segunda-feira, 9 de outubro de 2023

ESTADÃO / ECONOMIA Como a ‘supercana’ brasileira vai ajudar o País na transição energética

 Uma cana-de-açúcar turbinada, 40% mais produtiva que a média daquelas cultivadas atualmente, resistente a insetos, ervas e fungos e mais tolerante a herbicidas deve chegar em breve ao mercado para cultivo.

A nova variedade está sendo desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) - uma empresa especializada em pesquisas no setor, com sede em Piracicaba (SP) - há oito anos. Melhorada geneticamente, é uma das apostas dos produtores para garantir o abastecimento de açúcar e etanol, mesmo com aumento da demanda.

O centro também trabalha no lançamento de sementes sintéticas que vão facilitar o plantio e reduzir os custos de produção, além de cana transgênica, resistente a várias doenças. O Brasil é o maior produtor de cana do mundo, com 650 milhões de toneladas ao ano (ver quadro).



Com os planos das montadoras de aumento da produção local de automóveis híbridos flex e do uso do etanol como propulsor do hidrogênio para carros a célula de combustível - além do projeto do governo federal de aumentar a mistura na gasolina de 27% para 30% -, a demanda pelo produto vai crescer. O etanol também é estudado como matéria-prima para o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e para movimentar navios.

Incentivos ao uso do etanol em novas tecnologias de mobilidade devem ser incluídos no programa Mobilidade Verde e Inovação (antigo Rota 2030), a ser anunciado nos próximos dias pelo governo, que vê o combustível renovável da cana como essencial no processo de descarbonização do transporte no País.

Nesse cenário, existe um receio de que possa faltar álcool, como ocorreu no passado. Mas, além da super cana, outras opções começam a ganhar espaço na produção do combustível, como milho e cereais, sem riscos de substituição de seu uso como alimentos, segundo os produtores. Hoje, mais de 80% do etanol produzido no País vêm da cana.

Sede do CTC em Piracicaba (SP), que cria variedades de cana mais produtivas
Sede do CTC em Piracicaba (SP), que cria variedades de cana mais produtivas • WERTHER SANTANA/ESTADÃO

“Estamos num momento muito positivo em que o etanol está sendo reconsiderado como o combustível do futuro”, diz Fábio Hayashida, diretor de Recursos Humanos e de Comunicação do CTC. Segundo ele, a cana é a cultura mais eficiente na captura de carbono em comparação ao milho e à soja. Além disso, o Brasil tem clima adequado para cultivo, manejo sustentável e custo global de produção mais competitivo.

A empresa CTC vai abrir seu capital para negociar ações na Bolsa de Valores. O pedido de IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial já foi feito. Entre seus 90 acionistas atuais estão grupos como Copersucar, Raízen e Usina São Martinho. Emprega 500 profissionais, 60% na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). “Nosso foco é desenvolver tecnologias disruptivas”, diz Hayashida.

“Estamos num momento muito positivo em que o etanol está sendo reconsiderado como o combustível do futuro”

Fábio Hayashida

Diretor de Recursos Humanos e de Comunicação do CTC

O processo de melhoramento da cana envolve cruzamentos de 1,5 mil variedades. Elas geram cerca de 560 mil mudas que passarão por diversas seleções ao longo de oito a dez anos. Ao final, são selecionadas uma ou duas variedades campeãs que serão lançadas no mercado.

Além de aumentar a produtividade, o processo, também chamado de hibridação, serve para desenvolver plantas resistentes a pragas, insetos e doenças e tolerantes a herbicidas e escassez de água (ver infográfico).


Como se desenvolve uma variedade por melhoramento genético

Luciana Gonçalves Catellani, gerente de melhoramento genético do CTC, afirma que, todos os anos, a avaliação dos processos de melhoramento comprova que as experiências feitas pelo centro “têm resultado em clones de cana mais produtivos do que as já plantadas anteriormente”.

O objetivo do CTC, segundo ela, é desenvolver todos os anos variedades 10% melhores que as anteriores. “Se não for, a gente não lança.” Desde 2011, o CTC investiu R$ 1,2 bilhão em P&D. Processos de melhoramento da cana também são feitos no País pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e pela Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Redesa), mas a transgenia ainda é exclusividade do CTC.

No ano passado, segundo a Unica, foram produzidos no País 31,2 bilhões de litros de etanol, sendo 4,4 bilhões provenientes do milho. Para este ano são esperados 34 bilhões de litros, dos quais 6 bilhões virão do milho. Para 2032, a previsão é de 47 bilhões - 36,1 bilhões da cana, 9,1 bilhões de milho e o restante de outras fontes, como o etanol celulósico, feito a partir do bagaço e das folhas da cana.

REPORTAGEM: CLEIDE SILVA; ILUSTRAÇÕES: FARRELL; EDITORA DE INFOGRAFIA: REGINA ELISABETH SILVA; EDITORES-ASSISTENTES DE INFOGRAFIA: ADRIANO ARAUJO E WILLIAM MARIOTTO; EDITOR DE ECONOMIA: ALEXANDRE CALAIS; CONSULTORIA EM WEBDESIGN E DESENVOLVIMENTOFABIO SALES

PATRIMÔNIO GENÉTICO

O CTC tem 5.500 variedades de cana em Camamu (BA), mantidas como patrimônio genético. Parte já foi usada no desenvolvimento de novas espécies

DESCENDENTES

Do total de mudas, 300 são usadas para criar novas variedades, pois provaram ter alto valor genético e capacidade de transmitir seus genomas





COMBINAÇÕES

Das 300 mudas, são escolhidas as melhores combinações com base em estatística de valor genético, região de plantio e resistência a pragas

CRUZAMENTO

São feitos 1.500 cruzamentos entre as mudas, gerando 560 mil sementes. No CTC de Piracicaba (SP), elas são semeadas em áreas já delimitadas

CONTAMINAÇÃO

As mudas recebem sprays que injetam fungos. As suscetíveis são descartadas. Após dois anos, só 20 mil plantas seguem no processo de seleção

FUNIL

As plantas passam por processos de laboratório, estufa e campo. Seis anos após o plantio das sementes, sobram 150 mudas no funil da seleção

CAMPEÃ

Após 8 anos, são eleitas uma ou duas variedades que irão para o mercado, as campeãs em produtividade, resistência à pragas e adaptação ao clima

Após o lançamento, a cana mais produtiva leva vários anos para ser introduzida em larga escala nas plantações. Como é uma cultura semiperene, ela brota novamente após ser cortada e esse ciclo produtivo dura de cinco a seis anos, em média. A planta só é substituída quando envelhece, e é nesse momento que o produtor renova parte do plantio com a espécie mais atualizada.

“A substituição não é frequente porque o custo do processo é elevado, cerca de R$ 17 mil por hectare”, diz Luiz Antônio Dias Paes, diretor de Vendas do CTC. “Isso faz com que a renovação de tecnologia seja mais lenta.” Hoje, o Brasil tem aproximadamente 10 milhões de hectares de cana plantados.

Segundo Paes, todo ano apenas 15% dos canaviais são renovados, ou seja, 1,5 milhão de hectares. A variedade lançada em 2013, chamada de Elite, é 25% mais produtiva que a média daquelas cultivadas no período, e ocupa atualmente apenas 30% da área plantada. Cada hectare resulta na produção de 12,5 toneladas de açúcar.

Embriões de cana são modificados para gerar plantas imunes a pragas
Embriões de cana são modificados para gerar plantas imunes a pragas • WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Luciano Rodrigues, diretor de Inteligência Setorial da União da Indústria de Cana de Açúcar e Bioenergia (Unica), confirma que, ao contrário da soja e do milho, cujos plantios são renovados anualmente, a renovação da cana é mais lenta.

Ele lembra que, há cerca de 20 anos, já se discutia o desenvolvimento de variedades transgênicas da soja e do milho que, por serem commodities, atraíram patrocínio de grandes multinacionais.

“A substituição (da variedade) não é frequente porque o custo do processo é elevado, cerca de R$ 17 mil por hectare”

Luiz Antônio Dias Paes

Diretor de Vendas do CTC

Na cana, esse processo foi introduzido só em 2017 com o lançamento, pelo CTC, da primeira cana geneticamente modificada do mundo - uma variedade resistente à broca, doença que afeta canaviais resultando em prejuízos de R$ 6 bilhões ao ano aos produtores.

A transgenia está sendo usada para desenvolver cana com alta resistência às principais pragas que atacam seu cultivo, outro grande foco do CTC. Estão em desenvolvimento, por exemplo, variedades resistentes ao bicudo e a diferentes tipos de insetos e doenças, como a ferrugem, além de variedades tolerantes aos herbicidas e à seca.

Nesse processo, o objetivo é agregar valor às variedades já existentes para blindá-las ainda mais de ataques de seus “predadores”. O processo ocorre em paralelo ao do melhoramento genético.

Ataque em Israel revela que o Hamas é mais preparado e armado do que se sabia; leia a análise, Roberto Godoy- OESP

 Na madrugada de sábado havia luar sobre a Faixa de Gaza. Os 2,3 milhões de habitantes de uma área 10% menor que o centro urbano de São Paulo acordaram com um ruído grave.


E foi aí que o céu noturno despejou fogo sobre as ruas, as cabeças, os poucos carros, muitas pessoas. Os 2.200 (talvez 5.400) foguetes livres (sem guiagem eletrônica) e mísseis (com direcionamento eletrônico) atravessaram os poucos quilômetros de fronteira que isolam o enclave. Cerca de 700 toneladas de explosivos foram despejadas.

O ataque sem precedentes mostrou que os terroristas do Hamas estão mais organizados — e muito mais armados — do que se tinha notícia. A tropa anfíbia, equivalente a fuzileiros navais, que invadiu Israel por mar com barcos de pesca de pequeno porte, era até então desconhecida. Assim como ocorreram sem notícia os treinamentos nas colinas de Golã para incursão aérea com uso de paragliders.

Agora, o centro de estudos estratégicos da Universidade de Georgetown, em Washington, estima que o Hamas tenha 40 mil militantes. O número é muito superior ao que se acreditava anteriormente (algo de 8 a 12 mil pessoas entre simpatizantes e combatentes treinados).

É, no entanto, uma força muito menor que o poderoso exército israelense, com 600 mil soldados e reservistas que podem ser convocados em até 24 horas.

Essa velocidade de mobilização é outro indicativo da eficiência que sempre caracterizou as forças de Israel. O país consegue destacar tropas em 12 horas enquanto o exército americano, o maior do mundo, tem um prazo de até dois dias como meta.


Apesar de toda essa superioridade, os israelenses foram pegos de surpresa por um ataque em larga escala, que exige grande movimentação e deixa rastros, como o fornecimento de centenas de mísseis e foguetes.


Projéteis esses que têm alcance variado entre 9, 15, 40 e até 220 km. E seriam entregues por diferentes fontes. A Coreia do Norte, por exemplo, enviou uma delegação ao pequeno complexo bélico na Faixa de Gaza.


Recentemente também estoques desviados da era Saddam Hussein no Iraque (1994 a 2003) e Muammar Gaddafi na Líbia (1969 a 2011) voltaram ao mercado. Embora não esteja comprovado que tenham chegado às mãos do Hamas, alguns foguetes utilizados agora parecem compatíveis.



O Irã, por sua vez, possui 120 indústrias de armas e, e segundo fontes do próprio Hamas disseram ao jornal The Wall Street Journal, teria ajudado na investida programada desde agosto e autorizada na semana passada sem ser percebida por Israel.


Pego de surpresa, o país agora contra-ataca. Sua força de blindados foi posicionada nos arredores de Gaza e o mundo observa até onde vai a reação do governo Binyamin Netanyahu, que além do poder de fogo dispõe de armas mais sofisticadas e eficientes.


Em um golpe para o Hamas, as chamadas bombas inteligentes destruíram o prédio onde operava o serviço de inteligência do grupo. Quase uma tonelada de explosivos, e a construção veio abaixo.

A escalada neste momento parece inevitável e preocupa. Isso porque, embora sempre tenha negado, Israel é uma potência nuclear, que teria cerca de 200 armas entre projéteis de artilharia e mísseis (táticos e estratégicos). É o programa Jericó. Apesar do mistério que cerca as suas instalações ditas civis, uma história da guerra do Yom Kippur, há exatos 50 anos, aponta os riscos do conflito.

Em 1973, quando Israel foi alvo de uma invasão das tropas do Egito e da Síria, o general Ariel Sharon teria ameaçado reagir com uma bomba nuclear no Cairo. O avião com a ogiva teria dado início a viagem e recuado com a contenção das tropas egípcias. Embora o relatos não tenham sido comprovados, indicam que Israel dispõe de um arsenal nuclear e poderia usá-lo.

Becky S. Korich - Sua ligação é muito importante para nós, FSP

 Apesar de saber que a minha ligação é muito importante para os bancos, operadoras de telefonia móvel, seguradoras, plataformas de streaming e outros tipos de prestadoras de serviços, não entendo por que os canais de atendimento me tratam com tanto descaso.

A espera, a música, os ramais, o supervisor, a ligação que cai, o recomeço da saga e, claro, os gerúndios —sim, eles ainda nos rondam.

"Me desculpe senhora, a senhora vai ter que estar ligando para outro número, deseja anotar senhora?" ... "te ajudo em algo mais senhora?" Já tentei explicar que "algo mais" pressupõe um "algo", mas a atendente (humana) educadamente me responde (mecanicamente) que compreende a minha insatisfação, porém não pode fazer nada "mais" por mim, senão pedir que eu espere na linha para avaliar o atendimento.

Funcionários de empresa de telemarketing; robôs estão substituindo profissionais - Mathilde Missioneiro - 8.set.2022/Folhapress

Para piorar o cenário, a maioria dos atendimentos hoje é realizada por robôs. Portanto: ou somos atendidos por pessoas sendo robôs, ou por robôs tentando ser gente. Para aprimorar e conferir mais humanidade aos chatbots, foram desenvolvidos processos de linguagens (como o PLN, LLM e afins) para ampliar o entendimento das máquinas.

Tenho percebido vozes menos mecânicas, algumas até entusiasmadas, para nos dar a sensação de que realmente existe do outro lado da linha um ser sensível aos nossos problemas.

O auge do realismo —e dos meus nervos— acontece quando sou obrigada a ouvir o som de digitação enquanto a máquina raciocina, tão real quanto as trilhas de risadas que eram usadas nos sitcons.

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As opções oferecidas são limitadas, geralmente quatro ou cinco, que raramente incluem o nosso caso. Quando somos instados a pronunciar o motivo da ligação, temos que adivinhar a palavra mágica para que a máquina prossiga.

Apesar da tecnologia desenvolvida para detectar a linguagem humana de forma mais precisa, o que acontece é o oposto: somos nós que temos que pensar como os chatbots para sermos compreendidos.

Na última experiência que tive desse loop interminável de interações inúteis, me ouvi repetindo várias vezes a minha demanda, aumentando progressivamente o volume da voz como se isso fosse facilitar a comunicação, até que, farta, desisti e encerrei a conversa com um alto e bom som "ah, vai cagar", ao que a máquina responde, "entendi, você deseja pagar".

Esse é um assunto antigo, mas que nunca envelhece. Parece que existe uma engenharia voltada para engendrar novas formas cada vez mais sofisticadas de como não resolver problemas. Na hora da contratação as coisas funcionam perfeitamente, basta um clique para concretizar o negócio.

É quase como um casamento, só que em vez do "sim" damos o "clique". O problema é o depois, quando somos obrigados a percorrer um caminho tortuoso e torturante para fazer a coisa funcionar.

A vida é feita de escolhas.