domingo, 9 de dezembro de 2018

Golpe à moda antiga, FSP

Golpe à moda antiga

Se a ideia de Bolsonaro é comer a democracia pelas bordas, ele está uma guerra atrasado

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante a formatura de oficiais em Guaratinguetá (SP)
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante a formatura de oficiais em Guaratinguetá (SP) -Zanone Fraissat - 30.nov.18/Folhapress
Dizia-se do Estado-Maior francês que ele era despreparado e estava sempre uma guerra atrasado. A expressão “uma guerra atrasado” surgiu após o desastre de 1940, no qual o Exército francês, tendo apostado todas as suas fichas na construção da linha Maginot, que se revelou totalmente inútil (ela talvez tivesse funcionado na Primeira Guerra Mundial), sucumbiu em apenas 38 dias e com enormes perdas às Panzerdivisionen de Adolf Hitler.
Se a intenção de Jair Bolsonaro e seus colaboradores próximos é ir comendo a democracia pelas bordas para aumentar os poderes do Executivo, a exemplo do que fizeram outros populistas autoritários contemporâneos, como Vladimir PutinViktor Orbán ou Recep Erdogan, então eles estão, como o Estado-Maior francês, uma guerra atrasados.
David Runciman, autor de “Como a Democracia Chega ao Fim”, ensina que há uma diferença fundamental entre os golpes do passado e os do presente. Nos primeiros, os conspiradores tinham de ser tão explícitos quanto possível, para não deixar margem de dúvidas sobre quem estava no poder e deveria ser obedecido. Não é uma coincidência que as primeiras movimentações de um Putsch incluíssem sempre capturar as estações de rádio e TV e fechar os jornais não cooptados.
Nas escaladas autoritárias modernas, a regra é o oposto. Os conspiradores precisam esconder a todo custo suas reais intenções. Não podem, como faz o clã Bolsonaro, falar em fechar cortes ou limitar o funcionamento do Legislativo. Ao adotar as medidas que lhes asseguram maiores quinhões de poder, golpistas modernos devem dizer que estão aprofundando a democracia e devolvendo ao povo a capacidade de decidir seu destino. Até Nicolás Maduro, que não é exatamente um estrategista nato, faz isso.
De uma forma meio perversa, não deixa de ser alentador constatar que Bolsonaro e o grupo que o cerca parecem despreparados para um golpe à moda moderna.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

'Vamos preservar o ambiente sem ideologia', diz futuro ministro de Bolsonaro, FSP


Ricardo Salles, ex-secretário de Alckmin, foi anunciado para chefiar a área ambiental


Thais BilenkyTalita Fernandes
BRASÍLIA
O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles afirmou à Folha que pretende “ajudar o Brasil a se desenvolver. "Vamos preservar o meio ambiente sem ideologia e com muita razoabilidade”.
“Respeitaremos todos aqueles que trabalham e produzem no Brasil, não só na agropecuária, mas todos os setores produtivos, inclusive na infraestrutura”, disse.
Com o anúncio, feito neste domingo (9) pelas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro conclui suas nomeações, fechando seu governo com 22 ministérios, sete a mais do que o previsto durante a campanha.
Salles é advogado e ex-secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Concorreu ao cargo de deputado federal pelo Partido Novo nas eleições deste ano, mas não se elegeu. Ele é um dos criadores do movimento Endireita Brasil.
Quando era secretário do governo do tucano, ele e mais duas funcionárias da sua equipe foram alvos de uma ação de improbidade administrativa por suspeita de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, na Grande São Paulo.

Ricardo de Aquino Salles, ex-secretário estadual do Meio Ambiente de SP,  e futuro ministro da área na gestão Jair Bolsonaro
Ricardo de Aquino Salles, ex-secretário estadual do Meio Ambiente de SP, e futuro ministro da área na gestão Jair Bolsonaro - Divulgação
Questionado sobre sua relação com ambientalistas, Salles afirmou que “todos serão respeitados e ouvidos”.
Durante a campanha para deputado, Salles gerou controvérsia com uma publicação em rede social na qual associava uma imagem de munição de fuzil às seguintes bandeiras: "contra a esquerda e o MST", "contra a bandidagem no campo", "contra o roubo de trator, gado, insumos..." e "contra a praga do javali". 
O Ministério do Meio Ambiente foi alvo de polêmicas desde a campanha de Bolsonaro. Quando ainda era candidato, ele prometeu unificar a pasta à Agricultura, mas acabou desistindo após sofrer pressão de ambientalistas e de ruralistas.
A escolha para o ministério ocorre no rescaldo da repercussão negativa gerada pela desistência do governo brasileiro de sediar a Cúpula do Clima, Cop-25, em 2019.
Embora o Ministério das Relações Exteriores tenha justificado a mudança por ausência de Orçamento, no exterior, a medida foi vista como uma ação do governo Bolsonaro, que critica a ação de organizações internacionais em relação a assuntos do clima.  
Salles foi denunciado por improbidade administrativa no ano passado. Ele e mais duas funcionárias da sua equipe são suspeitos de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, na Grande São Paulo.
Em todos os seis mapas, "modificados de forma maliciosa", segundo o promotor Silvio Antônio Marques, a proteção ao rio mais importante da Grande SP ficou mais frouxa. Eram áreas que estavam identificadas como de proteção ambiental, que poderiam impedir enchentes, por exemplo, mas, agora, ficaram livres para serem usadas por indústrias e mineradoras.
Em um dos pontos identificados pela equipe técnica que assessora o promotor Leandro Leme, a alteração ocorreu exatamente em uma área vizinha a uma grande indústria do município de Suzano. "Áreas de proteção, agora, poderão virar industriais", disse o promotor Leme.
A equipe da Promotoria identificou as mudanças, que não foram registradas nos mapas, e nem discutidas, na véspera da reunião do Consema, realizada no dia 31 de janeiro.
Os mapas originais, discutidos e conhecidos da comunidade ambiental, foram feitos em 2013 por cientistas da Universidade de São Paulo.
A atuação de Salles durante o tempo em que esteve à frente da secretaria de Meio Ambiente do governo paulista preocupa a ONG Observatório do Clima (OC) —que engloba mais de 30 organizações ambientais—, que chama o nomeado de ruralista. 
Segundo a organização, Salles promoveu um desmonte da governança ambiental do estado de São Paulo. "Ao nomeá-lo, Bolsonaro faz exatamente o que prometeu na campanha e o que planejou desde o início: subordinar o Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura", diz a OC em nota. "O ruralismo ideológico, assim, compromete o agronegócio moderno – que vai pagar o preço quando mercados se fecharem para nossas commodities."
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), membro da Frente Parlamentar Ambientalista, diz à Folha que a nomeação é inapropriada e que os prenúncios para a pasta não são bons.
"É colocar alguém ligado ao lobby, aos interesses de mineradoras, envolvido em crime ambiental, para dirigir o ministério", afirma o senador. "[É preocupante] Pensando em desenvolvimento sustentável, pensando no meio ambiente cumprindo seu papel. É lógico que quem vai sofrer com isso é o meio ambiente."
A ONG Greenpeace, em nota, associa Salles a ruralistas e diz que a sua nomeação indica que o ministério do Meio Ambiente sofrerá redução e estará subordinada ao ministério da Agricultura. 
Também em nota, a WWF-Brasil fala sobre a importância da questão do desmatamento dentro da pasta do Meio Ambiente no país. A organização diz que o MMA deve continuar a balancear a questão ambiental frente aos outros setores do governo. 
Atualmente à frente da pasta do Meio Ambiente, Edson Duarte cumprimentou, em nota, o futuro ministro e disse que Salles assumirá "o enorme desafio de promover o desenvolvimento sustentável e a proteção do maior patrimônio natural do Planeta". 

​DESMATAMENTO

 O secretário assumirá em um momento de alta no desmatamento na Amazônia, que voltou a crescer entre 2017 e 2018, e atingiu o maior patamar da última década, com 7.900 km² de floresta derrubados. O número representa um crescimento de 13,7% em relação ao período anterior (2016-2017).
Os dados foram divulgados em novembro pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). As informações são relativas ao Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), sob responsabilidade do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Na avaliação do MMA, o aumento no desmatamento tem quatro motivos principais: sinais de mudança nos ventos políticos, câmbio favorável ao agronegócio, o que estimula a abertura de novas áreas, um período de seca mais agudo do que a média e, em decorrência disso, um grande aumento no número de queimadas. 
Nas áreas desmatadas, o período pré-eleitoral foi marcado por um forte apoio ao então presidenciável Jair Bolsonaro, um feroz crítico das políticas ambientais e da atuação do Ibama, principal órgão responsável pelo combate ao desmatamento.
Durante o período eleitoral de 2018, de agosto a outubro, houve uma explosão no desmatamento amazônico, que cresceu 48,8% em relação ao mesmo espaço de tempo do ano anterior. O monitoramento em questão, porém, é relacionado ao Deter B, outro projeto do Inpe que acompanha o desmatamento quase em tempo real, mas possui menor resolução que o Prodes. De toda forma, os dois sistemas apresentam grande convergência de informações.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

“Estamos avaliando entrar no leilão da Norte-Sul”, diz Julio Fontana RF

O presidente da Rumo, Julio Fontana, afirmou que a companhia avalia participação no leilão da Ferrovia Norte Sul, previsto para acontecer em 28 de março de 2019. “Como é obrigação nossa, estamos avaliando a oportunidade de entrar no leilão da Ferrovia Norte-Sul”. A declaração foi feita nessa quinta-feira (6), durante balanço do setor ferroviário apresentado pela Simefre. Fontana permanecerá na presidência da companhia até abril de 2019, quando será substituído por João Alberto Fernandez de Abreu. O anúncio foi feito hoje pela Rumo.
O edital da subconcessão da Ferrovia Norte-Sul, no trecho entre Porto Nacional (TO) e Estrela D'Oeste (SP), foi publicado no dia 30 de novembro no site da ANTT. O trecho a ser concedido tem 1.537 quilômetros. O valor mínimo de outorga é de R$ 1,353 bilhão, com investimentos previstos de R$ 2,8 bilhões e prazo de concessão de 30 anos, sendo vedada a sua prorrogação. 

Fontana apresentou um balanço dos investimentos que a companhia pretende fazer nos próximos anos. Entre os investimentos estão a construção de terminais, compra de material rodante, remodelação da via. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 7 bilhões, disse Fontana. A companhia aguarda o aval do Tribunal de Contas da União para a renovação antecipada do contrato de concessão da Malha Paulista.

“Na Malha Sul, possuímos o Projeto Cascavel, que é reconstruir a via que vai de Guarapuava até Ponta Grossa, unindo com a Ferroeste, para atingir a demanda do oeste do Paraná que já vai para o porto de Paranaguá via caminhões, ou seja, não há risco de demanda”, declarou Fontana.  

Há também o Projeto Primavera, que é construir 170 km entre Maringá (PR) e Porto Primavera (SP) para captar a produção do sul do Mato Grosso do Sul. No Rio Grande do Sul a intenção da Rumo é recapacitar a malha para atender o aumento da safra agrícola, em especial a de soja. 

Além disso, está em curso o projeto de devolução da Malha Oeste ou uma alternativa apelidada de Transbrasiliana que está sendo discutida com os governos da Bolívia e o do Chile. Segundo o presidente da Rumo, há um consórcio trabalhando na iniciativa e há também interesse do governo da Alemanha neste projeto. 

No caso da Brado Logística, há o projeto de otimizar o fluxo de produção em Sumaré (SP) e diversificar cargas, fazendo com que a empresa opere em malhas que vão além da Rumo. Além disso, estão em testes as locomotivas e os vagões que farão o transporte double-stack de contêineres no Brasil, de Campinas (SP) até Rondonópolis. “Isso vai mudar a visão do transporte de contêineres pelo Brasil”, diz Fontana. 

Também estão no radar expansões a ser feitas no terminal de Santos, a renovação do contrato da Portofer e novas oportunidades viárias não especificadas. 
Decisão do Conselho
O Conselho de Administração aprovou ontem o nome de João Alberto Fernandez de Abreu como sucessor de Julio Fontana a partir de 1º de abril de 2019.
“O Sr. Julio Fontana permanecerá no cargo até a data mencionada, e continuará a prestar serviços para a companhia até novembro de 2019, assegurando uma transição dentro do planejado. Adicionalmente, o Sr. Julio Fontana será presidente do Comitê Operacional da Rumo e membro de seu Conselho de Administração, participando de todas as decisões estratégicas e operacionais relevantes”, segundo fato relevante divulgado pela companhia. 
João Alberto Fernandez de Abreu é vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen Energia S.A. e membro dos conselhos das empresas: Iogen Energy, WX Energy e CTC - Centro de Tecnologia Canavieira.  Trabalhou por 18 anos no grupo Shell, ocupando diversas posições no varejo no Brasil, Inglaterra e Argentina. Em 2012, tornou-se diretor de Bioenergia e Tecnologia do negócio de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen Energia S.A. Dois anos depois, assumiu a Diretoria executiva Agroindustrial e se tornou vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bionergia, coordenando mais de 23 mil funcionários nas 26 usinas de cana-de-açúcar. Ele é formado em Engenharia Mecânica e de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e possui MBA pela Fundação Dom Cabral.

Em comunicado, a Rumo reconheceu que Julio Fontana, durante a vigência de seu mandato, “conduziu com grande sucesso o processo transformacional da companhia, tanto operacional quanto financeiro, que culminou na expressiva melhora de seu resultados e reconhecida geração de valor para seus acionistas”.