quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Governo e partido sem escola, FSP Vinicius Torres Freire, atualíssimo (pauta)

Quase um terço dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos não cursa o ensino médio na idade adequada —estão "atrasados", diz a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada nesta quarta-feira (5).
É muito. É pior se o adolescente não tem dinheiro. No quinto mais pobre da população, a taxa de atraso passa de 45%. No quinto mais rico, é de menos de 10%. No país em que os futuros governantes dizem sandices de gente típica de partidos sem escola, convém ressaltar essas estatísticas.
No Brasil, a educação pré-escolar é obrigatória para crianças de 4 e 5 anos desde 2009. Quase 92% delas estão matriculadas. No caso apenas daquelas de 4 anos, são cerca de 87%, distante da universalização, mas muito longe de ser um desastre quantitativo, pois a média é de 88% na OCDE.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico é um grupo de três dúzias de países de renda alta ou média-alta, comprometidos com normas de governança chamadas de "neoliberais" pela esquerda e de "globalistas" pelos aiatolás do bolsonarismo.
Como seria previsível no caso brasileiro, as crianças pequenas mais pobres vão menos à escola. Estão mais sujeitas às adversidades causadas pela falta de estudos dos pais, por ambientes em que ficam mais sujeitas a violências físicas e psicológicas e por falta de recursos rudimentares, como água limpa, comida saudável e livros ou equivalentes, o que vai prejudicar seu desempenho futuro na escola e na vida.
Nas casas em que pelo menos um morador foi à universidade, 62% das crianças de até cinco anos estão em creche adequada ou escola; no caso das residências em que o nível de ensino não passa do fundamental, a proporção cai para 47%.
No quinto mais rico da população, 67% das crianças pequenas vão à escola. No quinto mais pobre, 46%. É uma fábrica de desigualdade, que prejudicará a justiça social e a economia por décadas.
Entre os tantos estudiosos que afirmam tais coisas está JamesHeckman, economista, Nobel, que passou a vida dando aulas na Universidade de Chicago, onde se doutorou Paulo Guedes, o überministro da Economia de Jair Bolsonaro.
Quem sobrevive a uma primeira infância largada à selvageria brasileira, não é assassinado e consegue terminar o ensino médio em uma escola pública, mesmo sendo mãe adolescente ou obrigado a trabalhar, terá provavelmente estigmas duradouros (ainda pior se for pardo ou preto).
Apenas 36% dos secundaristas de escola pública vão para o ensino superior, ante 79% daqueles que cursaram escola privada.
Gente da nova ordem brasileira esnoba o ensino superior por vários motivos e difunde malandra ou estupidamente a ideia de que "nem todo o mundo precisa ou quer ir" para a universidade. Seria um argumento razoável se não fosse conversa de post de rede social, sem contexto.
Entre as pessoas com idade entre 25 e 34 anos, menos de 20% completaram o ensino superior no Brasil. Nos países da OCDE (que inclui Portugal, Grécia, México, Chile, Turquia, Arábia Saudita etc.), quase 37%.
No Brasil, quem fez faculdade ganha 2,5 vezes o salário médio de quem fez ensino médio; na OCDE, 1,6 vez. Como resume o relatório do IBGE: "Essa diferença... é uma característica comum de sociedades extremamente desiguais e a principal maneira pela qual as pessoas dos estratos mais elevados mantêm seus filhos em posições no topo da hierarquia ocupacional".
Aqui, é uma questão de berço. Ou de falta de creche.


Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Extrema pobreza aumenta no país, indica IBGE. FSP

Lucas Vettorazzo
RIO DE JANEIRO
O país observou aumento em 2017 das pessoas em situação de extrema pobreza, frente ao observado em 2016, divulgou o IBGE na manhã desta quarta-feira (5).
 
Segundo a pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais, o país teve aumento no percentual de domicílios com pessoas vivendo em níveis de extrema pobreza, quando considerado cinco de sete cortes de rendimentos analisados pelo instituto. 
 
No corte de domicílios com renda per capita de um quarto do salário mínimo (R$ 234,25), o país saiu de 12,6% dos domicílios em 2016 para 13% em 2017-- alta de 0,4 ponto percentual no intervalo de um ano.
 
Considerando as grandes regiões para essa faixa de renda, o Nordeste foi o que teve o maior avanço de pessoas nessa condição-- eram 23,9% em 2016 e passaram a 25%, alta de 1,1 ponto percentual. 
 
 
O instituto considerou mais de um critério para estabelecer a nota de corte da extrema pobreza. As famílias que possuem renda de 1/4 do salário mínimo per capita integram o grupo que tem direito a Benefício de Prestação Continuada, que garante o pagamento de um salário mínimo às pessoas com deficiência ou com mais de 65 anos que comprovem não ter como prover o seu sustento. 
 
O corte de domicílios com renda per capita entre um quarto e meio salário mínimo foi o único entre as sete possibilidades analisadas pelo IBGE que teve queda na comparação entre 2016 e 2017-- eram 18,5% dos domicílios e passaram a 17,7% no ano passado, queda de 1,1 ponto percentual. 
 
Já no corte das famílias que têm renda domiciliar per capita inferior a R$ 85 mensais, houve alta de 0,7 ponto percentual, na comparação entre 2016 e 2017, de 4% para 4,7%. Esse é o valor de rendimento que permite ao cidadão ser beneficiário do programa federal Bolsa Família. Novamente, o indicador está acima da média no Nordeste, região que mais cresceu na comparação anual, de 7,4% em 2016 para 9% em 2017. 
 
Na segunda faixa de recebimento do Bolsa Família, com domicílios com renda per capita de R$ 85 a R$ 170 mensais, o indicador ficou estável em 4,1% no ano passado. Nessa comparação, o Nordeste, por exemplo, teve ligeira alta, de 8,5% para 8,7% dos domicílios. No Sudeste, que concentra a população mais rica do país, o crescimento de pessoas em extrema pobreza cresceu na mesma proporção-- era 1,5% em 2016 e passou a 1,8% no ano seguinte. 
 
Na última nota de corte estabelecida pelo IBGE, o instituto calculou o percentual de domicílios com renda per capita de US$ 5,5 por dia, considerando uma Paridade de Poder de Compra que estipula que US$ 1 é igual a R$ 1,66. Esse recorte é o que considera a linha de extrema pobreza estipulada pelo Banco Mundial. 
 
Em 2017, 26,5% dos domicílios brasileiros viviam com renda per capita de US$ 5,5 por dia. O resultado do ano passado representou alta de 0,8 ponto percentual em relação ao apurado um ano ano antes, quando 25,7% dos domicílios brasileiros estavam nessa situação. 
 
Segundo essa nota de corte, o país tem 15 estados com percentual de população em extrema pobreza que supera a média nacional, sendo os destaques mais negativos o Maranhão (54,1%) e Alagoas (48,9%), com metade de sua população nessa condição. Na ponta oposta, Santa Catarina (8,5%) e Rio Grande do Sul (13,5%) apresentaram os menores percentuais. Rio (19%), São Paulo (14,9%), Minas Gerais (20,9%) e Espírito Santo (21,7%) ficaram abaixo da média nacional. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Especialistas defendem renovação antecipada de concessões de ferrovias, O Globo

 04.12.2018   |  Notícias de Mercado
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SÃO PAULO – A solução de problemas de um segmento de transporte específico pode gerar efeito multiplicador, com melhorias em outros modais. De acordo com os participantes do “Fórum E Agora, Brasil?”, organizado pelos jornais O GLOBO e “Valor Econômico” no último dia 27 de novembro, em São Paulo, a renovação antecipada de cinco concessões de ferrovias no país pode ser um exemplo dessa interconexão.
A prorrogação desses contratos pode garantir investimentos da ordem de R$ 30 bilhões e elevar a participação das ferrovias dos atuais 15% para 31% na malha de transportes nacional, nos cálculos do setor. Com isso, o país reduziria a dependência em relação às estradas, trazendo efeito positivo para os portos, que dependem hoje quase exclusivamente das rodovias para que os produtos cheguem aos pontos de embarque.
— O modal rodoviário encarece o transporte, causa engarrafamentos — afirmou Murillo Barbosa, diretor-presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP).
Rodovias: 53% das cargas
No início deste ano, a greve dos caminhoneiros e o impacto da paralisação na atividade econômica mostraram os riscos de o país ser dependente das estradas para transportar suas cargas. O Brasil tem 195 mil quilômetros de rodovias contra apenas 14 mil quilômetros operacionais de ferrovias, 9,3 mil quilômetros de hidrovias e outros 7,4 mil quilômetros de cabotagem.
Um estudo conduzido pela Fundação Dom Cabral aponta que as rodovias respondem hoje por quase 53% das cargas que circulam pelo país, enquanto ferrovias, hidrovias e a navegação de cabotagem, juntas, respondem por menos da metade.
A prorrogação antecipada dos contratos de concessão de ferrovias, que começam a vencer em 15 anos, é a única solução imediata para aumentar o investimento no setor ferroviário, na avaliação de Fernando Paes, diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF).
A estimativa é que os R$ 30 bilhões de investimentos previstos com a antecipação sejam feitos nos próximos cinco anos. Mas isso só se transformará em realidade se os consórcios privados tiverem a garantia de que continuarão a operar os trechos concedidos.
— Já conversamos com a equipe de transição do governo e mostramos que não existe outra solução. O governo não tem recursos, e o cenário fiscal não permite investimentos públicos. Se não houver renovação das concessões, os investimentos não vão acontecer —disse Fernando Paes.
As cinco concessões de ferrovias que devem ser antecipadas são a da Malha Paulista (Rumo), as ferrovias da Vale (Vitória-Minas e Estrada de Ferro Carajás), a Malha Regional Sudeste (MRS) e a Ferrovia Centro Atlântica (FCA, operada pela VLI). Elas englobam 13,4 mil quilômetros de estrada de ferro. Os novos contratos exigem como contrapartida dos consórcios a realização de melhorias na malha, além de investimentos em trechos de novas ferrovias.
No caso da Vale, por exemplo, a extensão do contrato seria condicionada à construção de um trecho que quase 400 quilômetros da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) entre Goiás e Mato Grosso.
Custos elevados
A antecipação dessas concessões vai gerar um impacto positivo para os portos brasileiros, prevê Murillo Barbosa, da ATP. Atualmente, a maior parte da carga para embarque chega aos portos via estradas, o que eleva os custos, além dificultar a logística.
—A antecipação das concessões pode trazer novas ferrovias, destravando, por exemplo, as obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia. O país precisa de mais ferrovias para acessar os terminais portuários—disse Barbosa.
Quando estiver concluída, a Fiol terá 537 quilômetros de extensão e vai escoar o minério de ferro produzido na região de Caetité, na Bahia, pelo Porto Sul, complexo portuário a ser construído em Ilhéus.
Fonte: O Globo
Data: 04/12/2018