segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Energia solar residencial cresce 53% no ano, impulsionada pelo aumento na conta de luz, OESP

 Denise Luna, O Estado de S.Paulo

15 de novembro de 2021 | 15h00

RIO - O aumento na conta de luz dos brasileiros este ano - que já chega a 25%, principalmente por conta da crise hídrica - deu um impulso extra à energia solar residencial. Segundo dados do Portal Solar Franquias, a capacidade de geração dos painéis instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos em todo o País saltou de 4,7 gigawatts (GW) em janeiro para 7,3 GW no início de novembro, um aumento de 53%. Essa potência equivale a pouco mais da metade da capacidade de geração da usina de Itaipu (14 GW).

Energia solar
As estimativas são de que a adoção da energia solar reduza as contas de luz em pelo menos 50%, podendo chegar a 90% em alguns casos Foto: Felipe Rau/Estadão

No total, a capacidade de geração solar no Brasil atingiu 12 GW na semana passada, incluindo aí tanto os projetos residenciais quanto as usinas de grande porte. Isso significa pouco menos de 7% de toda a capacidade de geração de energia brasileira, de 180 GW. “A evolução desse mercado confirma que cada vez mais os consumidores tomam consciência da necessidade de buscar soluções sustentáveis para enfrentar as elevadas tarifas de energia elétrica e as mudanças climáticas”, diz o CEO do Portal Solar, Rodolfo Meyer.

As estimativas são de que a adoção da energia solar reduza as contas de luz em pelo menos 50%, podendo chegar a 90% em alguns casos. Apesar do investimento nas placas solares não ser baixo - um projeto básico completo sai por volta de R$ 15 mil, segundo dados do Portal Solar -, o investimento acaba se pagando em um período de cinco anos, em média.

Por isso mesmo, as expectativas são de que o crescimento desse segmento siga em aceleração, já que as tarifas de energia devem continuar subindo no ano que vem. A projeção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), conforme informou o Estadão, é que as contas tenham um aumento médio de 21,04% no ano que vem.

“Estamos em um ritmo de crescimento acelerado mesmo com as adversidades do cenário econômico nacional. Para 2022, nem mesmo a elevação dos preços dos equipamentos deverá parar a energia solar no Brasil”, diz Meyer.

Investimentos

De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), essa fonte de energia  já trouxe ao Brasil mais de R$ 60 bilhões em novos investimentos desde 2012. “As usinas solares de grande porte geram eletricidade a preços de até 10% do preço das termelétricas fósseis emergenciais ou da energia elétrica importada de países vizinhos atualmente, duas das principais responsáveis pelo aumento tarifário sobre os consumidores”, diz o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia.

Segundo a Associação, desde 2012 a geração solar evitou a emissão de 13,6 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade. A fonte representa apenas 2% da matriz elétrica brasileira, mas a previsão é de crescimento nos próximos anos no Brasil e no mundo, podendo se tornar a principal geradora de energia até 2050. 

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Segundo a Absolar, essa fonte de energia já trouxe ao Brasil mais de R$ 60 bilhões em novos investimentos desde 2012. Foto: Getty Images

Sauaia destaca que, além de ajudar a reduzir a conta de luz, a energia solar pode ser instalada com mais rapidez do que outras fontes. “Basta um dia de instalação para transformar uma residência ou empresa em uma pequena usina geradora de eletricidade limpa, renovável e acessível.”

Atualmente, as usinas solares de grande porte são a sexta maior fonte de geração do Brasil, com empreendimentos em operação em nove Estados, nas regiões Nordeste (Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) e Centro-Oeste (Tocantins).


sábado, 13 de novembro de 2021

A extinção do feijão com arroz, Cozinha Bruta, Marcos Nogueira, FSP

 

Recebeu menos atenção do que merecia a reportagem de Camilla Veras Mota, para a BBC Brasil, intitulada “Por que os agricultores brasileiros estão deixando de plantar feijão –e o que isso tem a ver com a fome”.

Enquanto o agronegócio tenta nos convencer de que as abelhas trabalham em parceria com os grandes produtores rurais, o prato-símbolo da alimentação brasileira está sumindo do campo. Plantações de arroz e feijão estão sendo substituídas pela soja, sempre ela.

Não é de hoje nem culpa do governo atual, mas uma série de fatos e decisões que têm nos empurrado para o buraco há mais de 40 anos –e que explicam parcialmente a lama em que vivemos agora.

Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento, ligada ao Ministério da Agricultura) mostram a evolução das áreas plantadas desde a safra 1976/77 até a atual, de 2020/21.

Nesse intervalo, as plantações de feijão foram reduzidas em 35%, de 4,9 milhões de hectares para 2,9 milhões de hectares. A área do arroz encolheu para menos de 1/3 do que era nos anos 1970.

Já o cultivo de soja pulou de 6,9 milhões de hectares para 38,9 milhões de hectares. Do Rio Grande do Sul ao Piauí, o Brasil virou um gigantesco campo de soja.

Toda essa soja não está aí para fazer tofu orgânico nem óleo de fritar pastel. É uma commodity com cotação internacional em dólar. E ração para a indústria de carne, outra commodity.

Em suma: desde o século passado, a agricultura brasileira mandou às favas (ops!) as lavouras voltadas para garantir comida na mesa da população. É algo que já estávamos carecas de saber, mas que nunca havia sido desenhado com tanto didatismo.

Houve incremento na produtividade, mas nada que compense a perda de área cultivada. Segundo o texto da BBC, o volume de feijão colhido segue mais ou menos estável desde a primeira aferição, em 1976/77. No mesmo ínterim, a população do país dobrou.

Paralelamente, houve o abandono dos mecanismos para garantir o mínimo de segurança alimentar aos brasileiros.

Para evitar flutuação exagerada de preços, os governos devem manter estoques que suprem a falta deste ou daquele alimento em caso de quebra de safra. O estoque público de feijão, que era de 150 mil toneladas em 2010, está zerado desde 2017.

Ou seja, se a demanda aumentar ou a oferta diminuir, o feijão fica mais caro.

Outro sinal do desdém pelo feijão é a asfixia das pesquisas para melhorar a genética das plantas e as técnicas agrícolas. A grana da pesquisa do feijão agora vai… sim, você acertou, para a soja!

No limite, a opção pelos dólares da soja pode levar à extinção do hábito brasileiro de comer feijão com arroz no almoço, todo dia. Já não dá para comprar carne. Sem feijão, o que comeremos?

Macarrão instantâneo? Bolacha recheada? Fuzis?

Sobre orçamentos e vampiros, Luís Francisco Carvalho Filho, FSP

 

jornalista Gilberto Dimenstein (1956-2020), na época diretor da sucursal da Folha em Brasília, foi processado pelo deputado João Alves (1919-2004) com base na Lei de Imprensa, herança da ditadura.

Em outubro de 1991, o parlamentar era relator da Comissão Mista de Orçamento. Alvo de denúncias e sentindo-se politicamente fragilizado, ameaçava contar tudo que sabia sobre manipulação eleitoral de verbas federais se fosse afastado do cargo, e ficou indignado com a coluna "Guerra de chantagem", de Dimenstein, particularmente com a frase: "colocaram um vampiro para administrar um banco de sangue".

A ação penal seria rejeitada pela Justiça Federal por vícios processuais e o valente jornalista, absolvido pela história.

Deputado federal João Alves (1919-2004), um dos anões do Orçamento - Ailton de Freitas - 20.set.1991/Folhapress

Encerrada a CPI do Orçamento em 1994 (instalada em 1993), João Alves renunciou ao mandato para não ser cassado e ficar inelegível. No eixo da atividade parlamentar, sua riqueza patrimonial teve como explicação mais de 200 prêmios de loteria –façanha por ele atribuída à ajuda de Deus.

O estrepitoso escândalo é lembrado pelo apelido (politicamente incorreto) dado aos corruptos, "Anões do Orçamento".

Lula, ainda radical, presidente do PT, atacou o Congresso Nacional, formado, na sua visão, por "300 picaretas" que só defendiam os próprios interesses, inspirando a música dos Paralamas do Sucesso, gravada em 1995: "Papai, quando eu crescer eu quero ser anão / Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição".

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O mundo gira, República e transparência ficam pelo caminho e, três décadas depois, há constrangedoras (porém saborosas) semelhanças com a atualidade.

Orçamento secreto. Emendas do relator. Abuso de poder eleitoral. Deus. Corrupção. Picaretagem. Chantagem. Vampiros.

Acionado pelo PSOL, o Supremo Tribunal Federal tenta impor um freio de arrumação na compra de votos pelo governo Bolsonaro. Pretende, pelo menos, iluminar os acontecimentos, para que se possa fiscalizar eventual violação dos princípios da moralidade e da impessoalidade na administração pública, essenciais na gestão dos três Poderes.

A reeleição é crucial para que os vampiros de hoje, Arthur Lira et caterva, se mantenham com as rédeas do poder nas mãos. As emendas orçamentárias formam um perigoso passivo a ser, quem sabe, remexido, investigado.

O governo Bolsonaro, criminosamente pão duro com o IBGE e com a ciência, empenhou (em apenas dois dias), nas vésperas da votação do primeiro turno da PEC dos Precatórios, R$ 909 milhões do orçamento secreto.

Prevaleceu no julgamento virtual, encerrado quarta-feira (10), o voto de Rosa Weber, com apenas duas divergências, de Gilmar Mendes e Kassio Nunes, o ministro pedaço de Bolsonaro (10%) no STF. Além da suspensão dos repasses, o governo deve publicar em 30 dias detalhes da execução das despesas de 2020 e 2021.

Mas a semana tem más notícias. O Superior Tribunal de Justiça praticamente legitimou o enriquecimento patrimonial de Flávio Bolsonaro. Encontrou vícios processuais e anulou tudo. A famiglia comemora.

Jair Bolsonaro nomeará 75 desembargadores federais em 2022. O aparelhamento dos Tribunais Regionais Federais será conduzido pelo senador Flávio Bolsonaro, o da rachadinha, o que acaba de conquistar impunidade no STJ, e pelo ministro Kassio Nunes, o que não tem independência para julgar, mas, em compensação, acumula influência e poder.

Por essas e por outras, República e transparência ficam pelo caminho.