quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Edital vai apoiar projetos voltados a promover o uso de resíduo na geração de bioenergia, FSP

 Maria Fernanda Ziegler | Pesquisa para Inovação – A FAPESP e a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sima) lançaram uma chamada conjunta para apoiar projetos de pesquisa que abordam a valorização de resíduos urbanos e agroindustriais com aplicação na bioenergia. O edital, ligado ao Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), recebe propostas até 31 de março de 2022. A FAPESP reservou R$ 13 milhões para apoiar os projetos aprovados.

“A parceria entre a FAPESP-BIOEN e a Sima tem todos os ingredientes no que diz respeito à visão de futuro que buscamos endereçar quanto aos objetivos de desenvolvimento sustentável [ODSs, da Organização das Nações Unidas (ONU]. Outro ponto importante está em aproximar a academia da indústria e das empresas, permitindo transformar descobertas científicas e tecnológicas em inovação e desenvolvimento”, disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, durante a cerimônia virtual de lançamento do edital.

Já há alguns anos, o lixo vem sendo entendido como resíduo que pode ser convertido em grande valor energético. Tanto que há uma busca pelo desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias para a redução do volume dos resíduos e para a geração de energia, riqueza e renda a partir deles.

Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, destacou que a chamada tem como foco central impulsionar a criação de políticas públicas baseadas em evidências. “Acredito que essa chamada será um marco em um tipo de pesquisa que temos reforçado no âmbito da FAPESP como uma ação permanente. Além dessa parceria com a Sima, temos trabalhado com outras secretarias e também com o esforço dos diversos programas da Fundação, como o de mudanças climáticas [PFPMCG], o de biodiversidade [BIOTA] e o BIOEN”, disse.

Os interessados devem elaborar propostas de pesquisa em uma das cinco áreas temáticas e prioritárias da chamada. Entre os temas estão o tratamento e pré-processamento de resíduos; desenvolvimento de rotas de conversão e aplicação de conceitos de economia circular com fins de redução do impacto ambiental; otimização dos sistemas regionais de coleta e tratamento com vistas à produção de bioenergia; superação de barreiras culturais, institucionais e políticas para a implantação desses sistemas; e processos de produção e uso de biometano e hidrogênio a partir de biogás.

“O Brasil assinou, na COP-26 em Glasgow, o compromisso de corte acentuado das emissões de metano. Dados do inventário de emissões do Brasil mostram que 76,12% vêm do agro e 15,8% da questão de resíduos. Portanto, nada mais importante do que essa chamada que pega nos dois pontos centrais, particularmente sobre a questão de energia e da diminuição de gases metano”, afirmou o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania – SP), durante o lançamento do novo edital.

A chamada conta com cinco modalidades de apoio. Três delas são instrumentos de fomento à pesquisa (Auxílio à Pesquisa – RegularAuxílio à Pesquisa – TemáticoAuxílio à Pesquisa – Jovem Pesquisador) e as outras duas de fomento à inovação (Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica – PITE e Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas – PIPE). Esses dois últimos programas apoiam a execução de pesquisa científica e tecnológica em micro, pequenas e médias empresas no Estado de São Paulo.

“A chamada tem um grande potencial de multiplicar o impacto da pesquisa e criar sinergias entre a academia e a indústria", disse Glaucia Souza, professora do Instituto de Química da USP e membro da coordenação do BIOEN.

“Essa parceria é fundamental, pois é a soma de atores que nos leva a prosseguir na busca de soluções para o meio ambiente”, completou o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Marcos Penido.

Mais informações: https://fapesp.br/15182/chamada-de-propostas-fapespbioen-pesquisas-em-valorizacao-de-residuos-urbanos-e-agroindustriais-para-bioenergia.
 

Palavras-chave: bioenergia, resíduos, sustentabilidade

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Ponte na Raposo Tavares tem pilares deteriorados e preocupa motoristas; DER prevê reparos, OESP

 José Maria Tomazela e Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo

11 de janeiro de 2022 | 10h00

PIRAJU (SP) - Uma ponte na Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Piraju, no interior de São Paulo, está com avarias aparentes na estrutura, o que tem preocupado moradores da região e usuários da estrada. Os problemas são mais visíveis na parte inferior da Ponte Jurumim, que passa sobre o Rio Taquari (no km 295,3) e tem 215 metros extensão, em trecho de pista simples.

Parte do concreto se desprendeu entre os pilares e também na estrutura, expondo parte do aço que sustenta a ponte. O trecho não é concedido e está sob administração do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que prepara uma licitação para obras no local. O órgão disse que realizou vistorias e não há danos estruturais. 

PUBLICIDADE
Pilares de ponte na Rodovia Raposo Tavares estão com concreto desagregado e parte da
Pilares de ponte na Rodovia Raposo Tavares estão com concreto desagregado e parte da 'armadura' exposta Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, um inquérito civil sobre o caso está em andamento. A instituição relatou ter recebido imagens da delegacia local na segunda-feira, 10, para que a promotoria de Justiça de Piraju tome as "eventuais providências".

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a ponte está em deterioração e precisa passar por uma recuperação ou reforço. Segundo eles, os dados disponíveis até o momento, porém, não apontam que a estrutura esteja necessariamente prestes a ruir.

O corretor de imóveis Marcelo Teruel, de Bauru, registrou em vídeo as fissuras ao passar de barco sob a ponte, quando navegava no lago formado pelo represamento do Taquari. Segundo ele, as imagens postadas no último dia 1º tiveram mais de um milhão de visualizações em diferentes plataformas (como TikTok, Instagram e Facebook).

Teruel conta que a estrutura fazia um barulho, como estalos, conforme fluía o tráfego na parte superior. “Vi aqueles pilares deteriorados, com o ferro (aço) exposto”, comenta. O corretor diz ter passado outras vezes no local, mas que o nível da água estava mais elevado e, portanto, não era visível a desagregação do concreto. “O negócio está feio demais”, descreve.

Nesta segunda-feira, 10, a reportagem esteve no local e constatou que a situação segue a mesma. Quatro dos cinco conjuntos de pilares estão com concreto desagregado. Em um deles, a armadura (estrutura de aço essencial para a sustentação) do pilar está exposta. No tabuleiro da ponte, as juntas de dilatação apresentam desníveis, o maior deles com quatro centímetros.  

O DER informou que vai publicar edital de licitação para o reparo da ponte nas próximas semanas, em data ainda não definida. Segundo o departamento, foram realizadas diversas vistorias no local, incluindo subaquática, que não detectaram danos estruturais na ponte. “Os dados colhidos nessas vistorias estão servindo para a confecção do processo licitatório”, informou. 

De 2019, uma norma da ABNT (NBR 9452) prevê a inspeção anual de pontes, viadutos e passarelas de concreto no Brasil. Em nota, o CREA-SP diz estar ciente do caso após ter recebido denúncias, ter acionado as autoridades responsáveis para que realizem a manutenção e recuperação e que acompanhará a situação.

Quatro dos cinco conjuntos de pilares de ponte sobre Rio Taquari, no interior de SP, estão com deterioração visível
Quatro dos cinco conjuntos de pilares de ponte sobre Rio Taquari, no interior de SP, estão com deterioração visível Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

Reparos precisam ser feitos a curto prazo, dizem especialistas

Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que a estrutura precisa passar por reparos ou reforço em um curto prazo, a depender do que for avaliado em uma inspeção técnica. “É um problema urgente. Necessita de recuperação, pelo estado de degradação. Mas não apresenta risco de segurança, a princípio", afirma o engenheiro civil Rafael Timerman, especializado em estruturas e diretor do Instituto de Engenharia. Para ele, não há risco de colapso iminente.

Timerman explica que a avaliação e recuperação da estrutura neste momento, em que está emersa, é mais barata e fácil. Quando fica abaixo do nível da água, também é necessário mobilizar equipes de mergulho e, por vezes, usar outras técnicas e materiais, como aponta o também engenheiro civil Tiago Carmona, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Carmona destaca que a avaliação técnica é necessária em diferentes pontos da ponte para identificar a demanda por reforço ou recuperação. Pelas imagens, avalia que o concreto pode ter passado por um processo erosivo causado pela água, o que ocorre especialmente quando o material não tem resistência adequada para o ambiente e, por isso, talvez seja preciso realizar intervenções em mais trechos da estrutura.

DER informou que vai publicar edital de licitação para o reparo de ponte da Rodovia Raposo Tavares
DER informou que vai publicar edital de licitação para o reparo de ponte da Rodovia Raposo Tavares Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

Na inspeção, é possível, por exemplo, aferir se a parte superior (o “gabarito”) segue segura para o tráfego ou se é preciso fazer alguma restrição, como proibição temporária do tráfego de veículos pesados ou limitação das faixas disponíveis, dentre outros. Ele afirma que não é comum a identificação de estampidos ou outros sons nestes tipos de estrutura. 

“Tem de ser feito o quanto antes, não dá para esperar o período da seca", ressalta. “A situação não é adequada, pode ser classificada como situação de risco. Ações de remediação têm que ser tomadas a curto prazo. Quem for fazer inspeção vai avaliar a urgência.”

Situação preocupa motoristas que utilizam a ponte

O caminhoneiro João Batista Sanches Brito, de Ourinhos (SP), passa várias vezes na semana pela ponte e percebe que a estrutura balança muito quando o caminhão está carregado. “No sentido capital, tem uma saliência que causa um impacto no sistema de amortecimento do veículo. Aliás, todas as juntas estão com saliências e causam sacolejo no veículo. Fizeram a manutenção da estrada, mas não mexerem na ponte”, disse.

Também motorista de caminhão, José Roberlei carrega areia há 30 anos em um porto, ao lado da ponte, e passa diariamente pelo local. Ele conta que viu o vídeo postado por Teruel e se assustou. “A gente percebe que tem algum problema por causa dos solavancos no caminhão, mas não imaginava”, disse.

Roberlei contou que outra ponte, no km 314 da Raposo, também está com problemas. “É a ponte sobre o Rio Paranapanema, que tem a mesma dimensão desta”, disse. A reportagem constatou que, sob a estrutura dessa outra ponte, há folga entre as placas de concreto, por onde vaza a brita do asfalto, e alguns blocos estão fixados com parafusos. Segundo o DER, o local também foi vistoriado, não havendo situação de risco.


Taubaté tenta diversificar economia um ano depois de perder a Ford, FSP

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

Dos quase 20 anos de linha de produção na indústria automobilística, o único hábito que ainda acompanha o engenheiro Vagner Montemor, 37, é a necessidade de rotina. Todos os dias, ele acorda, se arruma e sai para trabalhar, ainda que sua nova atividade permita o home office.

"Sempre tive a rotina de ir até a empresa, então, eu mantive isso", diz. Há pouco mais de seis meses, Montemor virou day trader e trabalha com operações diárias de compra e venda de ações.

Metalúrgicos de Taubaté fizeram uma série de assembleias e manifestações nos dias seguintes ao anúncio da Ford - Claudio Capucho-12-jan.21/Folhapress

Um ano antes, ainda batia cartão diariamente na fábrica da avenida Charles Schnneider, em Taubaté (interior de São Paulo), onde desde a década de 1970 funcionava uma planta industrial da Ford. Nos últimos anos, aquela unidade fabricava motores e transmissões.

Em 11 de janeiro de 2021, a montadora de origem norte-americana anunciou a decisão de se retirar do Brasil, o que resultaria no fechamento de três fábricas. Além de Taubaté, também foram encerradas as linhas em Camaçari (BA) e Horizonte (CE).

Montemor e os cerca de 830 empregados da linha de Taubaté estavam em casa, em licença remunerada, no dia do anúncio. A certeza de que a fábrica seria fechada veio mesmo ao longo de conversas nos grupos de WhatsApp.

[ x ]

Montemor integrou os primeiros grupos que aderiram ao plano de demissão fechado pela Ford em negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. O valor mínimo de indenização fixado foi de R$ 130 mil.

"Logo que o acordo foi anunciado, as áreas de suporte já podiam aderir. Só a manutenção ainda continuaria trabalhando. Achei melhor já sair do que ficar assistindo à fábrica ser desmontada", afirma.

Agora, um ano depois do anúncio, Montemor diz que o tempo como metalúrgico ficou no passado. É hora de virar a página. "Por uns três meses, fiquei em casa digerindo a situação, não procurei nada. Com o tempo, descartei voltar para uma fábrica", afirma.

Como ele, muitos dos ex-metalúrgicos da Ford disseram à Folha que os anos de trabalho na fábrica são águas passadas. "Já não me sinto confortável em falar disso mais. Acabou, passou", disse um deles.

O prefeito José Saud (MDB) estava no cargo há uma semana quando a notícia do encerramento chegou. "Tínhamos acabado de assumir uma nova gestão e, para nossa infelicidade, recebemos a notícia do fechamento. Eram quase 1.500 empregos diretos e indiretos, ficamos muito apreensivos", diz o secretário Alexandre Ferri, de Desenvolvimento e Inovação.

Para Ferri, o impacto do fechamento das vagas só não foi pior porque veio em momento de atividade econômica em baixa, com o setor de serviços –a base da economia no município, ao lado da indústria– ainda fechado.

As cifras dos acordos fechados pela montadora com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté também ajudaram a conter o baque. Foi acertado o pagamento de salários adicionais e bonificações por ano de trabalho na fábrica para quem estava afastado pelo INSS. Os valores variaram de R$ 150 mil a R$ 300 mil.

A adesão ao plano era opcional. Quem não quis teve estabilidade até 31 de dezembro e pode ser demitido mediante indenização.

"Começamos um trabalho para abrir vagas e ao menos melhorar o nível do emprego, ainda que os salários fossem menores", afirma o secretário de Desenvolvimento e Inovação.

A Alstom, fornecedora de estrutura para o transporte ferroviário, expandiu a fábrica de Taubaté e abriu 750 vagas em outubro de 2021. Depois, em novembro, a Volkswagen anunciou um plano de investimentos de R$ 7 bilhões na América Latina, começando pela produção do Polo Track na fábrica da cidade.

"Em plena pandemia ainda conseguimos garantir a oferta de empregos e passamos a investir em diversificação, com mais atenção para turismo e agronegócio e em um hub de tecnologia e inovação que, sozinho, abriu 421 novos postos de trabalhado", diz Ferri.

Segundo dados do Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Previdência, Taubaté chegou a novembro de 2021 (dado mais recente disponível) com saldo positivo em vagas com a criação de 4.440 postos de trabalho. O pior momento do ano foi abril, quando 672 posições foram cortadas no município.

A Ford diz, em nota, que tudo o que estava previsto no acordo com o Sindicato de Taubaté foi cumprido, e os desligamentos, concluídos em 2021. "Continuamos no processo de venda da fábrica e não temos nada relevante para anunciar no momento."