domingo, 7 de julho de 2024

Como o microplástico foi parar dentro do corpo humano? Veja vídeo, FSP

 Fernanda Mena

SÃO PAULO

O plástico está em toda parte, mas você sabia que ele também pode estar dentro de você?

Partículas minúsculas de plástico já foram localizadas no sangue, no coração, no fígado, nos intestinos, na placenta, no leite materno, no cérebro e até nos testículos humanos.

Esse é o resultado tanto do descarte inadequado do lixo plástico como do aumento exponencial da presença desse material na vida contemporânea. Estima-se que estejam acumulados nos oceanos entre 75 e 200 milhões de toneladas de lixo plástico.

Mão segura diversos pequenos pedaços coloridos de microplástico
Pequenas partículas de plástico podem ser absorvidas por via oral, respiratória ou cutânea - Pixabay

Os animais marinhos confundem pedaços de plástico com suas presas e ingerem esses resíduos —às vezes em tamanha quantidade que seu trato digestivo fica entupido e eles morrem de inanição.

Quem não se sensibiliza com o sofrimento animal, agora tem outro motivo para se preocupar com o lixo plástico nos mares: é que ele pode acabar no seu prato.

Isso porque o plástico sofre um processo permanente de degradação e de fragmentação que gera os chamados microplásticos, partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro encontradas em toda parte. No mar, também estão dentro de ostras, mariscos e peixes comuns ao consumo humano.

Existe ainda um subgrupo do microplástico chamado de nanoplástico. São partículas que medem menos de 1000 nanômetros, ou um centésimo de milímetro —70 vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo.

Os microplásticos encontrados no corpo derivam de diferentes tipos de polímeros: o polipropileno da embalagem de sorvete, o politereftalado de etileno, também conhecido como PET, o poliuretano das espumas e esponjas. E eles não vêm só do mar.

Pesquisas já apontaram que eles entram no nosso organismo pelas vias oral, respiratória e dérmica (pela pele).

Via oral é um caminho não só pelo consumo de frutos do mar, mas também da água da torneira, água mineral engarrafada em plástico e até da cerveja, além do sal marinho, iogurte, arroz, frutas e vegetais.

Um estudo britânico estimou que ao longo de uma semana o ser humano ingere, em média, 5 gramas de microplásticos durante a alimentação, o que equivale ao peso de um cartão de crédito.

Já a via respiratória é uma porta de entrada permanente de microplásticos. As partículas são desprendidas de tecidos sintéticos, plásticos e pneus, e ficam dispersas no ar a ponto de já terem sido encontradas em regiões remotas dos alpes italianos, onde produtos embalados em plástico praticamente não chegam.

Em Paris, por exemplo, um projeto mensurou a quantidade de microplástico dispersa na atmosfera. Os resultados mostraram que , numa pancada de chuva, caíam mais de cem quilos de plástico junto com a água na capital francesa.

Estudos que mediram a quantidade de microplástico em ambientes abertos apontaram que a concentração dessas partículas é até 45 vezes maior dentro das casas, onde a concentração de plástico tende a ser maior: estofados, tapetes, roupas, sacolas embalagens, eletroeletrônicos… a lista é extensa.

Por último, a via dérmica, que é a menos estudada, e que pode ter como fonte tanto os ticos do ar como aqueles contidos em maquiagens, cremes e outros cosméticos.

Por qualquer uma das vias de entrada, cientistas acreditam que as menores partículas de microplástico penetrem na corrente sanguínea e se instalem em diferentes órgãos do corpo.

Enquanto defensores do plástico afirmam que essas partículas podem ser inertes, pesquisas apontam na direção contrária e já associaram a presença de microplásticos a doenças cardiovasculares.

Além disso, alguns materiais contêm certos tipos de aditivos que já foram identificados como cancerígenos ou disruptores endócrinos, o que quer dizer que eles geram desequilíbrios hormonais, como puberdade precoce, por exemplo. Mas esses efeitos ainda estão em estudo.

Medidas para reduzir a exposição a eles inclui privilegiar roupas de tecidos naturais, beber água filtrada, evitar recipientes plásticos para alimentos e nunca levá-los ao microondas.

Há quem defenda que o único caminho é a redução da presença deste material apenas aos itens essenciais à vida. Também há pesquisas em busca de soluções em fungos e bactérias que parecem ser capazes de digerir micropartículas de plástico.

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Por acreditar no apocalipse, retorno à questão: como e quando se deu a aurora do mundo?, Sergio Augusto OESP

 


Como escrevo esta lereia na quinta-feira, sem saber se a candidatura de Joe Biden já kaput ou ainda não kaput, só me resta bocejar diante de outras questões relevantes, igualmente irrespondidas e com mais tempo de assombração em nossos pesadelos, opção que reputo criteriosa, para dizer o mínimo – e, quem sabe, até o máximo.

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Muitos dos que têm Trump como o Anticristo e certa a sua reeleição talvez estejam agora a se perguntar se conseguiremos sobreviver a um segundo trumpanato ou seremos mesmo aniquilados por um acúmulo de cataclismos climáticos. Por acreditar que o apocalipse, climático ou trumpista, não é para o meu tempo e me desagradar a hipótese de chegar ao fim sem conhecer direito o nosso começo, retorno à questão primordial: como e quando, exatamente, se deu a aurora do mundo?

Um big-bang? Um coruscante raio de luz, acompanhado da voz de Deus? Um tremendo son & lumière, infelizmente sem plateia? Cientistas ainda fazem cálculos. Lutero, que não era cientista, fez as suas contas – e errou. No século 17, o arcebispo irlandês James Usher teve o desplante de apresentar uma data precisa para o nascimento disso que aí ainda está: 23 de outubro de 4.004 a.C., às 18h. Só muito depois alguém o contestou. Após investigações, dr. John Lightfoot, vice-reitor da Universidade de Cambridge, concluiu que o mundo não nasceu às 6 da tarde – e sim às 4 da manhã, a mesma hora em que saía de casa pro batente o Zé Marmita daquela marchinha consagrada por Marlene no carnaval de 1953.

Se não sabemos com exatidão quando e de que forma o mundo surgiu, como não duvidar do que por aí contam a respeito da origem do ser humano sem conjunção carnal? Se Adão veio do barro e Eva, da costela de Adão, o casal com umbigo que você andou vendo em pinturas e naquele épico bíblico filmado por John Huston era falso.

Quanto à história da maçã, foi a primeira metáfora que a humanidade conheceu. Ou o primeiro episódio da Bíblia com cena de sexo implícito. Em cima de outra marchinha carnavalesca, esta lançada por Jorge Veiga, no carnaval de 1954, a molecada da época fez uma paródia do que parece ter ocorrido no Paraíso depois de Adão descobrir o que se ocultava atrás da folha de parreira de Eva: “A história da maçã / é pura safadeza. Adão comeu a Eva / e a maçã de sobremesa”.

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Como não podia deixar de ser, Adão também foi o primeiro homem a ter uma ereção. Eis outra questão transcendental. Hoje qualquer um sabe que mistérios há por trás de uma ereção. Mas, se embarcássemos numa máquina do tempo e fôssemos bater na Grécia do século 4.º a.C., ficaríamos chocados com o que então se falava sobre a intumescência peniana. Para Aristóteles, a ereção era fruto da ação de uma série de verduras, legumes e frutos do mar no organismo humano. Se o grande filósofo da Grécia explicava a ereção nesses termos, imagine que explicações o populacho local dava à menstruação.

Professor deixa R$ 25 milhões para USP: ‘Sou um ex-milionário sem nunca ter sido’, OESP

“Sou um ex-milionário sem nunca ter sido”, afirma o professor de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) Stelio Marras. Aos 54 anos, e após percorrer toda a sua trajetória acadêmica e profissional na instituição, ele deixa para a USP um prédio que recebeu de herança, avaliado em R$ 25 milhões, a maior doação que o Fundo Patrimonial da universidade já recebeu.

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Os valores doados ao Fundo Patrimonial, criado em 2021, são investidos e os rendimentos são destinados a iniciativas para o fortalecimento da sustentabilidade financeira da USP e da qualidade do ensino e da pesquisa.

No caso específico do valor doado por Marras, ele fez questão que os rendimentos sejam usados integralmente para o USP Diversa, que concede bolsas de permanência para garantir que alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica não abandonem as salas da universidade e consigam concluir seus cursos.

'Saber viver com simplicidade e modéstia é a maior herança que recebi da minha mãe, do meu pai e do meu irmão, todos falecidos', diz o professor
'Saber viver com simplicidade e modéstia é a maior herança que recebi da minha mãe, do meu pai e do meu irmão, todos falecidos', diz o professor Foto: Felipe Rau/Estadão

O imóvel, que fica em Poços de Caldas, no sul mineiro, onde viveu sua família, funcionava como cinema. “Saí de Minas para fazer faculdade. O prédio que estou doando era do meu pai, imigrante italiano que foi ganhando dinheiro aos poucos”, conta.

“Não me deixei ficar rico ou viver como um. Saber viver com simplicidade e modéstia é a maior herança que recebi da minha mãe, do meu pai e do meu irmão, todos falecidos. O que gosto mesmo é de viver cercado de meus bons amigos, alunos e bons afetos”, diz o professor.

“Em um País com tanta desigualdade, viver como milionário é viver contra a sociedade e o ambiente”, continua.

Ele conta ter tido altos custos com as burocracias relativas à herança. “Me endividei com meus irmãos para que esse prédio viesse a ficar apenas no meu nome, o que gerou altos custos. Aos poucos vou conseguir quitar essa dívida nos próximos anos”, afirma Marras.

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Professor doa valor milionário para a USP

No caso específico do valor doado por Marras, ele fez questão que os rendimentos sejam usados integralmente para o USP Diversa, que concede bolsas de permanência

Mas o importante é que, se eu morrer amanhã, esse prédio não vai ficar entre os descendentes da minha família, que são queridos, mas já têm o bastante. Legar ainda mais recursos para eles não seria o melhor que eu poderia transmitir a eles”, prossegue o pesquisador.

Marras não tem filhos, mas diz que, mesmo se tivesse, não deixaria para eles essa quantia toda. “A boa herança é a da solidariedade.”

Trajetória na USP

O antropólogo fez toda a sua formação na USP. Graduou-se em Ciências Sociais e se formou mestre e doutor pela universidade. Em seguida, tornou-se professor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da faculdade. Lá, inaugurou a área de Antropologia da Ciência e da Tecnologia, onde leciona desde 2010.

Ele diz que relutou em tornar pública a sua doação, mas mudou de ideia ao pensar que o ato poderia inspirar outras pessoas da elite a fazerem o mesmo. “Foi para atrair mais doadores, divulgar gestos de solidariedade social.”

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Em novembro do ano passado, a USP lançou o programa Patronos do Fundo Patrimonial, voltado para a captação de recursos de doadores de alta renda que queiram contribuir com a universidade. “Isso não deveria ser tão surpreendente assim”, afirma.

Marras recebeu uma homenagem em uma pequena reunião com dirigentes da universidade e patronos do Fundo Patrimonial da USP feita na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), a qual também foi criada a partir de uma doação (da coleção de livros do bibliófilo José Mindlin e de sua esposa Guita).

“A BBM é um exemplo claro de como essa parceria faz sentido. A universidade tem capacidade enorme não só para preservar esse acervo, mas, acima de tudo, para potencializar os estudos e disponibilizar o seu conteúdo para a sociedade, contribuindo para o avanço do conhecimento sobre o Brasil”, afirmou o diretor da biblioteca, Alexandre Macchione Saes, durante a homenagem.

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Reunião de Homenagem ao professor Stélio Marras pela maior doação ao Fundo Patrimonial da USP
Reunião de Homenagem ao professor Stélio Marras pela maior doação ao Fundo Patrimonial da USP Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O antropólogo conta que, desde que a doação se tornou pública, tem recebido diversas mensagens. Uma delas o emocionou: uma enfermeira que se formou na USP graças a uma bolsa que recebeu, fruto da doação de outro professor da universidade.

“Fiquei emocionada, pois um gesto como esse, do Prof. Eduardo Panades, permitiu a transformação da história da minha vida. Eu, filha de um cortador de cana e de uma empregada doméstica, iria desistir do curso se não fosse a Bolsa Eduardo Panades. Conclui o Curso de Enfermagem na USP Ribeirão em 2003, fiz mestrado e doutorado. Trabalhei em sua terra natal (Poços de Caldas) por 12 anos e hoje sou professora na Universidade Federal de Alfenas”, diz Cristiane Monteiro, em e-mail enviado ao antropólogo.

Como funciona o Fundo Patrimonial da USP?

O Fundo Patrimonial da USP tem hoje R$ 59 milhões, fruto de nove doações. Além da doação de imóveis, como a de Marras, é possível doar dinheiro ou, via testamento, carros, joias, obras de arte e itens de valor cultural e histórico, como livros, manuscritos, instrumentos musicais, entre outros.

Segundo o Monitor de Fundos Patrimoniais do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), no Brasil existem cerca de 107 fundos ativos, boa parte pertencente a universidades. Juntos, os fundos somam pelo menos R$ 157 bilhões. No mundo, o valor administrado por fundos patrimoniais chega a US$ 1,5 trilhão, segundo estudo da Fundação Dom Cabral.

Os endowments, como são chamados esses fundos nos Estados Unidos, são responsáveis por grande parte do financiamento das maiores universidades americanas, entre elas Harvard, Princeton, Stanford e Yale.