A pandemia foi um obstáculo e tanto para as livrarias. Obrigadas a fechar por causa da quarentena, algumas não voltaram e a maior parte ainda amarga só um percentual das vendas normais. Mas nem tudo são lágrimas.
Como mostrou a última pesquisa feita pela Nielsen e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, que contabiliza o faturamento do mercado editorial incluindo vendas online e em grandes plataformas de varejo, o mês de outubro fechou com uma receita 22% maior que em 2019. Alguns livreiros têm aproveitado o ensejo para abrir portas pela primeira vez.
É o caso da Megafauna, uma iniciativa conjunta das editoras Fernanda Diamant e Maria Emília Bender com a arquiteta Anna Ferrari, o empresário Arthur Mello e o veterinário Thiago Salles Gomes, que começa a funcionar na próxima segunda (23).
"A potência do espaço é reunir muita gente que vem do meio editorial com uma ponte muito forte com a arte e a divulgação cientifica", diz Irene de Hollanda, que dirige a livraria com Diamant.
Ocupando uma área de 216 metros quadrados no piso térreo do edifício Copan, o projeto de Ferrari pretende abrir uma relação direta entre o prédio de Oscar Niemeyer e as ruas do centro da cidade, ativando uma passagem que liga a galeria interna do ícone paulistano à rota que segue para a praça Dom José Gaspar.
É um espaço adaptável, segundo Hollanda, que pretende sediar cursos, debates e encontros com autores, além de promover parcerias artísticas com a vizinha Galeria Pivô e convidar curadores para criar programações próprias. A chef Bel Coelho também vai ocupar parte do espaço em breve com um café-restaurante.
A curadoria das estantes é coordenada pela editora Rita Palmeira de modo a priorizar a bibliodiversidade. "Há uma preocupação grande com não trazer só as grandes casas, mas uma representação diversa do mercado brasileiro", diz Hollanda.
Já a livraria Leitura, que se tornou a maior rede brasileira com a derrocada da Saraiva, vai abrir mais três lojas na região metropolitana de São Paulo em uma questão de meses —isso sem contar as duas que acabaram de chegar aos shoppings Ibirapuera e Santana.
Em dezembro, abre uma nova Leitura no Mooca Plaza Shopping, enquanto ficam para o começo do ano que vem unidades em Santo André e em Osasco. Também estão nos planos filiais no shopping Jardim Sul e em São Bernardo.
A rede fecha o ano com 79 lojas no Brasil e sete na capital paulista, onde tinha presença menos ostensiva que gigantes como Saraiva e Cultura, hoje assombradas pela recuperação judicial.
Marcus Teles, presidente da Leitura, comenta que sua estratégia de crescimento sempre se diferenciou das outras grandes. Sem aderir ao afã da internet e dos eletrônicos nem se endividar para bancar expansões, ele crescia sem alarde, priorizando lugares com carência de livrarias e fora do eixo Rio-São Paulo.
"A crise da Covid não foi uma crise do ramo do livro, foi da economia como um todo", diz ele. "Tivemos que diminuir equipes, mas também vimos como uma oportunidade."
Quem também fez movimento parecido foi a Livraria da Vila, que terá unidades no shopping Eldorado e em São Caetano. "Nós nunca abrimos duas lojas no mesmo ano, e é o que vai acontecer agora no mês de dezembro", diz Samuel Seibel, dono da rede.
A Vila também se expande em breve para o shopping Anália Franco, sempre num tamanho modesto, de área concentrada em 250 metros quadrados, que é como Seibel ressalta que gosta de atuar.
Parece com o jeitão da Mandarina, livraria de rua inaugurada no ano passado que acaba de espalhar o que suas donas chamam de "primeiros gomos".
As sócias Daniela Amendola e Roberta Paixão abriram uma estande da marca no Marché de Fête, em Pinheiros —está nos planos, além disso, a abertura de uma nova loja-mãe no mesmo bairro.
O gomo tem curadoria das duas livreiras e deixa claro que, se o leitor não encontrar ali o que procura, pode entrar em contato por WhatsApp e elas levam a obra até o local. "É um jeito de crescer com maior flexibilidade. Afinal, um dos propósitos da Mandarina é levar livro pro máximo de gente possível", diz Paixão.