quarta-feira, 3 de maio de 2023

Encarar sentimentos ruins como algo saudável aumenta a satisfação com a vida, NYT FSP

 

Melinda Wenner Moyer
THE NEW YORK TIMES

Ficamos nervosos com uma apresentação que temos que fazer no trabalho –e então lamentamos nossa falta de autoconfiança. Nos aborrecemos com um parceiro e então nos sentimos culpados por sermos impacientes. Não há dúvida de que nossas emoções influenciam nosso bem-estar –mas pesquisas recentes sugerem que o modo como julgamos essas emoções e reagimos a elas podem nos afetar ainda mais.

Em um estudo publicado em março no periódico Emotion, pesquisadores descobriram que pessoas que habitualmente consideram sentimentos negativos –como tristeza, medo e raiva, por exemplo—como maus ou inapropriados apresentam mais sintomas de ansiedade e depressão e sentem menos satisfação com a vida do que aqueles que geralmente encaram suas emoções negativas sob ótica positiva ou neutra.

Acolher sentimentos negativos de forma positiva ou neutra promove satisfação com a vida - Giampaolo/Adobe Stock

Essas descobertas se somam a um conjunto crescente de estudos indicando que as pessoas vivem melhor quando aceitam suas emoções desagradáveis e as encaram como algo apropriado e sadio, em vez de tentar combater ou reprimir essas emoções.

"Muitos de nós acreditamos implicitamente que as próprias emoções negativas em si são ruins, que elas nos farão mal de alguma maneira", diz Iris Mauss, psicóloga social que estuda emoções na Universidade da Califórnia em Berkeley e é coautora do novo estudo. Mas, segundo ela, na maior parte do tempo, "emoções não nos fazem mal."

"No final das contas, o que realmente provoca sofrimento é como julgamos essas emoções."

POR QUE JULGAR EMOÇÕES PODE SER RUIM

Quando enxergamos nossas emoções como sendo erradas, acrescentamos mais emoções ruins às que já estavam presentes e então nos sentimos ainda pior, afirma Emily Willroth, da Universidade Washington em St. Louis e coautora do novo estudo. É provável que isso intensifique nossos sentimentos negativos e os prolongue. Em vez de uma emoção desaparecer naturalmente depois de alguns minutos, "você pode continuar a remoendo por uma hora", diz ela.

Evitar ou reprimir emoções também pode ser contraproducente. Em um ensaio clínico pequeno, pesquisadores pediram que pessoas colocassem uma mão num banho de água fria, quase congelante, e então aceitassem a sensação de dor ou a reprimissem. As pessoas que tentaram suprimir a sensação relataram sentir mais dor e não conseguiram suportar a água gelada por tanto tempo quanto as que aceitaram o desconforto. Outras pesquisas vincularam a repressão de emoções a um risco aumentado de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

"Aquilo ao qual resistimos persiste", pontua Amanda Shallcross, médica naturopata da Clínica Cleveland que estuda a regulação emocional. Quando você evita suas emoções, "certamente terá saúde mental e física negativa no mais longo prazo".

Pesquisas também sugerem que, se você tem o hábito de julgar suas próprias emoções negativamente, será mais afetado quando enfrentar uma situação estressante. Em um estudo de 2018, Mauss e seus colegas perguntaram a pessoas se elas tendiam a aceitar suas emoções ou julgá-las como más. Então pediram às pessoas que fizessem um discurso de três minutos sobre suas qualificações para um emprego –uma tarefa que sabidamente induz estresse.

Os participantes que disseram que não costumam aceitar suas emoções relataram sentir mais emoções negativas quando fizeram o discurso. Num experimento de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que as pessoas que geralmente não aceitavam as próprias emoções relataram menos bem-estar psicológico e apresentaram mais sintomas de depressão e ansiedade seis meses mais tarde.

COMO FAZER AS PAZES COM SUAS EMOÇÕES

Para começar, lembre-se que emoções desagradáveis são parte da experiência humana. "Nenhuma emoção é inerentemente ruim ou inapropriada", afirma Willroth. Emoções negativas podem até ter um propósito. "A ansiedade pode nos ajudar a enfrentar um perigo potencial, a raiva pode nos ajudar a nos defender e a tristeza pode indicar a outras pessoas que estamos precisando do apoio delas."

Quando você tem uma emoção negativa, não precisa curtir a emoção –procure apenas encará-la com atitude neutra. O novo estudo descobriu que pessoas que reagiram de maneira neutra são tão psicologicamente sadias quanto as que reagiram mais positivamente. Shallcross sugeriu que você aborde a emoção com curiosidade e "use seu corpo e sua experiência como laboratório: ‘o que há aqui?’".

Também pode ser útil se lembrar que essa emoção negativa não estará presente para sempre. "As emoções costumam ter duração curta", pontua Willroth. "Se simplesmente as deixarmos passar, com frequência elas se resolvem em questão de segundos ou minutos."

A prática e a experiência também facilitam a aceitação emocional. O bem-estar emocional cresce com a idade, e a pesquisa de Shallcross descobriu que isso pode se dever parcialmente ao fato de que as pessoas geralmente aceitam suas emoções melhor à medida que envelhecem.

É importante destacar que acolher suas emoções não é a mesma coisa que aceitar as situações que suscitam emoções negativas.

"Quando falamos em aceitar emoções, as pessoas muitas vezes interpretam isso como sendo ‘você precisa ser tolerante, só isso’" diz Brett Ford, psicóloga da Universidade de Toronto que estuda como as pessoas lidam com suas emoções. Mas essa não é a conclusão correta. Na realidade, a aceitação emocional deve facilitar a mudança: se não dedicarmos tempo e energia à crítica de nossas emoções, teremos mais tempo e energia para melhorar nossa vida e mudar o mundo.

Tradução de Clara Allain

Luxa, malandro que é de Madureira, sabe o tamanho da encrenca que tem pela frente no Corinthians, Robson Moreira - OESP

 A terra arrasada que Vanderlei Luxemburgo encontrou em sua volta ao Corinthians se deve à má gestão do clube. O treinador não ficou desanimado no seu primeiro dia de trabalho após a derrota em casa para o Del Valle na Libertadores nem com a falta de ânimo no vestiário com tantas notícias ruins. Mas entendeu o terreno em que está pisando: o elenco é pobre, não existe um time formado com funções definidas e jogadas claras, não há dinheiro para mudar esse cenário e a corda está no pescoço em relação às competições, como a Libertadores, na qual precisa agora ganhar jogos fora de casa.

Pior. Luxemburgo descobriu que os jogadores estão no limite mental após tantas cobranças, como disse o goleiro Cássio, vazado duas vezes na partida desta terça-feira. “Estamos no limite psicológico”, disse, referindo-se às mudanças recentes de treinador. O Corinthians tinha Fernando Lázaro, depois contratou Cuca, teve Danilo e agora a vaga é de Luxemburgo. A gestão do futebol não existe e os atletas pagam o pato, porque são eles que recebem as vaias após os tropeços.

Luxemburgo estreia com derrota no comando do Corinthians na Libertadores: 2 a 1 em casa diante do Del Valle
Luxemburgo estreia com derrota no comando do Corinthians na Libertadores: 2 a 1 em casa diante do Del Valle Foto: André Penner / AP

Por mais boa vontade que todos tenham em campo, e não faltou empenho no time diante do Del Valle, a bagunça tática é grande. Não há posição definida, não há jogadas, todos querem resolver e correm por todos os setores do gramado de forma desorganizada. É um time de pelada. Falta até entrosamento, que gera erros bobos como foi a jogada do segundo gol do rival na Neo Química Arena.

Por mais críticos que somos em relação à fragilidade do elenco, não é hora de condenar esses jogadores. Eles são os menos culpados. A diretoria corintiana não sabe o que está fazendo há tempos, perdida que está no futebol, o bem mais precioso do clube depois de sua torcida. As movimentações são equivocadas na maioria das vezes. Não se sabe se o time vai pela direita ou pela esquerda. Se quer mostarda ou ketchup em seu cachorro quente. Não há comando e todos são envolvidos numa única necessidade iminente, a de ganhar jogos. Tratam o resultado das partidas como meio e não como consequência.

Luxemburgo, malandro que é de Madureira, já percebeu isso. Ele vai ter de ser treinador, mas também manager para formar um elenco para os próximos cinco anos. Se deixarem. Não há no Corinthians ninguém que pense isso. O clube vê seus rivais se movimentarem e ele mesmo vai ficando para trás nessa reconstrução. O Palmeiras está anos luz à frente. O São Paulo tem uma reforma em marcha, o Santos está empenhado em seu estádio e terá de se sustentar em campo com o que tem. Adversários de outros Estados são melhores no jogo e na gestão. Nesse quesito, daria para apontar pelos menos uns dez clubes mais bem organizados do que o Corinthians.

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A gestão corintiana nunca foi tão fraca. O time não tem nada a oferecer para seus torcedores. Nada. Não fosse a paixão e a eterna esperança dos corintianos que lotam o estádio em Itaquera, o time estaria em situação mais delicada. O presidente Duílio Monteiro Alves ficará no comando até dezembro de 2023. É preciso saber disso. 

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Luxemburgo, com todos os seus defeitos, é o único em condições de tirar esse clube da miséria esportiva em que se encontra. Já fez isso antes. Nada o assusta. O clube precisa baixar as portas para um balanço. Balanço de verdade. Ou muda ou morre. Tem de reformular o elenco. Colocar para fora colaboradores amigos. Dispensar jogadores. Contratar atletas mais baratinhos e em grande quantidade para fazer uma peneira. De 30, ficar com cinco. E assim até formar um elenco razoável. O Palmeiras fez isso lá atrás. Sem mudar gente e postura, não dará certo. É preciso chacoalhar a árvore e se livrar de alguns galhos, os podres. Olhar para o futuro sem deixar de lado a preocupação com o presente. Não é fácil, mas precisa ser feito.

O Corinthians é grande demais para estar nessa condição. Agora, vai ter o Atlético-MG na Copa do Brasil e tem o Brasileirão com pedreiras em todas as rodadas. A Libertadores vai dar uma folga de três semanas, tempo que Luxa terá para fazer desse bando um time minimamente organizado. Com todo respeito.

PL da discórdia, editorial FSP

 Um paradoxo notável acompanha as discussões sobre o projeto 2.630/2020, que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, apelidado de "PL das Fake News": o debate transcorre de forma tardia e açodada ao mesmo tempo.

Tardia porque as chamadas "big techs" há muito entregam riscos e desafios de monta para a sociedade. Ameaças à democracia, ataques a escolas e danos à saúde mental de crianças são capítulos recentes e eloquentes nessa história.

E açodada porque uma regulação complexa como essa não se resolve de afogadilho. Não são poucos os dilemas em tela. Para ficar num só caso, nunca foi fácil limitar a liberdade de expressão sem resvalar na censura —e não se imagina que os congressistas resolvam o impasse numa votação a toque de caixa.

Ainda que o projeto de lei date de 2020, mais de um terço dos artigos ora em exame entrou no texto recentemente. Sem que os legisladores e a sociedade possam analisar e debater os dispositivos, são grandes as chances de serem aprovadas regras sustentadas em hipóteses fantasiosas ou voltadas à defesa de interesses particulares.

Exemplo disso está na exceção que os políticos querem abrir para si próprios, conferindo imunidade às postagens de parlamentares. Vale dizer, as novas regras, se sancionadas, incidirão sobre todos, menos quem as aprovou.

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Por razões diferentes, a pendenga em torno do órgão regulador também sugere cautela. É mais que razoável o receio de que o lusco-fusco normativo faculte a criação de um aparato estatal com as pavorosas atribuições de um Ministério da Verdade, quando o poder de decidir o que é ilegal nas redes deveria caber apenas ao Judiciário.

Em uma frente mais assentada, o projeto incorpora a ideia, já experimentada em outros países, de remunerar conteúdo jornalístico que aparece nas buscas e nas redes sociais, como defende a Associação Nacional de Jornais (ANJ), integrada por esta Folha.

Ao longo da tramitação, outras questões menos sedimentadas precisarão ser enfrentadas, como a regulação de algoritmos, o ingresso de dispositivos como o Discord e a proibição do anonimato —vedado, aliás, pela Constituição. Nada recomenda enfrentar tantos dilemas sem a devida reflexão.

O debate, ademais, está contaminado por suspeitas como a de que o Google usa seu serviço de busca contra o PL —e as reações exageradas de Flávio Dino, ministro da Justiça, e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Entre os interesses dos políticos e os das "big techs", quem pode sair perdendo é a sociedade. O projeto de lei acerta ao propor um tripé: liberdade, responsabilidade e transparência. Que os congressistas saibam aplicá-lo integralmente.

editoriais@grupofolha.com.br