quinta-feira, 14 de agosto de 2025

PF descobriu esquema na Prefeitura de São Bernardo por acaso quando fazia outra operação, g1

 Por Léo Arcoverde, Bruno Tavares, Letícia Dauer, Isabela Leite, GloboNews, TV Globo e g1 SP

 

Prefeito de São Bernardo do Campo é alvo de operação da PF

Prefeito de São Bernardo do Campo é alvo de operação da PF

A Polícia Federal descobriu por acaso o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Prefeitura de São Bernardo do Campo ao encontrar cerca de R$ 14 milhões com o servidor da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Paulo Iran Paulino Costa, durante outra operação.

No dia 7 de julho, agentes apreenderam quase R$ 13 milhões e US$ 157 mil em espécie no carro e apartamento do servidor. A Justiça já decretou a prisão preventiva dele, que está foragido. A defesa dele não foi localizada até a última atualização da reportagem.

Nesta quinta-feira (14), o prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima (Podemos), foi afastado do cargo por um ano após operação da PF. Um empresário e um servidor também foram presos. (Leia mais abaixo.)

O esquema investigado pela PF funcionava por meio de uma complexa organização criminosa com o objetivo de desviar recursos públicos e lavar dinheiro, envolvendo empresas nas áreas de obras, saúde e manutenção que mantêm contratos com a prefeitura e a Fundação ABC.

Segundo a inquérito policial, obtido pela TV Globo, Paulo Iran era principal operador financeiro do esquema, responsável pela arrecadação e distribuição dos valores pagos pelas empresas à administração municipal.

Dinheiro apreendido pela Polícia Federal com servidor da Alesp no dia 7 de julho — Foto: Divulgação/PF

Dinheiro apreendido pela Polícia Federal com servidor da Alesp no dia 7 de julho — Foto: Divulgação/PF

Ele também organizava, controlava e efetuava o pagamento de despesas pessoais do prefeito, da primeira-dama e da filha deles, como despesas do cartão de crédito, conta de telefone e mensalidades da faculdade de medicina da filha.

Paulo Iran também atuava como auxiliar legislativo no gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL) desde setembro de 2022. Segundo o portal da transparência da Alesp, ele recebia R$ 6.154,51 de salário.

Procurado, o deputado informou que o servidor será exonerado. "No meu mandato não aceito qualquer suspeita de corrupção ou conduta indevida", declarou.

Os investigadores descobriram que Paulo Iran e Antonio Rene da Silva Chaga — outro alvo da investigação que é diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental — se comunicavam por celulares clandestinos.

Para gerenciar o controle de fluxo do caixa, Paulo Iran usava um método informal. Ele escrevia as entradas e saídas de dinheiro em "post-it", de acordo com os investigadores.

"Nesses diálogos e anotações, são frequentemente empregados códigos, apelidos e referências veladas a nomes de pessoas físicas e jurídicas, dificultando a rastreabilidade das operações", explica o delegado Daniel Penido Brito no inquérito.

"A atuação de Paulo Iran Paulino Costa é, portanto, fundamental para a operacionalização e gestão financeira do esquema criminoso efetivado pela organização criminosa, conectando empresas contratadas pela prefeitura ao chefe do executivo municipal e seus familiares", complementa Brito.

Operação Estafeta

O prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos), ao lado do vereador suplente Ary José de Oliveira (PRTB), além do presidente da Câmara Municipal da cidade, Danilo Lima (Podemos). — Foto: Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais

O prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos), ao lado do vereador suplente Ary José de Oliveira (PRTB), além do presidente da Câmara Municipal da cidade, Danilo Lima (Podemos). — Foto: Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais

A PF cumpre nesta quinta-feira (14) 20 mandados de busca e apreensão e medidas de quebra de sigilos bancário e fiscal nas cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema.

As ordens judiciais foram expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e incluem ainda afastamento de cargos públicos e monitoramento eletrônico de investigados.

Com o afastamento do prefeito Marcelo Lima, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante. Aos 38 anos, ela é sargento da Polícia Militar e está no seu primeiro cargo público eletivo.

Na operação, batizada de Estafeta, foi preso em flagrante o empresário Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco Ltda., que tem contrato com a prefeitura. Na casa dele, a PF apreendeu R$ 400 mil. (Veja foto abaixo.)

Dinheiro apreendido pela PF nesta quinta-feira (14), em endereços ligados a empresários e servidores que participavam do esquema de corrupção em São Bernardo do Campo (SP) — Foto: Montagem/g1/Reprodução/TV Globo

Dinheiro apreendido pela PF nesta quinta-feira (14), em endereços ligados a empresários e servidores que participavam do esquema de corrupção em São Bernardo do Campo (SP) — Foto: Montagem/g1/Reprodução/TV Globo

Também foi preso Antonio Rene da Silva, que é servidor da Prefeitura de São Bernardo e atua como Diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental. Havia um mandado de prisão contra ele.

O atual presidente da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), também é alvo de buscas pela polícia, assim como o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB).

Os envolvidos poderão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e corrupção ativa.

Procurada, a gestão do prefeito Marcelo Lima (Podemos) não havia dado retorno até a última atualização desta reportagem. O g1 também tenta localizar a defesa dos demais investigados.

A pedido do MPSP, Judiciário afasta prefeito, vereadores e servidores em S. Bernardo, FSP

 Operação deflagrada na manhã desta quinta-feira (14/8) pelo MPSP, por intermédio da Assessoria de Competência Originária da Procuradoria-Geral de Justiça e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), e pela Polícia Federal resultou no afastamento do prefeito, de dois vereadores e servidores de S. Bernardo do Campo, na prisão preventiva de duas pessoas e na prisão em flagrante de outras duas, além da apreensão de bens e dinheiro em espécie. As medidas foram autorizadas pelo desembargador Roberto Porto, do Tribunal de Justiça, já que chefes do Poder Executivo municipal contam com prerrogativa de foro.

No pedido formulado ao Judiciário, o MPSP demonstra a existência de "uma complexa rede criminosa, com uma estrutura definida e um ‘modus operandi’ peculiar, voltada para a captação e movimentação de valores ilícitos no âmbito da Prefeitura de São Bernardo do Campo". De acordo com a investigação, a análise de material apreendido em julho com um homem ligado ao prefeito que tinha mais de R$ 12 milhões em um ‘bunker’ em sua casa, especialmente documentos físicos, aparelhos celulares, computador e anotações manuscritas, trouxe à tona informações cruciais que indicam a existência de uma organização criminosa estabelecida na prefeitura.

Essa organização atua por meio do recebimento de vantagens indevidas em recursos financeiros em espécie, provenientes de empresas que possuem vultosos contratos com o Executivo Municipal ou com a Fundação ABC para a prestação de serviços essenciais, como coleta de resíduos, engenharia, informática e saúde. A complexidade da rede investigada é acentuada pelo uso de linguagem codificada e telefones “clandestinos” nas comunicações entre os envolvidos. O MPSP obteve também a quebra e sigilo fiscal e bancário de 34 pessoas físicas e jurídicas.