segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Secretariado de Ricardo Nunes combina forasteiros e comissionados de carreira, FSP

 Demétrio Vecchioli

São Paulo

Em seu segundo mandato como prefeito de São PauloRicardo Nunes (MDB) montou um secretariado que mescla políticos de cidades próximas que ficaram sem cargos eletivos em seus domicílios eleitorais e pessoas que há anos pulam entre cargos comissionados na prefeitura e no governo do estado.

O primeiro escalão municipal tem quatro ex-prefeitos que encerraram seus mandatos no último dia 31 de dezembro e 14 políticos que já haviam sido secretários de outras pastas.

É o caso de Eliana Maria das Dores Gomes, nova secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, que já havia sido secretária na Habitação e no Urbanismo e Licenciamento. Também trabalhou no gabinete de Nunes e no comando do Serviço Funerário, à época da concessão do serviço. Fechou 2024 na Prodam, empresa municipal de tecnologia da informação e comunicação.

Ricardo Nunes (à esq.) durante reunião com secretários e chefes de órgãos públicos
Ricardo Nunes (à esq.) durante reunião com secretários e chefes de órgãos públicos - Tulio Kruse/Folhapress

A prefeitura disse à Folha que a equipe de secretários municipais representa um governo de frente ampla, plural e democrático, aprovado pelas urnas na eleição municipal. "A escolha de cada integrante atendeu a critérios como aptidão, capacidade técnica e reconhecimento profissional."

Dos 33 nomes anunciados, entre secretários e secretários-executivos, 13 foram mantidos e outros 13 chegam agora à prefeitura.

Outros sete foram realocados das pastas que comandavam no ano passado, como Gilmar Miranda, que pulou de Mobilidade Urbana e Transporte para a Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito.

Candidato derrotado a deputado federal em 2018 pelo PSDB, o novo secretário das Subprefeituras, Fabrício Cobra, está completando dez anos em cargos do tipo. Ele foi secretário de Turismo no estado, subprefeito da Vila Mariana, adjunto na Gestão e, desde 2022, era secretário da Casa Civil na prefeitura.

Para o lugar dele, na Casa Civil, Nunes nomeou Enrico Misasi, ex-secretário-executivo de Relações Institucionais da prefeitura. Misasi também é o primeiro suplemente da bancada de cinco deputados federais do MDB. Ele foi deputado na legislatura passada e preside o partido na cidade.

O secretariado de Nunes conta com quatro políticos com mandatos legislativos, que se afastaram dos cargos para os quais foram eleitos. Dois são vereadores: Rodrigo Goulart (PSD), secretário de Desenvolvimento Econômico e Habitação, e Sidney Cruz (MDB), de Habitação. Ficam na Câmara Municipal o ex-secretário municipal de Esporte Carlos Bezerra Jr. (PSD) e o veterano Paulo Frange (MDB), em oitavo mandato.

O deputado estadual Rui Alves (Republicanos), pastor evangélico, segue no Turismo, abrindo cadeira na Alesp para o policial federal Danilo Campetti, aliado próximo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Milton Vieira (Republicanos), deputado federal licenciado, foi trocado da Habitação para a Inovação e Tecnologia. A movimentação mantém Ely Santos (Republicanos) como deputada federal. Ela é irmã de Ney Santos, ex-prefeito de Embu das Artes, acusado de elo com o PCC.

No caminho contrário, Felipe Becari (União), que era secretário de Esporte, volta ao seu mandato na Câmara dos Deputados depois de ajudar a eleger vereador o marido da deputada federal Renata Abreu, Gabriel Abreu (Podemos).

A pasta volta a ser comandada por um filiado do Podemos, Rogério Lins, prefeito de Osasco por dois mandatos e, antes, vereador. Ele chegou a ser preso antes de tomar posse na prefeitura, em 2016.

Com Lins, são três os ex-prefeitos que se tornaram secretários no segundo mandato de Nunes. Ex-prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi (PL) assumiu o Verde e Meio Ambiente, enquanto Luiz Fernando Machado (PL), que deixou a Prefeitura de Jundiaí, será secretário de Desestatização e Parcerias a partir do fim do mês.

Orlando Morando, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e marido da deputada estadual Carla Morando (PSDB), comanda a Segurança Urbana. Em dezembro, ele deixou o PSDB depois de 20 anos na legenda e, hoje, é disputado por MDB e União.

Na Cultura, o novo secretário é Totó Parente, ex-vereador de Cuiabá (MT), que também foi assessor de Lindbergh Farias (PT) na Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ).

Outros políticos de primeiro escalão na gestão Nunes também são de fora da cidade, casos de Cacá Viana (Podemos), ex-secretário de Educação de Diadema e de Esporte em São Paulo, agora adjunto na Habitação, e Silvia Grecco, que segue na Secretaria da Pessoa com Deficiência. Ela foi secretária de Assistência Social de Mauá por quase uma década.

Além dela, 12 secretários seguem onde estavam, incluindo Fernando Padula (Educação), Luiz Felipe Arellano (Fazenda), Marcela Arruda Nunes (Gestão), Edson Aparecido (Governo Municipal), Luiz Carlos Zamarco (Saúde) e Bete França (Urbanismo), todos em cargos estratégicos.

Entre as novidades estão o jornalista Fábio Portela, na Comunicação, Angela Granda (ex-secretária nacional da Família do governo Jair Bolsonaro), em Relações Internacionais, e Celso Caldeira, em Mobilidade e Trânsito. Luciana Sant'ana Nardi havia sido anunciada em novembro como nova procuradora-geral.

Erramos: o texto foi alterado

Ângela Gandra é secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, não de Relações Institucionais, como afirmava versão anterior deste texto.

Cláudio Castro 'esfarela' Rubens Paiva, mas elogia Fernanda Torres, Alvaro Costa e Silva, FSP

 A pós-verdade está aí, quase palpável. Mas é bom dar uma força. Fechar institutos de memória, demitir pesquisadores, extraviar, deixar apodrecer e destruir documentos é método eficaz para engendrar uma nova versão dos fatos, mesmo que estes, em sua maioria, pareçam falsos e absurdos. No galpão das narrativas há sempre quem os compre e espalhe. Afinal, Hitler era comunista, garante Alice Weidel, líder do partido de extrema direita alemão apoiado por Elon Musk.


Durante a campanha que o levou à Presidência, Javier Milei já havia negado que a ditadura argentina tenha sido responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas, como sustenta o Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado. Pois agora, com pouco mais de um ano no poder, Milei não se limita a contestar fatos históricos em vídeos divulgados nas redes. Busca apagar a memória do país.

Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, em sua casa. À esquerda, um retrato de 1970 do deputado desaparecido - Jorge Araújo/Folhapress

Cortes de servidores e recursos põem em risco o funcionamento do Centro de Memória Haroldo Conti e de uma série de atividades de pesquisa desenvolvidas num complexo de museus e institutos de direitos humanos que ocupam a antiga Escola de Mecânica da Armada, principal centro clandestino de detenção e tortura do regime militar.

No Brasil ocorre o mesmo. Mas com requintes de farsa. Documentos relacionados à prisão do deputado Rubens Paiva —que como o escritor argentino Haroldo Conti foi sequestrado e morto— estão "esfarelando", de acordo com a denúncia de Victor Travancas, exonerado do cargo de diretor-geral do Arquivo Público do Rio de Janeiro pelo governador Cláudio Castro.

A instituição abriga 26 funcionários fantasmas, segundo Travancas, nomeado para o cargo em dezembro. As salas estão com o piso quebrado, há buracos no chão, rachaduras em pilares, fiação elétrica exposta. O Arquivo guarda toda a documentação do Dops desde os anos 1930, com registros do Estado Novo e do golpe de 1964.

"Que orgulho para o Brasil! Fernanda Torres fez história ao ganhar o Globo de Ouro", postou Cláudio Castro. Ou ele não viu o filme "Ainda Estou Aqui", que conta a trajetória de luta da família Paiva, ou passou óleo de peroba demais no rosto.


Vídeo generativo vive evolução exponencial Por Nelson Porto, MEIO


Quanta informação o ser humano produz diariamente? Em 1925, contando livros, jornais impressos, programas de rádio e filmes sendo produzidos, estima-se que era algo entre 2 a 3 terabytes por dia. A estimativa para 2025 é de exorbitantes 463 exabytes (ou 463 milhões de terabytes) por dia. Nos últimos 100 anos, a humanidade passou a produzir cerca de 230 milhões de vezes mais informação a cada dia — considerando como informação dados em qualquer formato, criados e distribuídos em qualquer meio.

Mais da metade (53,72%) da informação que circula diariamente na internet é consumida em formato de vídeo. Diariamente, o YouTube recebe 720 mil novas horas de conteúdo, equivalentes a cerca de 5 mil terabytes. Vídeos dominam o consumo de mídia no Facebook, no TikTok e no Snapchat, e geram até dez vezes mais engajamento e interação no Instagram e no X, plataformas originalmente voltadas para fotos e para texto, respectivamente.

Por mais impressionantes que esses números possam parecer, essa quantidade diária de informação em breve vai parecer irrisória. A era digital vem acelerando o compasso da produção de informação e, em breve, toda a produção humana será eclipsada por uma quantidade infinita de informação gerada por inteligência artificial (IA), que vai inundar servidores, mídias sociais e redes de forma avassaladora.

Imagens sintéticas vêm confundindo nossa percepção de realidade, sendo cada vez mais difíceis de identificar. Vídeos sintéticos são o próximo passo lógico, e será imenso o impacto que terão na produção audiovisual, no entretenimento, nas redes sociais e em diversos setores da sociedade e de nossas vidas.

Longe se vão os primeiros dias de 2023, em que vídeos sintéticos ainda eram um caos generativo fora de controle, em que objetos sumiam e ressurgiam aleatoriamente, pessoas ganhavam novos membros e carros se fundiam em movimentos impossíveis, em uma forma de surrealismo visual que poderá se tornar arte cult daqui a alguns anos.

A maior parte dos desafios das ferramentas de vídeo de IA passava, e ainda passa, pelo nível de controle oferecido. Nesse contexto, a Runway lançou o modelo Gen1, de transformação de vídeo-para-vídeo, em fevereiro de 2023, e em seguida lançou o revolucionário Gen-2, de texto e imagem para vídeo, em março. Embora impressionante à época, o Gen-2 recorria excessivamente à interpolação para conseguir gerações mais longas, e normalmente seus vídeos pareciam estar em câmera lenta. Ao longo do ano, eles adicionaram ferramentas de controle de câmera, de movimento e de estilo, além da capacidade de estender as gerações por mais 8 segundos por vez, chegando a mais de 30 segundos totais por take.

As ferramentas de controle que a Runway lançou nessa época ajudaram a mostrar que havia muito mais formas de controlar uma geração do que um simples prompt, e seguem orientando a indústria até hoje.

Quando o modelo SORA, da OpenAI, foi anunciado em fevereiro de 2024, as primeiras reações foram de espanto pelo realismo e pela qualidade das imagens produzidas. Naquele momento, a única forma de controle possível para o SORA ainda era o prompt, que podia ser extenso e detalhado, mas jamais entregaria exatamente tudo que era pedido.

Finalmente lançado em dezembro de 2024, o SORA evoluiu e permite a geração de vídeos a partir de textos, imagens ou outros vídeos, tem opções de estilos e uma ferramenta de storyboard para a geração de sequências de vídeos como parte de uma mesma história. E, sim, mesmo após tanta espera, o SORA ainda é muito impressionante — e caro.

Já a Runway lançou o Gen-3 em junho de 2024, com outro nível de qualidade, capaz de gerar vídeos a partir de textos, imagens ou vídeos. O modelo superou sua tendência de câmera lenta e veio ganhando recursos avançados ao longo do ano, como controle de câmera, expansão de vídeos, extensão de vídeos, uma versão turbo extremamente rápida e até mesmo a capacidade de incorporar a performance facial, de fala e sincronia labial de um vídeo real na geração de um vídeo de IA, com uma ferramenta chamada Act-One.

Nesse meio tempo, a China entrou de forma extremamente competitiva no espaço, com empresas como Kuaishou e Hailuo lançando seus respectivos serviços Kling e Minimax. A Kuaishou é uma concorrente do Tik-Tok e por isso tem acesso a uma vasta base de dados de vídeo para treinamento. O Kling foi lançado em junho de 2024, e seu modelo 1.0 já teve dois upgrades desde então, o 1.5 em setembro e, mais recentemente, o 1.6, em dezembro. Além das atualizações de modelo, o serviço também passou a oferecer resolução de FullHD e controles de câmera e movimento, como a Runway.

Mas o Kling tem outras surpresas: ele permite ao usuário treinar um personagem consistente, a partir de vídeos, e depois do treinamento se torna capaz de gerar vídeos daquele personagem em qualquer situação. Além disso, ele permite experimentar e trocar diferentes vestimentas em um mesmo personagem estático, para em seguida dar vida a ele em vídeo.

Embora mais recente e com menos recursos de controle, o Minimax impressiona pela qualidade. Recentemente, lançou um novo modelo, especializado em gerar animações 2D — um estilo de animação que os outros modelos ainda não lidam tão bem. E nesta última semana, lançou um novo recurso de consistência de personagens em vídeo, a partir de uma imagem de rosto.

Big techs

As gigantes de tecnologia Adobe, Meta e Google jamais iriam ficar de fora dessa arena — e as três já exibiram e estão lançando ou integrando seus modelos de geração de vídeo ao longo deste ano.

O Google lançou, por enquanto apenas nos EUA, o modelo VEO 2 da Deepmind, que parece estar bem à frente em qualidade e resolução de imagem (4K), duração (até dois minutos) e aderência aos prompts — embora, por questões de segurança, quem tem acesso só pode gerar vídeos de 720p e em cenas de até 8 segundos. Essa liderança em termos de qualidade certamente está relacionada à qualidade da base de vídeos do Youtube — a maior do mundo.

A Meta anunciou seu MovieGen em outubro de 2024, mas ainda não tornou a ferramenta pública, igualmente por questões de segurança. Seu modelo está entre os mais impressionantes, e se destaca dos outros também pela capacidade de editar vídeos usando apenas texto, algo inimaginável até pouco tempo atrás. Em seus planos, está integrar a ferramenta ao Instagram e ao Whatsapp.

E a Adobe lançou seu modelo Firefly em outubro, e vem integrando a capacidade de geração e extensão de vídeos em seus softwares. Ela se posiciona de forma distinta da concorrência, garantindo que seus modelos foram treinados apenas com dados e imagens sobre os quais ela tinha licenças e direitos.

Embora a geração artificial de vídeos ainda esteja longe de ser perfeita, entramos em 2025 com diversas ferramentas já cruzando ou prestes a cruzar a barreira do “vale do estranhamento” — o chamado uncanny valley. Esse feito, por si só representa um avanço enorme, que a indústria do 3D tenta há décadas superar sem sucesso — a capacidade de criar pessoas artificiais nos mínimos detalhes e movimentos, de forma indistinguível de uma pessoa real.

A combinação dessas duas tecnologias, IA e 3D, pode inclusive ser uma das grandes tendências do ano. Usar uma animação em 3D como base e aplicar uma segunda passagem de vídeo-para-vídeo usando IA parece ser uma receita promissora para se chegar ao mesmo tempo ao controle de cena, cinematografia e movimento desejado por diretores e produtores audiovisuais, e atravessar o “vale do estranhamento” de uma vez por todas.

A competição dos modelos de geração de vídeo por IA mal começou, e já parece atingir velocidade de escape. Entre novos atores e gigantes da tecnologia, existem diversos pesos-pesados bem posicionados. As preocupações éticas e de segurança começam a se tornar cada vez mais presentes, e importantes, à medida em que a qualidade das ferramentas sintéticas torna o conteúdo de vídeo generativo mais difícil de distinguir da própria realidade. As implicações dessa tecnologia para a sociedade contemporânea são imensas, e as potenciais consequências, enormes — para o bem e para o mal. Uma coisa é certa: esse vai ser o ano do vídeo de IA.