Iniciada nos anos 40, coleção se encontra hoje na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP
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É uma rotina que o leitor, pesquisador Antonio Delfim Netto, de 90 anos, faz questão de manter. Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, ele envia, toda semana, os livros que acabou de ler para a biblioteca da FEA. Por enquanto, já doou 88 mil volumes, que integram o Acervo Delfim Netto daquela biblioteca. São livros de diversas áreas do conhecimento, que o leitor começou a comprar no início dos anos 1940 nas livrarias e sebos da cidade.
É uma rotina que o leitor, pesquisador Antonio Delfim Netto, de 90 anos, faz questão de manter. Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, ele envia, toda semana, os livros que acabou de ler para a biblioteca da FEA. Por enquanto, já doou 88 mil volumes, que integram o Acervo Delfim Netto daquela biblioteca. São livros de diversas áreas do conhecimento, que o leitor começou a comprar no início dos anos 1940 nas livrarias e sebos da cidade.
“A doação de sua biblioteca foi oficializada em 2011 e, segundo o professor, o gesto foi uma retribuição e gratidão por tudo que a Universidade de São Paulo lhe proporcionou ao longo de sua carreira”, conta a bibliotecária Sandra Maria La Farina, responsável pelo acervo. “A sua meta é que pesquisadores e estudantes tenham acesso aos seus livros, que são, na verdade, um vasto material de pesquisa. Sua expectativa é que o acervo entusiasme e incentive os novos alunos.”
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O professor dispôs 260 mil itens devidamente cadastrados no banco de dados de sua biblioteca, pois em seu sistema se cadastram capítulos de livros, artigos de compêndios, artigos de periódicos e outros materiais. No decorrer de três anos, o acervo foi devidamente separado, catalogado e indexado. “Os livros, folhetos, compêndios e separatas foram cadastrados no Banco de Dados Bibliográficos da USP, o Dedalus”, explica Sandra.
Depois de organizado com todos os requisitos técnicos e ambiente especialmente projetado, o Acervo Delfim Netto foi inaugurado em julho de 2014. Para surpresa de todos, a “biblioteca de trabalho e não de raridades”, como define o professor, reúne preciosidades. “Podemos citar a primeira edição da obra de John Maynard Keynes, The General Theory of Employment, Interest and Money, de 1936, e a primeira edição de An Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations, de Adam Smith, em três volumes, de 1776”, afirma a bibliotecária.
O professor dispôs 260 mil itens devidamente cadastrados no banco de dados de sua biblioteca, pois em seu sistema se cadastram capítulos de livros, artigos de compêndios, artigos de periódicos e outros materiais. No decorrer de três anos, o acervo foi devidamente separado, catalogado e indexado. “Os livros, folhetos, compêndios e separatas foram cadastrados no Banco de Dados Bibliográficos da USP, o Dedalus”, explica Sandra.
Depois de organizado com todos os requisitos técnicos e ambiente especialmente projetado, o Acervo Delfim Netto foi inaugurado em julho de 2014. Para surpresa de todos, a “biblioteca de trabalho e não de raridades”, como define o professor, reúne preciosidades. “Podemos citar a primeira edição da obra de John Maynard Keynes, The General Theory of Employment, Interest and Money, de 1936, e a primeira edição de An Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations, de Adam Smith, em três volumes, de 1776”, afirma a bibliotecária.
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Sandra abre as estantes deslizantes do acervo para apresentar as prateleiras com os 36 volumes originais da Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, a célebre Enciclopédia editada no século 18 por Denis Diderot e Jean D’Alembert, com artigos escritos por 130 colaboradores, como Voltaire, Rousseau e Montesquieu.
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Sandra abre as estantes deslizantes do acervo para apresentar as prateleiras com os 36 volumes originais da Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, a célebre Enciclopédia editada no século 18 por Denis Diderot e Jean D’Alembert, com artigos escritos por 130 colaboradores, como Voltaire, Rousseau e Montesquieu.
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O enfoque principal é a ciência econômica e disciplinas correlatas ao pensamento econômico, como matemática, filosofia, sociologia, história, geografia, ciências atuariais, psicologia, direito, religião, entre outras.
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Interessante também é a 11ª edição da Encyclopaedia Britannica, lançada em 1910 e 1911, com seus 32 volumes. “O enfoque principal é a ciência econômica e disciplinas correlatas ao pensamento econômico, como matemática, filosofia, sociologia, história, geografia, ciências atuariais, psicologia, direito, religião, entre outras”, conta Sandra. “Há também uma grande parte do acervo dedicada às ciências naturais, com obras de física, química e biologia. Além disso, o acervo é rico em enciclopédias, obras de literatura e artes e dicionários de diferentes línguas e assuntos.”
Interessante também é a 11ª edição da Encyclopaedia Britannica, lançada em 1910 e 1911, com seus 32 volumes. “O enfoque principal é a ciência econômica e disciplinas correlatas ao pensamento econômico, como matemática, filosofia, sociologia, história, geografia, ciências atuariais, psicologia, direito, religião, entre outras”, conta Sandra. “Há também uma grande parte do acervo dedicada às ciências naturais, com obras de física, química e biologia. Além disso, o acervo é rico em enciclopédias, obras de literatura e artes e dicionários de diferentes línguas e assuntos.”
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Entre visitantes assíduos da biblioteca estão os estudantes de Filosofia. O acervo tem obras completas dos gregos Platão e Aristóteles e também do francês René Descartes. Também os pesquisadores e estudantes de Letras e Literatura se deleitam com uma das primeiras edições de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, e da Divina Comédia, de Dante Alighieri. “Há livros da história da formação do Brasil, com mapas, ilustrações e registros”, continua a bibliotecária, deslizando as estantes e apresentando as prateleiras repletas de livros. “Tem um acervo muito extenso sobre o marxismo e suas vertentes. Há coleções de obras completas de Karl Marx, São Tomás de Aquino, Darwin e Voltaire. E o mais curioso: o leitor pode observar edições diferentes do mesmo livro, refletindo o espírito do professor de bom colecionador.”
Entre visitantes assíduos da biblioteca estão os estudantes de Filosofia. O acervo tem obras completas dos gregos Platão e Aristóteles e também do francês René Descartes. Também os pesquisadores e estudantes de Letras e Literatura se deleitam com uma das primeiras edições de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, e da Divina Comédia, de Dante Alighieri. “Há livros da história da formação do Brasil, com mapas, ilustrações e registros”, continua a bibliotecária, deslizando as estantes e apresentando as prateleiras repletas de livros. “Tem um acervo muito extenso sobre o marxismo e suas vertentes. Há coleções de obras completas de Karl Marx, São Tomás de Aquino, Darwin e Voltaire. E o mais curioso: o leitor pode observar edições diferentes do mesmo livro, refletindo o espírito do professor de bom colecionador.”
Sandra destaca também a coleção de compêndios. “Um compêndio é uma coletânea de artigos organizada pelo próprio professor. Quando Delfim lê um artigo e este lhe interessa, ele solicita à sua equipe que providencie as referências daquele estudo, que serão anexadas e encadernadas junto ao artigo que deu origem à coletânea. Por fim, os muitos escritos do professor Delfim, ao longo de sua carreira, também completam o acervo.”
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Ninguém pode ter ilusões, o desenvolvimento não é um processo tranquilo, calmo, no qual cada um de nós vai manter a sua posição. O desenvolvimento é um processo doloroso, difícil, trabalhoso.
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Junto com a sua biblioteca, Delfim Netto doou também todo o mobiliário. Há um espaço que reproduz a sua sala, com a grande escrivaninha de imbuia, com um tampo revestido em couro, porém já gasto de tantos livros que foram lidos sobre ele. Há ainda cadeiras estofadas, um mobiliário todo torneado e uma pequena máquina de escrever portátil, branca, da marca Odessa.
Junto com a sua biblioteca, Delfim Netto doou também todo o mobiliário. Há um espaço que reproduz a sua sala, com a grande escrivaninha de imbuia, com um tampo revestido em couro, porém já gasto de tantos livros que foram lidos sobre ele. Há ainda cadeiras estofadas, um mobiliário todo torneado e uma pequena máquina de escrever portátil, branca, da marca Odessa.
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Pelas paredes estão todos os seus diplomas, obtidos ao longo da vida, bem emoldurados. Um ambiente povoado de lembranças do estudante que iniciou sua biblioteca aos 14 anos de idade. “O professor Delfim conta que trabalhava como office-boy na Gessy Lever e, por influência do médico Ayrton Alves Aguiar, que conhecera na empresa, começou a se interessar pelos livros. Os dois discutiam a coleção Espírito Moderno, organizada por Monteiro Lobato e Godofredo Rangel. A partir daí, o professor se tornou um frequentador assíduo de sebos e livrarias no Brasil e no mundo”, narra a bibliotecária Sandra. “Inicialmente, a biblioteca ocupou um quarto da casa onde morava com sua mãe, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Depois ocupou o apartamento que habitou nos Jardins, também em São Paulo. No fim dos anos 80, a biblioteca, já contando com uma imensa quantidade de volumes, teve de ser transferida para um sítio em Cotia, pois o peso dos livros ameaçava comprometer as estruturas do edifício. Nesse terceiro endereço, a biblioteca ficou até o processo de mudança para a USP.”
Pelas paredes estão todos os seus diplomas, obtidos ao longo da vida, bem emoldurados. Um ambiente povoado de lembranças do estudante que iniciou sua biblioteca aos 14 anos de idade. “O professor Delfim conta que trabalhava como office-boy na Gessy Lever e, por influência do médico Ayrton Alves Aguiar, que conhecera na empresa, começou a se interessar pelos livros. Os dois discutiam a coleção Espírito Moderno, organizada por Monteiro Lobato e Godofredo Rangel. A partir daí, o professor se tornou um frequentador assíduo de sebos e livrarias no Brasil e no mundo”, narra a bibliotecária Sandra. “Inicialmente, a biblioteca ocupou um quarto da casa onde morava com sua mãe, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Depois ocupou o apartamento que habitou nos Jardins, também em São Paulo. No fim dos anos 80, a biblioteca, já contando com uma imensa quantidade de volumes, teve de ser transferida para um sítio em Cotia, pois o peso dos livros ameaçava comprometer as estruturas do edifício. Nesse terceiro endereço, a biblioteca ficou até o processo de mudança para a USP.”
Nessa sala com os diplomas, há estantes com mais livros. Sandra tira da prateleira uma edição de arte que salta aos olhos: Alice’s Adventures in Wonderland, de Lewis Carrol. As ilustrações são do mestre do Surrealismo, o catalão Salvador Dalí. A história é reproduzida em aquarelas. Um trabalho de extrema delicadeza. A edição foi publicada em 1969 pela New York’s Maecenas Press-Random House.
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A consulta ao Acervo Delfim Netto é restrita à sala de leitura, não sendo permitido o livre acesso às estantes. Os livros também não são emprestados. A reprodução só pode ser feita por meio fotográfico, sem utilização de flash, ou por meio de digitalização na própria sala, mediante autorização do bibliotecário responsável. Não é permitida a reprodução integral das obras, de acordo com a legislação de direitos autorais vigente.
A consulta ao Acervo Delfim Netto é restrita à sala de leitura, não sendo permitido o livre acesso às estantes. Os livros também não são emprestados. A reprodução só pode ser feita por meio fotográfico, sem utilização de flash, ou por meio de digitalização na própria sala, mediante autorização do bibliotecário responsável. Não é permitida a reprodução integral das obras, de acordo com a legislação de direitos autorais vigente.
Logo na entrada da biblioteca da FEA, há um painel reproduzindo a biblioteca original do paulistano Antonio Delfim Netto. O visitante é acolhido por uma frase que ele escreveu em 1972, especialmente válida para os estudantes de hoje:
Ninguém pode ter ilusões. O desenvolvimento não é um processo tranquilo, calmo, no qual cada um de nós vai manter a sua posição. O desenvolvimento é um processo doloroso, difícil, trabalhoso. Cada um vai ter as suas posições sociais mudadas, porque o mundo à nossa volta está mudando. Quem correr vai ficar onde está, quem parar vai ser atropelado. Esta é a noção clara de desenvolvimento. Não existe outra.
Mais informações sobre o Acervo Delfim Netto podem ser obtidas no endereço https://www.fea.usp.br/biblioteca/acervo-delfim-netto.