Ficamos nervosos com uma apresentação que temos que fazer no trabalho –e então lamentamos nossa falta de autoconfiança. Nos aborrecemos com um parceiro e então nos sentimos culpados por sermos impacientes. Não há dúvida de que nossas emoções influenciam nosso bem-estar –mas pesquisas recentes sugerem que o modo como julgamos essas emoções e reagimos a elas podem nos afetar ainda mais.
Em um estudo publicado em março no periódico Emotion, pesquisadores descobriram que pessoas que habitualmente consideram sentimentos negativos –como tristeza, medo e raiva, por exemplo—como maus ou inapropriados apresentam mais sintomas de ansiedade e depressão e sentem menos satisfação com a vida do que aqueles que geralmente encaram suas emoções negativas sob ótica positiva ou neutra.
Essas descobertas se somam a um conjunto crescente de estudos indicando que as pessoas vivem melhor quando aceitam suas emoções desagradáveis e as encaram como algo apropriado e sadio, em vez de tentar combater ou reprimir essas emoções.
"Muitos de nós acreditamos implicitamente que as próprias emoções negativas em si são ruins, que elas nos farão mal de alguma maneira", diz Iris Mauss, psicóloga social que estuda emoções na Universidade da Califórnia em Berkeley e é coautora do novo estudo. Mas, segundo ela, na maior parte do tempo, "emoções não nos fazem mal."
"No final das contas, o que realmente provoca sofrimento é como julgamos essas emoções."
POR QUE JULGAR EMOÇÕES PODE SER RUIM
Quando enxergamos nossas emoções como sendo erradas, acrescentamos mais emoções ruins às que já estavam presentes e então nos sentimos ainda pior, afirma Emily Willroth, da Universidade Washington em St. Louis e coautora do novo estudo. É provável que isso intensifique nossos sentimentos negativos e os prolongue. Em vez de uma emoção desaparecer naturalmente depois de alguns minutos, "você pode continuar a remoendo por uma hora", diz ela.
Evitar ou reprimir emoções também pode ser contraproducente. Em um ensaio clínico pequeno, pesquisadores pediram que pessoas colocassem uma mão num banho de água fria, quase congelante, e então aceitassem a sensação de dor ou a reprimissem. As pessoas que tentaram suprimir a sensação relataram sentir mais dor e não conseguiram suportar a água gelada por tanto tempo quanto as que aceitaram o desconforto. Outras pesquisas vincularam a repressão de emoções a um risco aumentado de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.
"Aquilo ao qual resistimos persiste", pontua Amanda Shallcross, médica naturopata da Clínica Cleveland que estuda a regulação emocional. Quando você evita suas emoções, "certamente terá saúde mental e física negativa no mais longo prazo".
Pesquisas também sugerem que, se você tem o hábito de julgar suas próprias emoções negativamente, será mais afetado quando enfrentar uma situação estressante. Em um estudo de 2018, Mauss e seus colegas perguntaram a pessoas se elas tendiam a aceitar suas emoções ou julgá-las como más. Então pediram às pessoas que fizessem um discurso de três minutos sobre suas qualificações para um emprego –uma tarefa que sabidamente induz estresse.
Os participantes que disseram que não costumam aceitar suas emoções relataram sentir mais emoções negativas quando fizeram o discurso. Num experimento de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que as pessoas que geralmente não aceitavam as próprias emoções relataram menos bem-estar psicológico e apresentaram mais sintomas de depressão e ansiedade seis meses mais tarde.
COMO FAZER AS PAZES COM SUAS EMOÇÕES
Para começar, lembre-se que emoções desagradáveis são parte da experiência humana. "Nenhuma emoção é inerentemente ruim ou inapropriada", afirma Willroth. Emoções negativas podem até ter um propósito. "A ansiedade pode nos ajudar a enfrentar um perigo potencial, a raiva pode nos ajudar a nos defender e a tristeza pode indicar a outras pessoas que estamos precisando do apoio delas."
Quando você tem uma emoção negativa, não precisa curtir a emoção –procure apenas encará-la com atitude neutra. O novo estudo descobriu que pessoas que reagiram de maneira neutra são tão psicologicamente sadias quanto as que reagiram mais positivamente. Shallcross sugeriu que você aborde a emoção com curiosidade e "use seu corpo e sua experiência como laboratório: ‘o que há aqui?’".
Também pode ser útil se lembrar que essa emoção negativa não estará presente para sempre. "As emoções costumam ter duração curta", pontua Willroth. "Se simplesmente as deixarmos passar, com frequência elas se resolvem em questão de segundos ou minutos."
A prática e a experiência também facilitam a aceitação emocional. O bem-estar emocional cresce com a idade, e a pesquisa de Shallcross descobriu que isso pode se dever parcialmente ao fato de que as pessoas geralmente aceitam suas emoções melhor à medida que envelhecem.
É importante destacar que acolher suas emoções não é a mesma coisa que aceitar as situações que suscitam emoções negativas.
"Quando falamos em aceitar emoções, as pessoas muitas vezes interpretam isso como sendo ‘você precisa ser tolerante, só isso’" diz Brett Ford, psicóloga da Universidade de Toronto que estuda como as pessoas lidam com suas emoções. Mas essa não é a conclusão correta. Na realidade, a aceitação emocional deve facilitar a mudança: se não dedicarmos tempo e energia à crítica de nossas emoções, teremos mais tempo e energia para melhorar nossa vida e mudar o mundo.
Tradução de Clara Allain
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