domingo, 15 de novembro de 2020

Elio Gaspari Um dia se saberá o que aconteceu na Anvisa nesta semana que passou, fsp

 Um dia se saberá o que aconteceu na Anvisa entre as 15h e as 21h25 de segunda-feira (9), quando ela suspendeu os estudos clínicos que avaliavam a Coronavac. Uma rede de computadores fora do ar e uma comemoração de Jair Bolsonaro transformaram um suicídio numa lastimável tempestade de proveta.

A polícia achou o corpo do voluntário na tarde de 29 de outubro. No dia seguinte, uma sexta-feira, o centro de pesquisas do Hospital das Clínicas informou à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, a Conep, e ao Instituto Butantan.

O diretor presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, durante coletiva de imprensa para falar sobre a interrupção dos testes da Coronavac após evento adverso na pesquisa - Folhapress/Pedro Ladeira

O médico Jorge Venâncio, coordenador da Conep, disse à repórter Constança Tatsch que conversou com pesquisadores “duas vezes por dia” e decidiu não suspender os testes. Ele explicou porque: “O voluntário tomou a segunda dose da vacina 22 dias antes, não tinha nenhum problema de saúde e chegou a fazer um check-up particular, com uma batelada de exames, pouco depois”.

Numa outra pista, correu a notificação do Instituto Butantan à Anvisa. Ela foi emitida no dia 6 de novembro, informando na sua parte conclusiva que a morte do voluntário não tinha a ver com o teste da vacina. Segundo a agência, seu sistema de computadores estava fora do ar e a comunicação do dia 6 não havia sido lida.

Às 15h do dia 9, segunda-feira da semana passada, a Anvisa pediu ao Butantan informações sobre os “eventos adversos graves inesperados” ocorridos desde 30 de outubro.

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Segundo uma cronologia divulgada pelo Butantan, às 18h13 o pedido foi reiterado e, 11 minutos depois, as informações que haviam sido mandadas no dia 6 foram reenviadas. Os fatos que subsidiaram a decisão da Conep estavam todos lá. Só faltava a palavra suicídio. Segundo uma linha do tempo da Anvisa, ela chegou “sem nenhum detalhe”.

Às 20h47 a Anvisa convocou a equipe do Butantan para uma reunião de emergência no dia seguinte, sem agenda especificada.

No entanto, 13 minutos depois, outra mensagem da Anvisa suspendeu os testes daquilo que Bolsonaro chama de “a vacina chinesa do governador João Doria”.

Às 21h25 a Anvisa informou que suspendera os estudos clínicos da Coronavac.

Por motivos que podem ser compreensíveis, durante três dias a Anvisa ficou fora do lance, mas, como ela revelou, sabia “por meio de contato informal com o Ministério da Saúde e com a Conep” que um “evento adverso grave teria ocorrido”. Entre as 15h e as 21h25 criou-se uma crise sanitária, alavancada no dia seguinte pelo capitão, que viu na sua decisão “mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

Na sua entrevista de terça-feira (10), o contra-almirante Antonio Barra Torres que é médico, repetiu à exaustão que fez tudo de acordo com o manual e que a decisão foi dos técnicos, funcionários de carreira. O diretor do Butantan, Dimas Covas, reclamou: “Um telefonema teria resolvido”. Juntando-se as peças, a Anvisa revelou que soubera “informalmente” da ocorrência de um “evento”. Ela, que estivera fora do ar, decidiu suspender os testes sem falar com o Butantan e muito menos com a Conep, que avaliara o caso.



Eremildo é muito macho, não usa máscara e vai a Brasília para presentear o capitão com uma garrafa de sua caipirinha de açaí com cloroquina. O cretino foi a única pessoa que entendeu a metáfora da pólvora. Ela pode ser usada pelos agrotrogloditas para explodir as árvores que não queimarem.

Mesmo que o capitão estivesse ameaçando Joe Biden com um uso da pólvora, Eremildo também acha a ideia ótima. Ele pretende se alistar na primeira tropa para combater os americanos. Espera ser feito prisioneiro e levado para Nova Jersey, onde abrirá uma franquia de chocolates caso consiga ficar por lá.

ERRO

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O ministro Gilmar Mendes informa que estava errada a informação aqui publicada segundo a qual “não há no mundo corte constitucional renomada que decida em turmas”.

Diz e prova: A Corte Constitucional alemã divide-se em dois Senados, um cuida dos processos de controle de constitucionalidade e o segundo cuida de conflitos entre os entes federativos e questões eleitorais. A Suprema Corte do Reino Unido tem 12 juízes mas nem todos se manifestam em todas as decisões.

Antes mesmo da certificação da Coronavac, o governador João Doria parece ter descoberto a BolsonaVac. Durante quatro dias, enquanto a Anvisa estava metida na encrenca dos testes da vacina e Bolsonaro falava de um país de “maricas”, ele se manteve no mais absoluto silêncio, como se praticasse um distanciamento político. Doria pode ter descoberto uma vacina contra bate-bocas com gotículas viróticas e contagiosas.

O governador de São Paulo João Doria e o diretor do instituto Butantã Dimas Tadeu Covas - Reuters/Amanda Perobelli

CHAPMAN PRECISA SE CUIDAR

O embaixador americano Todd Chapman precisa puxar o freio de mão. Ele incluiu uma homenagem aos seus fuzileiros navais no portal da repartição sem qualquer segunda intenção. Mesmo assim, com menos de dois anos no posto, apareceu bastante, coloriu-se demais e deixou que Washington organizasse uma ridícula viagem do secretário de Estado Mike Pompeo a Roraima.

Na quinta-feira, reuniu-se com o embaixador argentino para tratar de uma política que levava em conta a vitória de Joe Biden. Como palitar dentes à mesa, poder, pode. Em julho, quando a Covid já havia matado mais de 63 mil pessoas no Brasil, Chapman deu um almoço para Bolsonaro e seus hierarcas. Nenhum maricas, todos sem máscara, inclusive ele.

William Tudor, o segundo representante do governo americano no Brasil, chegou ao Rio em 1827 e, em 1830, morreu de febre amarela. Seu túmulo só foi achado em 1944. Chapman tem à mão a boa memória de outro antecessor. Jefferson Caffery ficou no posto de 1937 a 1944, atravessando a turbulência do Estado Novo durante a Segunda Guerra Mundial. Foi um craque na profissão pelo que fazia em pé, Chapman pode seguir seu exemplo.


sábado, 14 de novembro de 2020

Alvaro Costa e Silva O Bolsonaro que ruge, FSP

 

Estados Unidos, presidente mergulha as Forças Armadas na chacota

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Sobrou mais uma vez para as Forças Armadas, cuja desmoralização é o maior e mais bem realizado trabalho do governo. Não cabe mais citar o lugar-comum "Freud explica" para justificar as ações do capitão que, eleito presidente, passa a humilhar militares de alta patente, reduzindo-os a recrutas zeros. Ao sugerir que o Brasil poderá entrar numa guerra contra os Estados Unidos, Bolsonaro autorizou a chacota geral.

"Apenas a diplomacia não dá. Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora", disse o presidente, em seu mais recente ataque de pelanca, referindo-se a possíveis sanções econômicas do candidato eleito Joe Biden para impedir o desmatamento da Amazônia. Aparentemente sem se importar com o tamanho do buraco em que o Exército está metido, o general Mourão entrou na onda e gozou a declaração do chefe: "É uma figura de retórica".

Logo surgiram nas redes sociais mil memes, a maioria mostrando bravos soldados brasileiros pintando meios-fios e caiando troncos de árvores. Os cinéfilos lembraram dois filmes, duas comédias: "O Rato que Ruge", em que um pequeno país declara guerra à maior potência do mundo para mascarar uma crise interna, e "O Incrível Exército de Brancaleone", no qual um bando de esfarrapados e mortos de fome parte em busca de conquistas territoriais.

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No mesmo dia em que cometeu a bravata bélica, Bolsonaro exercitou sua psicopatia verbal ao festejar a suspensão dos testes da vacina Coronavac e considerar como vitória política a morte de um voluntário. Além disso, pôs o trabalho da Anvisa sob suspeita de aparelhamento.

Seu descontrole nada tem a ver com cortina de fumaça. São crimes de responsabilidade, motivados pelo agravamento das denúncias envolvendo Flávio Bolsonaro, a derrota de Trump, o fracasso de seus candidatos nas eleições e a incapacidade de enfrentar a pandemia. O mito está derretendo no óleo do ódio.

Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".