sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Fiesp: afinal, eleições de verdade?, FSP

 

É urgente a necessidade de renovação da representação industrial paulista

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Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski

Membros, respectivamente, dos conselhos de administração da Klabin, da Natura&Co e da Ultrapar

É de longa data que a representação empresarial no Brasil não cumpre o seu papel. O sistema que elege nossos representantes, criado nos anos 1930 sob forte influência do Estado, não resistiu ao tempo —felizmente, e como era de se esperar.

As empresas, alternativamente, criaram representações paralelas, as associações setoriais, onde a participação é voluntaria, a contribuição espontânea e a governança saudável. O sistema oficial, composto por confederações nacionais, federações estaduais e em especial por sindicatos locais, perdeu influência e raramente consegue construir propostas que tenham como fundamento principal o desenvolvimento do país. Suas posições acabam por revelar uma longa lista de pleitos que tentam acomodar demandas regionais e setoriais por vezes conflitantes. De costas para o que é importante, transformaram-se em meros centros de eventos e buscam na sua sobrevivência atender os interesses de seus próprios dirigentes.

A representação do setor industrial não escapou desse quadro. Em São Paulo, em particular, temos uma oportunidade no horizonte. Na Fiesp inicia-se um processo eleitoral mais legítimo, oportuno, esperamos renovador, que pode se transformar no começo de uma mudança feita de dentro para fora. Há notícias de duas chapas concorrentes, ambas encabeçadas por industriais verdadeiros, com ideias e métodos novos, experiência associativa, explicitando a necessidade de renovação do sistema de representação industrial paulista. Se São Paulo puxar a mudança, é possível que essa chama se alastre para todo o sistema nacional.

O momento é adequado, portanto, para dar partida à necessária transformação apoiada no que nos parecem as principais linhas que uma nova gestão deveria seguir.

Em termos de governança, a entidade deve ser apartidária, com uma gestão profissionalizada, e deve buscar com o tempo chegar à autonomia financeira, dependendo exclusivamente de recursos supridos voluntariamente por seus associados. As suas informações financeiras devem ser divulgadas periodicamente, dando-se a elas total transparência. As decisões estratégicas, com foco na agenda da indústria, com participação de empresas de todos os tamanhos, devem ser tomadas por meio de um conselho que oriente e supervisione o trabalho do corpo profissional da entidade.

O Sistema S (Senai e Sesi) deve voltar aos seus objetivos originais de aumentar a competitividade da indústria brasileira, especialmente através da educação, do lazer e da preparação de seus quadros técnicos. Seus objetivos e metas devem ser compatíveis com as novas necessidades que se desenham para a indústria do futuro. A reforma do ensino médio nos coloca diante da grande oportunidade de aumentar o impacto do Sistema S ao permitir que o jovem opte por uma formação profissional e técnica dentro da carga horária do ensino médio regular. Ao final dos três anos, os sistemas de ensino deverão certificá-lo no ensino médio e no curso técnico ou nos cursos profissionalizantes que escolheu.

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Os recursos do Sistema S devem ser utilizados exclusivamente para o atendimento desses objetivos, cessando-se o seu uso para sustentar a estrutura da federação. Este é um desvio histórico que deve ter data para acabar.

Por fim, sem esgotar os temas, a agenda da indústria deve incluir a defesa de uma reforma tributária, baseada em tributar agregação de valor; a abertura comercial, visando a integração competitiva da indústria brasileira ao mundo; e a perseguição permanente de uma agenda de competitividade e produtividade, que privilegie a ciência, a tecnologia e a inovação.

Ao longo dessas linhas, ainda muito genéricas, cremos ser possível construir uma coalizão que recupere a Fiesp de um passado recente menos venturoso e lhe dê autoridade, credibilidade e respeitabilidade para ajudar a transformar uma indústria em crise em um setor dinâmico, comprometido com o futuro do país. A liderança empresarial que trabalha para a modernização do país deve mostrar essa disposição a partir da reforma da sua própria casa, representando a partir de então, com ação local e visão global, todos os seus associados e o melhor da sociedade produtiva brasileira.