sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Bruno Boghossian, FSP Supremo fica perdido no labirinto político em que se meteu

 A carta de intenções de Luiz Fux em sua posse como presidente do STF deixa poucas dúvidas: o tribunal está perdido no labirinto político em que se meteu. O ministro propôs um pacto para reduzir a interferência do Judiciário sobre outros Poderes, mas se recusou a reconhecer os erros cometidos pela corte.

Fux descreveu o Supremo como uma espécie de vítima de suas próprias decisões. No discurso desta quinta-feira (10), ele se queixou de “grupos de poder” que recorrem ao tribunal para resolver divergências que deveriam ficar restritas a outras arenas. Os pobres ministros, sob essa ótica, seriam praticamente forçados a agir como árbitros.

O novo chefe do Judiciário pediu “um basta” ao que chamou de “judicialização vulgar e epidêmica de temas e conflitos em que a decisão política deve reinar”. Nada disso seria necessário se o STF tivesse delimitado suas fronteiras de atuação com clareza ao longo dos últimos anos.

O ministro deu sua contribuição negativa à causa. Em 2017, ele cancelou sozinho uma votação da Câmara que havia modificado o pacote anticorrupção patrocinado pela força-tarefa da Lava Jato. Não importou, naquela época, a tal necessidade de resolver o processo legislativo dentro do Poder Legislativo.

Ao fugir da autocrítica e sugerir uma “intervenção judicial minimalista” em temas polêmicos, o novo presidente prova que não há caminhos traçados para resolver o dilema que divide o STF entre a omissão e o ativismo exagerado.

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O tribunal não pode se retirar completamente do campo político, porque precisa dar respostas para questões como a criminalização da homofobia, julgada no ano passado. Nesse caso, o Supremo reinterpretou a legislação existente para ampliar a proteção de direitos individuais.

Atropelos cometidos pelo STF em outros casos acabaram fragilizando o papel do tribunal em decisões que interferem de maneira legítima nas atribuições de outros Poderes. Nada indica que o novo presidente tenha a solução para esse problema.

Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Tiago Nunes é demitido pelo Corinthians após derrota para o Palmeiras, FSP

 O Corinthians demitiu o técnico Tiago Nunes na tarde desta sexta-feira (11). Ele deixa o cargo após a derrota por 2 a 0 no clássico contra o Palmeiras, na noite de quinta (10), na Neo Química Arena, pelo Campeonato Brasileiro.

No jogo contra o Fluminense, domingo (13), pela mesma competição, a equipe será dirigida por Dyego Coelho, que estava no Sub-20. Na teoria, ele assumirá o cargo de forma interina, mas a avaliação de pessoas do clube é que não há um substituto de peso livre no mercado para dirigir a equipe.

O último seria Mano Menezes, contratado no início desta semana pelo Bahia.

Tiago Nunes deixa o Corinthians após 28 jogos. Foram 10 vitórias, 10 empates e 8 derrotas. Contratado em novembro do ano passado, ele não conseguiu dar padrão de jogo para o time, que patinou no Campeonato Paulista e quase não conseguiu avançar para as quartas de final. No mata-mata, fez boa campanha e parou apenas na decisão, derrotado pelo Palmeiras nos pênaltis.

Pior foi na Libertadores. Caiu na segunda eliminatória, antes mesmo de atingir a fase de grupos. A previsão orçamentária do clube era chegar no mínimo às oitavas de final. No Campeonato Brasileiro, o Corinthians ocupa o 13º lugar e tem apenas um ponto de vantagem para o Athletico, 17º e primeiro na zona de rebaixamento.

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Uma das primeiras medidas que Nunes tomou no comando da equipe foi dispensar Jadson e Ralf por acreditar que eles não se encaixavam no esquema de jogo planejado. Jadson fez postagem no Instagram, após a derrota para o Palmeiras, com a foto do treinador, o chamando de forma irônica de “Guardiola brasileiro”.

A pressão para troca no comando já existia há algumas semanas. O presidente Andrés Sanchez resistia aos pedidos para demitir o treinador por acreditar que qualquer novo nome não conseguiria fazer diferença significativa nos resultados. Mas as reclamações de jogadores começaram a deixá-lo preocupado. A derrota no clássico foi a gota d’água.

Em entrevista depois do jogo contra o Palmeiras, Nunes criticou Fagner, um dos jogadores mais experientes do elenco, por ter colocado a mão na bola dentro da área ainda no primeiro tempo. Ele cometeu o pênalti por acreditar que a finalização de Lucas Lima entraria no gol, o que não aconteceria. O lateral foi expulso por causa da jogada.

Dez dias antes de enfrentar a equipe alviverde, o Corinthians já havia perdido outro clássico, para o São Paulo, no Morumbi.

A demissão acontece na semana em que o Corinthians quitou os três meses de salários atrasados do elenco. Em março, Andrés teve reunião com os atletas, avisou das dificuldades financeiras e disse que atrasaria alguns meses de vencimentos. Segundo ele, o grupo entendeu os problemas do clube e ninguém reclamou.

Na circunstância atual, reclamações de jogadores, principalmente dos nomes mais importantes do elenco, tornaram-se ainda mais importantes para o presidente.

“Disse a eles que talvez atrasasse de um a três meses. A transparência fez a diferença. O nível de jogadores que está no Corinthians… São pessoas que sabem o que é o Corinthians, se dedicam arduamente ao clube. Eu só tenho a agradecer aos jogadores e pedir desculpas”, disse ele à Folha.

O descontentamento do elenco, no cenário atual financeiro e político do Corinthians (o clube elege novo presidente em novembro) acabou por selar o destino de Tiago Nunes.

Tiago Nunes durante partida contra o Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro
Tiago Nunes durante partida contra o Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro - Washington Alves-12.ago.20/Reuters