segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Mudança demográfica e ensino, OESP

Na semana em que o Pisa mostrou que o Brasil continua perdendo a corrida educacional, um estudo detalha a realidade da área em todos os Estados

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
09 de dezembro de 2019 | 03h00
Na mesma semana em que o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) mostrou que o Brasil continua perdendo a corrida educacional e os especialistas em ensino básico alegaram que só a valorização da carreira docente mudará esse cenário trágico, o economista Ricardo Paes de Barros, ex-subsecretário da Secretaria de Ações Estratégicas da Presidência da República, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, apresentou aos secretários estaduais de Educação um detalhado estudo sobre a realidade educacional nas 27 unidades da Federação.
Segundo o estudo, como a população brasileira está envelhecendo e a taxa de natalidade está caindo, a demanda por matrículas na rede de ensino básico tende a se reduzir nos próximos anos – o que já vem sendo detectado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, se os cursos de licenciatura e pedagogia mantiverem a média de formandos dos últimos anos, o Brasil terá um excedente de professores, conclui Paes de Barros. Entre 2013 e 2017, esses cursos formaram 1,148 milhão de docentes. As estimativas das autoridades educacionais são de que mais de 1,5 milhão vai se formar nos próximos cinco anos.
O desafio que o País tem de enfrentar para reerguer seu sistema educacional, portanto, é claro: em vez de gastar recursos escassos com a expansão do ensino superior na área de licenciatura e pedagogia, é necessário concentrá-los na melhoria da qualidade dos cursos existentes, para que possam formar professores preparados. “Precisamos dizer às universidades que não necessitamos de mais professores, mas de melhores”, afirma Barros.
A opção por mais qualidade do que quantidade é o que os especialistas em ensino básico chamam de valorização do professorado. Como lembra o estudo de Barros, um dos principais problemas responsáveis pela baixa qualidade dos formandos em licenciatura e pedagogia está no fato de que esses cursos se expandiram basicamente pela oferta de graduações a distância, cuja qualidade é bastante inferior à dos cursos presenciais.
Além disso, professores com melhor formação precisam ser recompensados com vencimentos mais altos do que os atuais, lembra Barros. Mas como aumentar salários num período de dificuldades orçamentárias? Segundo ele, como haverá a necessidade de menos docentes e de novas escolas de ensino básico, por causa das mudanças demográficas, a economia de recursos daí advinda pode ser revertida em favor do próprio sistema educacional. Em outras palavras, os recursos poupados poderão ser destinados ao aumento salarial dos professores.
O estudo mostra ainda que, além de ser decisiva para a ampliação dos níveis de aprendizagem dos alunos do ensino básico, a melhoria na qualidade de formação dos professores tem outro importante impacto social. “Como o magistério público atrai gente de famílias pobres, aumentar a remuneração dos profissionais de ensino é uma importante janela de ascensão social”, diz Paes de Barros.
Dois indicadores dão a dimensão dessa “janela”. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), realizada pelo IBGE, os professores representam atualmente 3,1% da força de trabalho do Brasil – e entre as mulheres com ensino superior, 20% são professoras. Além disso, segundo dados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2017, 72% dos concluintes em licenciatura e cursos de pedagogia eram mulheres; 52% eram negras, pardas ou indígenas; e 61% tinham mães que haviam cursado, no máximo, até o ensino fundamental. 
O estudo de Paes de Barros, um conceituado estudioso da relação entre educação e economia, apresenta um número significativo e valioso de informações para fundamentar um projeto destinado a reverter o trágico cenário apontado pelo Pisa. Resta esperar que, em vez de perder tempo criticando professores e discutindo religião e pedagogia, as autoridades educacionais o leiam, linha por linha.

Ministro do Meio Ambiente se reúne pela primeira vez com ambientalistas na COP-25, FSP

Ana Carolina Amaral
MADRI  Uma tentativa inédita de diálogo entre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e as ONGs ambientalistas brasileiras aconteceu na manhã desta segunda-feira (9) em Madri, durante a COP-25, conferência de clima da ONU.
Uma aglomeração de brasileiros se formou no pavilhão da conferência para conferir, em pé, o andamento da conversa, que contou com a presença do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e outros seis parlamentares – os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Eliziane Gama (Cidadania-MA); e ainda os deputados federais Joênia Wapichana (Rede-RR), Nilto Tatto (PT-SP) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP).
“Como bem colocado aqui, temos que achar os pontos de convergência”, disse Salles.
No entanto, o esforço de diálogo com o governo federal durou poucos minutos. O ministro foi o terceiro a se pronunciar – logo após o discurso de abertura de Karina Penha, da ONG Engajamundo, e a fala do coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino . Salles se retirou do evento logo após seu discurso.
“Quando escuto esse relato da baixa produtividade [da pecuária na Amazônia], é uma visão absolutamente correta. O aumento do uso intensivo daquilo que já foi aberto [em áreas] é um dos padrões que desencoraja o aumento da expansão de novas áreas”, continuou.
O ministro também lembrou que a Amazônia tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. “[Conservar a floresta] sem cuidar das pessoas é difícil. O trabalho de vocês demonstra isso”, disse Salles, apontando para o coordenador do Projeto Saúde e Alegria.
“É preciso monetizar os serviços ambientais. Precisam de recursos para serem valorizados. A nossa vinda à COP neste ano tem tudo a ver com isso”, emendou o ministro.
O encontro também contou com a presença de duas ex-ministras do Meio Ambiente, Marina Silva e Izabella Teixeira, que se pronunciaram após a saída de Salles.
“Aqui não é lugar de barganha, é lugar de construção”, disse Izabella. Em 2015, à frente do Ministério do Meio Ambiente, ela entregou na COP de Paris as metas do Brasil para redução de emissões de gases-estufa.
“Não conheço a implementação do Código Florestal. O compromisso que foi feito no Congresso não está sendo cumprido. Não conheço mais a credibilidade do Brasil no exterior para oferecer um compromisso com políticas públicas”, ela completou.
Já a ex-ministra Marina Silva pediu que Davi Alcolumbre reitere seu compromisso, declarado à Folha no último sábado, de não permitir retrocessos ambientais na legislação.
“Assim como disse o presidente Rodrigo Maia, que não vai tramitar projeto de mineração em terra indígena, é preciso dar força para o projeto do Randolfe que institucionaliza um plano de prevenção e controle do desmatamento como política pública”, pontuou Marina.
“O parlamento brasileiro assumiu um compromisso com o mundo. Votou um acordo”, disse Alcolumbre, em referência ao Acordo de Paris. “Enquanto presidente do Senado, eu cumprirei a palavra do Congresso brasileiro”.
“Não arredaremos o pé dos compromissos assumidos com o Brasil e com o mundo, mas precisamos entender as necessidades das pessoas que vivem na Amazônia. Esse é um momento de conciliação”, ponderou.
“Pela primeira vez o governo aceitou autorizar estados, municípios e setor privado a acessar recursos do Redd [Redução de Emissões de Degradação e Desmatamento]”, disse Alcolumbre.
Ele também lembrou que os recursos do pré-sal, embora o combustível emita gases-estufa, têm representado uma melhoria da distribuição de recursos para os municípios.
Questionado sobre a possibilidade da MP da regularização fundiária – que pode ser apresentada na terça (10) pelo governo – incentivar a grilagem de terras, Alcolumbre defendeu a autodeclaração dos proprietários e disse que a punição é a forma de inibir o crime de grilagem.
“Vou pedir para minha consultoria estudar. Eu acho que um instrumento de penalização vai inibir a falsificação de documentos”, respondeu.
*A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS). 

Li-Fi. O que é isso?, Procel Info


Rio de Janeiro – Em entrevista ao Procel Info, Isac Roizenblatt, da Abilux, explica o funcionamento da tecnologia Li-Fi e como ela pode influenciar o setor de iluminação nos próximos anos

Tiago Reis, para o Procel Info
Rio de Janeiro – Uma tecnologia que pode revolucionar o setor de iluminação e comunicação. Essa tecnologia é o Li-Fi, que utiliza a luz para transmitir dados em alta velocidade. Diferente da Wi-fi, que usa ondas de rádio, o Li-Fi usa lâmpadas de LED para transmitir as informações, numa velocidade 100 vezes mais rápida do que estamos acostumados atualmente. O grande diferencial dessa tecnologia é que, a partir de lâmpadas de LED, o usuário será capaz de se conectar à internet com altíssima velocidade e realizar várias funções, como enviar dados, assistir vídeos ou ouvir músicas ou podcasts.

Em entrevista concedia ao Portal Procel Info , durante o III Workshop de Iluminação a LED realizado em outubro no Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica), Isac Roizenblatt (foto), Diretor Técnico da Abilux (Associação Brasileira da Indústria de Iluminação), avaliou a chegada ao mercado dessa nova tecnologia. Para ele, com a evolução constante, é provável que já no início da próxima década essa tecnologia ganhe espaço no cotidiano das pessoas.

Na entrevista, Isac Roizenblatt, também comenta sobre as vantagens e desvantagens do Li-fi, como o mercado de iluminação está se preparando para a consolidação dessa nova tecnologia e quais podem ser os impactos no setor elétrico e de conservação de energia.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Procel Info: O que é o Li-Fi e quais as suas vantagens em comparação com o Wi-Fi?

Isac Roizenblatt: O problema básico é que o Wi-Fi está quase saturado. Não vai haver espaço mais para você mandar mensagens, informações, vídeos. Não vai haver mais espaço. Então, você vai ter que aproveitar uma tecnologia nova que permita fazer isso. Então, o Li-Fi é o que vai abrir espaço, já que ele é muito mais potente, muito mais veloz e pode carregar um número enorme de informações. Então, ele vai entrar do mesmo jeito que estão os LEDs, ele vai entrar em tudo quanto é lugar. O LED, por ser digital, permite que você tenha essa comunicação para o Li-Fi. Então, ele só tem uma desvantagem: como ele é luz, ele não passa pelas paredes. Ele não consegue atravessar barreiras físicas, porque ele é luz. Então, o que você vai ter que fazer, quando precisar se comunicar com ambiente externo? Você terá que ter um interlocutor entre o ambiente interno e externo, uma espécie de roteador. E depois pode continuar usando o Li-Fi de novo. Por outro lado, como ele não sai pelas paredes, ele tem uma grande vantagem de segurança. O que está naquele local não sai daquele lugar. A outra vantagem é que como a iluminação está em todo lugar, o Li-Fi pode funcionar em todo lugar e isso é uma grande vantagem. Ele é muito mais rápido, porque ele é luz. Os dados trafegam na velocidade da luz, que é muito mais rápida que o Wi-Fi.
Utilizando lâmpadas de LED, a tecnologia Li-Fi é 100 vezes mais rápida que o Wi-Fi que conhecemos atualmente

Procel Info: Hoje o Li-fi não teria nenhuma comparação com as tecnologias já existentes?

Isac Roizenblatt: Não. Porque todas as outras tecnologias que se usam de Wi-Fi funcionam em ondas de radiofrequência. E esse Li-Fi é luz. Então é uma nova tecnologia que funciona na velocidade da luz. Sobre as dificuldades, todo começo é difícil. O pessoal tem que aprender como funciona, tem que aprender como se faz, tem que desenvolver equipamentos. Vai ter que desenvolver receptores para notebooks e celulares e outros dispositivos móveis. Nas luminárias, vão ter os transmissores. Então, é algo que ainda vai entrar. Por enquanto, o que você tem são aparelhinhos que você conecta a luminária para jogar o sinal para baixo. E você tem aparelhinhos que você conecta ao notebook para jogar o sinal para cima. Então, podemos dizer que ainda estamos em fase de transição.

Procel Info: Como essa tecnologia pode impactar o setor de iluminação e o setor de energia?

Isac Roizenblatt: No setor de iluminação o Li-Fi vai impactar completamente, já que essa tecnologia estará presente em quase todos os lugares, tanto na iluminação interna quanto na externa. Por exemplo, na iluminação pública, uma luminária enxerga a outra, fora as pequenas exceções. Nos ambientes internos, aí não tem problema nenhum, porque realmente está tudo dentro. E tem também a questão da conservação de energia, já que o LED sempre se traduz em eficiência. Mas na conservação de energia, como é algo muito recente, ainda não sei te responder quais seriam os impactos mais significativos. Mas, sem dúvidas, haverá impactos.

Procel Info: É tão revolucionário que fica difícil mensurar os benefícios...

Isac Roizenblatt: Sim. Provavelmente deve ter grandes benefícios, com as cidades inteligentes, a internet das coisas e a digitalização. Como ele vai conectar com a internet das coisas, com a nuvem, com satélites, o Li-Fi vai conectar com tudo. Voltando à conservação de energia, o que eu acho é o seguinte: assim como você pode usar o LI-fi na iluminação pública, diminuindo a luz da via pública depois da meia noite, por exemplo, e algumas ruas. Isso gera eficiência tanto na área de energia, quanto na gestão do serviço de iluminação.

Procel Info: Sobre a implementação em grande escala dessa tecnologia, o senhor acredita que será algo rápido?

Isac Roizenblatt: Olha, o que eu li é que a próxima geração de celulares e notebooks já vai ter o sensor de recepção de Li-Fi. Então, esse vai ser o primeiro passo. Nas luminárias é fácil colocar um driver (sensor) que mande sinal através do LED. Então, eu acho que daqui a uns dois ou três anos isso aqui começa a crescer. A velocidade de evolução é muito rápida. Hoje em dia uma coisa atropela a outra rapidamente. Então, o que eu acho, que nós devemos fazer aqui no Brasil é começar a ter as primeiras instalações para aprender como funciona. Porque aí todos nós aprendemos e, quando realmente tivermos volume, a tecnologia estiver mais desenvolvida, a gente já vai saber como é que se fazem as coisas.
Li-Fi tem um potencial de revolucionar o setor de iluminação. Conservação de energia também pode se beneficiar dessa tecnologia

Procel Info: E ter uma tecnologia adaptada para a nossa realidade.

Isac Roizenblatt: Isso mesmo. Então eu acho que a gente deve começar a fazer já. Deve ter alguns experimentos, como, por exemplo, o Cepel, poderia fazer na sua área interior um teste já usando o Li-Fi. Outros casos seriam as distribuidoras de energia. Conversando com o pessoal da Cemig, falei que, por exemplo, poderiam pegar uma avenida em Belo Horizonte e fazer esse teste na iluminação pública da capital mineira. Então, é por aí. Tem que começar a fazer.

Procel Info: Quais são os países mais avançados na utilização dessa tecnologia?

Isac Roizenblatt: No momento, quem está mais avançado nessa tecnologia são os países da Europa e os Estados Unidos. Os melhores exemplos que tenho são de companhias das Europa e dos Estados Unidos. Na Ásia e demais continentes, essa tecnologia ainda possui pouca relevância.