sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Goethe: O divino

 Nobre seja o homem,

Caridoso e bom!
Pois isso apenas
É que o distingue
De todos os seres
Que conhecemos.


 


Glória aos incógnitos
Mais altos seres
Que pressentimos!
Que o homem se lhes iguale!
Seu exemplo nos ensine
A crer naqueles!


 


Pois insensível
É a natureza:
O sol ’spalha luz
Sobre maus e bons,
E ao criminoso
Brilham como ao santo
A lua e as ’strelas.


 


Vento e torrentes,
Trovão e saraiva
Rugem seu caminho
E agarram,
Velozes passando,
Um após outro.


 


Tal a sorte às cegas
Lança mãos à turba
E agarra os cabelos
Do menino inocente
Ou a fronte calva
Do velho culpado.


 


Por eternas leis,
Grandes e de bronze,
Temos todos nós
De fechar os círculos
Da nossa existência.


 


Mas somente o homem
Pode o impossível:
Só ele distingue,
Escolhe e julga;
E pode ao instante
Dar duração.


 


Só ele é que pode
Premiar o bom,
Castigar o mau,
Curar e salvar,
Unir com proveito
Tudo o que erra e divaga.


 


E nós veneramos
Os Imortais
Como se homens fossem,
Em grande fizessem
O que em pequeno o melhor de nós
Faz ou deseja.


 


Que o homem nobre
Seja caridoso e bom!
Incansável crie
O útil, o justo,
E nos seja exemplo
Dos Seres pressentidos.


 


(Trad. de Paulo Quintela)
Das Göttliche, 1783


Goethe: poesias escolhidas
Apresentação: Samuel Pfromm Netto
Editora Átomo: Edições PNA, 2002

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

A era do pix, The News

 

(Imagem: Banco Central | Reprodução)

Quem nunca ouviu um “faz o PIX”? Ano vai, ano vem, e os pagamentos pela modalidade seguem batendo recorde.

No ano passado — é 2023, viu? —, foram +R$ 15 trilhões movimentados O aumento foi de 40% no ano a ano. Para se ter noção, o PIB do Brasil em 2022 fechou em R$ 9,9 tri.

  • São +158M de contas cadastradas no PIX, sendo 144M de pessoas físicas. É, nada mal para um país com 200 milhões de habitantes…

Fato é que as transações via PIX já superaram todas as outras modalidades, e, em 2022, o sistema digital virou o meio de pagamento mais usado em todo o país.

Próximo alvo: cartão de crédito. O BC preparou algumas novidades para os próximos meses pensando em expandir ainda mais o sistema. Além do chamado “BolePIX”, as duas principais são o PIX agendado e o PIX parcelado.

No agendado, a ideia é que todos aqueles valores que você paga com certa recorrência sejam pagos automaticamente, sem você nem sentir — só no bolso. risos.

Ou seja, as mais variadas contas e até assinaturas de streamings vão poder ser pagas via PIX mês a mês. Some isso à possibilidade de parcelar pagamentos e… pra quê cartão de crédito?

A relevância: As empresas têm todos os motivos para amar tudo isso, já que hoje elas precisam firmar acordos com cada banco para permitir pagamentos mensais automáticos. Com o PIX, tudo fica centralizado num sistema único.

Hélio Schwartsman- Gula obscena, FSP

 É meio escandalosa a decisão do Parlamento de reservar R$ 4,9 bilhões do Orçamento para o fundo eleitoral destinado aos partidos no pleito deste ano. Nas eleições municipais de 2020, a verba foi de R$ 2 bilhões. E vale recordar que isso é só parte da conta. As milionárias despesas com o horário de rádio e TV, por exemplo, são pagas por meio de abatimento nos impostos das empresas de telecomunicações.

Sobre as negociações dos dois novos partidos políticos do Brasil para filiar cerca de 50 deputados federais que envolvem a entrega a eles do comando político das siglas nos Estados e a promessa de um generoso rateio do dinheiro do Fundo Partidário, algo entre R$ 3 e R$ 3,80 por voto recebido pelos congressistas. Os partidos Solidariedade e Pros (Partido Republicano da Ordem Social), que foram chancelados no dia 23 de setembro pela Justiça Eleitoral, vão receber mais de R$ 30 milhões por ano dos cofres públicos em recursos do fundo, que é uma das principais fontes de financiamento das legendas. Diz legenda: "No seu partido ou no meu?"
Charge de João Montanaro, de 2013, sobre repartição de verbas do fundo partidário entre novos partidos - João Montanaro - 27.set.2013/Folhapress

Estou entre os que acham preferível custear pleitos com recursos públicos à situação anterior, em que eram firmas privadas que injetavam o grosso do dinheiro usado nas campanhas. A captura de políticos por interesses particulares ficava muito favorecida. Mas a mudança de paradigma, determinada por uma decisão do STF de 2015, não implica que devamos destinar cada vez mais recursos públicos às eleições, muito pelo contrário.

Penso que as campanhas podem e devem ser muito modestas, franciscanas mesmo. Há uma série de atividades em que a quantidade de dinheiro que é investido impacta na qualidade final. Prédios construídos com materiais mais nobres são melhores que os edificados com acabamento vagabundo; comidas feitas com ingredientes de primeira são mais saborosas que as cozinhadas com itens inferiores.

Esse, porém, não é o caso de eleições. Não importa qual seja o total investido, serão eleitos sempre o mesmo número de governantes e parlamentares. E não há nenhum indício de que gastando mais obtemos melhores representantes. Mais, como a quase totalidade das verbas vêm do fundo eleitoral, uma redução uniforme dos montantes pouco afeta a disputa.

 O plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante a sessão de posse dos parlamentares eleitos
O plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante a sessão de posse dos parlamentares eleitos - Pedro Ladeira - 1º.fev.2023/Folhapress

superdimensionamento das verbas serve principalmente para fortalecer os caciques dos partidos, que viram fazedores de reis, e para dar aos parlamentares que já exercem mandato uma vantagem, a meu ver indevida, sobre candidatos que os desafiem.

O interesse público exigiria a redução do fundo eleitoral, jamais aumentos obscenos.