLO, acrônimo pelo qual é conhecido, diz que pretende marcar a administração ao mesmo tempo pela austeridade no gasto público e pela destinação prioritária de verbas a políticas para os mais pobres.
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Como o aumento da carga tributária não faz parte da plataforma, o mandatário afirma que obterá recursos diminuindo as despesas com o funcionalismo —ele reduziu em 60% o próprio salário— e por meio do combate à corrupção.
Em mensagem ao setor produtivo, projetou crescimento anual do PIB de 4% em seu mandato de seis anos (ante 2% em 2017), o compromisso com a responsabilidade orçamentária e o respeito à autonomia do Banco Central.
Diante de uma carta de intenções tão auspiciosa, entende-se por que AMLO acredita ser capaz de transformar o México. Entretanto o êxito de um governante, como é óbvio, não depende apenas de voluntarismo.
O novo presidente tem a seu favor a boa vontade de grande parcela dos mexicanos, frustrados com o desempenho do líder anterior, e a maioria no Congresso recém-empossado. Enfrentará, contudo, forte resistência corporativista para enxugar o Estado e, mais ainda, distanciá-lo do poder corruptor dos cartéis do narcotráfico.
Reside na segurança pública, aliás, o maior desafio de AMLO, que não apresentou uma proposta clara para o tema. Prometeu criar uma Guarda Nacional militarizada para debelar o crime organizado, de encontro à crítica que fazia do uso do Exército com tal finalidade.
Peña Nieto tentou enfraquecer as quadrilhas ao prender seus chefes, mas acabou por retomar a prática do confronto nas ruas. Como resultado, em 2017 o país registrou o maior número de homicídios nos últimos 20 anos, ao menos.
Não menos espinhosa é a tarefa de lidar com Donald Trump e a questão migratória, dado o crescente fluxo de centro-americanos a aportar na fronteira com os EUA. Louve-se o entusiasmo de AMLO no alvor de sua gestão, mas a empreitada a que se dispõe lhe exigirá bem mais que isso.
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