Rogério Cezar de Cerqueira Leite
Não é preciso ser um cientista, um intelectual ou mesmo apenas um cidadão de bom senso para duvidar de que alguém, seja lá quem for, que realize as curas e "cirurgias espirituais" do sr. João de Deus. Entretanto muitos recorrem a este senhor e outros charlatões congêneres em busca de milagres. Talvez porque afinal não somos, nós humanos, seres assim coerentes. Talvez porque no íntimo ainda somos aquele homo erectus, aterrorizado com o cair da noite e com os monstros que habitavam as cavernas.
Será que é esta mesma síndrome a responsável pela insistência recalcitrante na recuperação de Angra 3?
Tudo começou com o correto general Geisel, que, não obstante, deu uma de seguidor de João de Deus com o contrato nuclear Brasil-Alemanha. Se Maquiavel não disse, deve ter pensado: "Para derrotar um bom projeto a melhor arma é um mau projeto com a mesma finalidade". Muito provavelmente a principal razão para o desenvolvimento pífio da ciência e tecnologia nuclear no Brasil nesses últimos 30 ou 40 anos foi o acordo Brasil-Alemanha.
Não faz muito tempo, o jovem e inteligente ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, tomou o avião da FAB e veio a Campinas. Lula queria finalizar o reator Angra 3, empacado havia 20 anos. "Temos potencial hidroelétrico para pelo menos 30 ou 40 anos, e em algumas décadas a energia fotovoltaica, a eólica, a bioeletricidade serão muito mais baratas", argumentei. Duas semanas depois, Angra 3 era reativado. Todavia, até hoje continua tão empacado quanto estava há 15 anos.
É uma tecnologia de mais de 40 anos, portanto obsoleta. O custo de investimentos para acabá-lo é absurdamente elevado. A confiabilidade em equipamentos que ficaram armazenados por mais de 30 anos é reduzida. Os técnicos alemães que projetaram e construíram grande parte dos equipamentos já devem estar embalsamados. E ainda há quem acredita que seja de interesse nacional acabar Angra 3 e fazê-la operar regularmente.
Pois é, também há quem acredite nos milagres de João de Deus. Não é preciso lembrar os custos de descomissionamento de reatores nucleares e os incalculáveis gastos com as muitas centenas de anos de armazenamento do lixo atômico. Não há pesquisador honesto que não concorde que o Brasil precisa de tecnologia nuclear. Entretanto tampouco há quem duvide que o caminho para alcançar alguma competência no setor é por meio do trabalho árduo da pesquisa científica e aplicada.
Será que é esta mesma síndrome a responsável pela insistência recalcitrante na recuperação de Angra 3?
Tudo começou com o correto general Geisel, que, não obstante, deu uma de seguidor de João de Deus com o contrato nuclear Brasil-Alemanha. Se Maquiavel não disse, deve ter pensado: "Para derrotar um bom projeto a melhor arma é um mau projeto com a mesma finalidade". Muito provavelmente a principal razão para o desenvolvimento pífio da ciência e tecnologia nuclear no Brasil nesses últimos 30 ou 40 anos foi o acordo Brasil-Alemanha.
Não faz muito tempo, o jovem e inteligente ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, tomou o avião da FAB e veio a Campinas. Lula queria finalizar o reator Angra 3, empacado havia 20 anos. "Temos potencial hidroelétrico para pelo menos 30 ou 40 anos, e em algumas décadas a energia fotovoltaica, a eólica, a bioeletricidade serão muito mais baratas", argumentei. Duas semanas depois, Angra 3 era reativado. Todavia, até hoje continua tão empacado quanto estava há 15 anos.
É uma tecnologia de mais de 40 anos, portanto obsoleta. O custo de investimentos para acabá-lo é absurdamente elevado. A confiabilidade em equipamentos que ficaram armazenados por mais de 30 anos é reduzida. Os técnicos alemães que projetaram e construíram grande parte dos equipamentos já devem estar embalsamados. E ainda há quem acredita que seja de interesse nacional acabar Angra 3 e fazê-la operar regularmente.
Pois é, também há quem acredite nos milagres de João de Deus. Não é preciso lembrar os custos de descomissionamento de reatores nucleares e os incalculáveis gastos com as muitas centenas de anos de armazenamento do lixo atômico. Não há pesquisador honesto que não concorde que o Brasil precisa de tecnologia nuclear. Entretanto tampouco há quem duvide que o caminho para alcançar alguma competência no setor é por meio do trabalho árduo da pesquisa científica e aplicada.
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Houve um momento em que a Marinha do Brasil percebeu isso e teve um imenso sucesso com o desenvolvimento das ultracentrífugas para enriquecimento do urânio. Infelizmente ficou por aí...
Há pouco menos de uma década, o Ministério de Ciência e Tecnologia propôs a construção de um "reator multipropósito". Como não havia competência nacional para elaborar o projeto, contrataram uma firma argentina, decisão acertada para manter a incompetência nacional no pé em que estava.
A principal justificativa para o equipamento era a produção de radiofármacos. Hoje essa aplicação é realizada com aceleradores, o que reduz custos de produção por um fator de 3 a 4. Novamente a síndrome João de Deus, pois os mesmos atores insistem em contratar os argentinos para produzir o equipamento obsoleto. Como se vê, a síndrome João de Deus é muito mais generalizada do que se pensa.
Há pouco menos de uma década, o Ministério de Ciência e Tecnologia propôs a construção de um "reator multipropósito". Como não havia competência nacional para elaborar o projeto, contrataram uma firma argentina, decisão acertada para manter a incompetência nacional no pé em que estava.
A principal justificativa para o equipamento era a produção de radiofármacos. Hoje essa aplicação é realizada com aceleradores, o que reduz custos de produção por um fator de 3 a 4. Novamente a síndrome João de Deus, pois os mesmos atores insistem em contratar os argentinos para produzir o equipamento obsoleto. Como se vê, a síndrome João de Deus é muito mais generalizada do que se pensa.
Rogério Cezar de Cerqueira Leite
Físico, professor emérito da Unicamp, membro do Conselho Editorial da Folha e presidente do Conselho de Administração do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais)
Taís Hirata
SÃO PAULO
A Eletrobras reservou 40% de todos seus investimentos nos próximos cinco anos para finalizar a usina nuclear de Angra 3, um dos projetos considerados prioritários à equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
A estatal planeja destinar R$ 12 bilhões ao empreendimento entre 2019 e 2023, segundo o Plano Diretor de Negócios e Gestão da companhia, que prevê um investimento total de R$ 30,2 bilhões nesse período.
O valor necessário para concluir a obra deverá ser ainda maior, já que a construção deve se estender até 2026.
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No entanto, parte desses recursos poderão vir do setor privado. Hoje, a ideia do governo é realizar uma concorrência internacional para atrair um parceiro ao projeto.
As obras de Angra 3 estão paralisadas desde 2015, com cerca de 60% de sua execução.
À época, a construção do empreendimento foi alvo de investigação pela Operação Lava Jato por suspeitas de irregularidades nos contratos, o que levou até à prisão do então presidente da Eletronuclear.
Desde então, governo federal e Eletrobras têm buscado meios para finalizar o empreendimento, no qual já foram investidos bilhões.
Para facilitar a atração de um parceiro privado disposto a alocar recursos no projeto, foi aprovado em outubro um controverso aumento na tarifa da usina, que passou a R$ 480 por MWh (megawatt-hora), o dobro do previsto inicialmente.
A medida atraiu críticas por parte de especialistas do setor elétrico, que avaliam que o novo preço resolve o problema da Eletrobras, mas torna o empreendimento oneroso ao consumidor.
Conforme mostrou a Folha em novembro, um estudo da PSR, uma das consultorias mais respeitadas no setor elétrico, concluiu que seria mais econômico abandonar a obra de Angra 3 e, no lugar, construir usinas de outras fontes.
O levantamento comparou Angra 3 a empreendimentos de geração solar e concluiu que a usina nuclear seria R$ 6,6 bilhões mais cara aos consumidores. No caso de outras fontes mais baratas, como a eólica, a diferença poderia seria ainda maior.
A equipe do novo governo de Jair Bolsonaro (PSL) já manifestou a intenção de concluir a usina. O futuro ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, tem relação próxima com o setor nuclear e já tocou projetos nessa área dentro da Marinha.
Em entrevista à Folha, em dezembro, ele afirmou que valeria muito a pena concluir a usina e admitiu a possibilidade de atrair um parceiro privado ao empreendimento.
INVESTIMENTO
Ao todo, a Eletrobras planeja investir R$ 30,2 bilhões até 2023, em projetos de geração de energia (que incluem Angra 3), linhas de transmissão, entre outros.
O valor representa um aumento significativo em relação ao último plano de investimentos da companhia, divulgado no fim de 2017 —nesse relatório, a estatal projetou R$ 19,76 bilhões para os cinco anos seguintes.
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