sábado, 1 de dezembro de 2018
A vida depois dos 90 anos de idade FERNANDO REINACH* - O ESTADO DE S.PAULO, (2008)
A cada ano aumenta a expectativa de vida do ser humano. Novos remédios, dieta saudável e medidas preventivas estão aumentando a expectativa de vida em muitos países. Mas como serão vividas as últimas décadas dessa incipiente população de nonagenários? Otimistas acreditam que é possível viver mais de noventa anos com saúde física e mental, independência e liberdade. Pessimistas temem que o aumento na expectativa de vida produza uma população crescente de idosos dependentes de equipamentos médicos, atrelados a máquinas, fisicamente frágeis e mentalmente afetados por doenças degenerativas do sistema nervoso. Se esse for o caso, vale pena viver esses últimos anos?Felizmente esse problema está sendo investigado cientificamente. Em 1998 a Dinamarca identificou todos os habitantes nascidos em 1905 e, na época da pesquisa, tinham 92 anos completos. Todos foram convidados a participar de um estudo em que saúde física, mental e qualidade de vida seriam avaliadas periodicamente. Praticamente dois terços dos idosos concordaram em participar do estudo. No total, 2.262 pessoas. Eles foram reavaliados no ano 2000 e isso foi repetido em 2003 e 2005, quando o grupo atingiu os cem anos. Somente 166 das 2.262 pessoas atingiram um século de idade. É tão difícil chegar aos 92 quanto sobreviver dos 92 aos cem anos. O estudo permitiu descobrir como essas pessoas viveram seus últimos anos.A pesquisa investigou como as pessoas moravam, se tinham vida independente ou se viviam em casas de idosos ou asilos. Verificou grau de independência, capacidade de ir às compras, de caminhar e subir escadas. Mediu a força que tinham nas mãos, a capacidade cognitiva, a capacidade de dialogar e organizar os pensamentos, a memória e o estado psicológico. Descobriu quantas tinham depressão e se sofriam de solidão. A cada ano, os exames e entrevistas foram repetidos. Apesar da amostra pequena, do fato de muitas pessoas terem morrido durante o período analisado e levando em conta que essas pessoas sobreviveram a duas guerras mundiais e cresceram em uma época em que o fumo ainda era prevalente na Dinamarca, o estudo é provavelmente o mais completo já publicado.Os resultados são surpreendentemente encorajadores. O que foi observado é que a maioria das pessoas no grupo viveu de maneira independente e com boa saúde física e mental até os últimos meses de vida. A deterioração da saúde física ocorreu de maneira rápida e levou à morte em poucos meses. Os períodos de hospitalização foram relativamente curtos. Apesar de o estudo não ter analisado os custos desses últimos anos de vida para o governo da Dinamarca, tudo indica que os gastos maiores foram feitos nas poucas semanas anteriores à morte. Os resultados sugerem que - ao menos na população da Dinamarca nascida em 1905 - pessoas que sobrevivem até idades muito avançadas não têm uma qualidade de vida muito diferente de seus compatriotas de 70 ou 80 anos.O estudo precisa ser repetido em outras populações, mas tudo indica que o receio que os progressos da medicina acabem por criar uma população de idosos debilitados e infelizes parece não se justificar. *Biólogo - fernando@reinach.comMais informações em Exceptional longevity does not result in excessive levels of disability. Proc. Nat. Acad. Sci., vol. 105, pág. 13.274, 2008
Aos 93 anos, médico atende gerações em posto do SUS na periferia de São Paulo, FSP
Com mais de 60 anos de carreira e formado pela Escola Paulista de Medicina, Duarte Vicente atua na zona norte
Angela Pinho
SÃO PAULO
Duarte Malva Vicente não é recém-formado nem cubano, tampouco se inscreveu no programa Mais Médicos. Aos 93 anos, com mais de 60 de carreira, trabalha todos os dias em um posto da periferia de São Paulo e não pensa em parar tão cedo.
Formado em uma das melhores faculdades do país, a Escola Paulista de Medicina, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Vicente integra a equipe de saúde da família da UBS Vila Terezinha, na região da Brasilândia, na zona norte da capital paulista. Entra às 7h e só sai depois das 16h.
Seu registro no CRM tem o número 1.526, ao passo que o documento dos recém-chegados à profissão já tem seis dígitos. Enquanto o país dos seus colegas mais novos discute como ocupar os postos dos cubanosdo programa Mais Médicos, o Brasil da juventude dele debatia a guerra.

Penicilina e transplante eram descobertas recentes quando Vicente, recém-saído do ensino secundário, foi convocado pelas Forças Armadas em meio à Segunda Guerra Mundial.
Deixou a casa onde morava no Jardim Paulistano, “perto do ponto final do bonde”, como lembra, para ir ao litoral. Não chegou ao ir ao combate. Cuidava das armas e vigiava o quartel.
Dispensado após a vitória dos Aliados em 1945, ele resolveu cursar medicina e acabou por se especializar em cirurgia de tórax — mas nos plantões fazia de tudo. Trabalhou anos no Hospital das Clínicas e no Complexo Hospitalar do Mandaqui, estadual, na zona norte, onde se estabeleceu.
Integrou a equipe que fez o primeiro transplante de fígado do país e atendeu milhares de pacientes. Aos 75 anos, foi obrigado a se aposentar do serviço público, mas não cogitou parar. A explicação é simples: “sinto falta de trabalho, não de ociosidade”, diz.
Foi administrar uma entidade de voluntariado para ajudar pacientes do Mandaqui e passou a atender como pneumologista em um convênio.
Foi quando uma colega lhe falou do posto de saúde da Vila Teresinha. Era 2005. Vicente gostou da ideia e foi contratado pela organização social que administra a unidade. Desde então, não saiu mais.
Além da rotina de atendimentos de segunda a sexta, faz cursos de atualização à noite e pelo menos uma vez por semana sobe e desce as ladeiras do bairro para visitar pacientes acamados.
“Já recebi alguns convites para trabalhar em outros lugares, mas não quis ir. Sabe por quê?” Pergunta e tira da gaveta uma broa de fubá dada de presente por um de seus pacientes. “É pelas amizades”, responde.
As amizades já estão na terceira geração. Certo dia, ele foi parado por uma menina perto da UBS. “O senhor fez o parto da minha mãe”, disse a garota. Algum tempo depois, ela engravidou, e foi Vicente quem fez o parto.
Em tempos de fácil acesso a exames e comunicação rápida, ele tenta praticar uma medicina à moda antiga. Não dispensa uma conversa demorada com o paciente.
Na última quarta-feira (28), a Folha acompanhou dois de seus atendimentos.
Um deles era o de Adão dos Santos, 85. O aposentado tem problema nos rins e faz diálise. Recentemente, começou a se sentir zonzo. “Recomendei que ele se deitasse quando isso acontece e tem melhorado. Nem tudo que resolve é remédio”, diz o médico.
Ele mede a pressão do paciente, verifica seu peso e apalpa o tornozelo. “Tem gente que manda foto pelo celular para a gente olhar e falar o que é. Às vezes a pessoa até já escolheu o remédio. Mas eu preciso ver a cor, sentir o cheiro. Como faz?”, indaga. “Hoje tem mais exame, mas o que fazer com o dado depende da nossa experiência”, afirma.
Depois de Adão, entra na sala o motorista de ônibus aposentado José Gomes dos Reis, 68. “O senhor José mora aqui perto e, com 50 anos de idade, já tinha hipertensão e problema de colesterol”, diz Vicente ao apresentá-lo à reportagem. “A mulher dele fica em cima para ele se cuidar. Às vezes, ele viajar para o interior de Minas e traz um café para mim.” José confirma.
Nem todos, no entanto, são como o motorista. Ali mesmo em sua sala no posto de saúde, Vicente já teve seu celular furtado duas vezes.
“A medicina avançou muito, mas ainda temos febre amarela, malária, dengue”, afirma ao final da conversa, para em seguida reformular a frase. “A medicina avançou bem, mas o homem precisa acompanhar.”
Em quatro anos, estado de São Paulo perdeu 122 mil servidores públicos, RBA
DESMONTE
Áreas mais afetadas são educação, saúde, mobilidade urbana e segurança pública. No mesmo período, gasto com terceirizados aumentou R$ 1,4 bilhão
por Rodrigo Gomes, da RBA publicado 29/11/2018 18h40
ERNESTO RODRIGUES/FOLHAPRESS
São Paulo – Entre 2011 e 2017, o estado de São Paulo perdeu 122,4 mil servidores públicos ativos. O número de trabalhadores foi reduzido de 734,5 mil para 602,5 mil, nas mais diversas áreas. As mais afetadas são educação, saúde, mobilidade urbana e segurança pública. No mesmo período, o gasto com trabalhadores terceirizados aumentou de R$ 10 bilhões para R$ 11,4 bilhões por ano. Para a líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, deputada Beth Sahão, essa situação é resultado de descaso com os servidores e do interesse do governo paulista em desestruturar serviços públicos para repassá-los à iniciativa privada.
“Essa redução prejudica muito o atendimento à população, tanto nos serviços que já existem, como naqueles que estão sendo criados. Foram inaugurados novos hospitais, novas Faculdades de Tecnologia (Fatecs) nesse período. Mas o número de servidores não acompanhou a nova demanda, pelo contrário, foi reduzido. Essa não é uma medida aleatória, é uma política dos governos do PSDB em São Paulo, para justificar o repasse da gestão para uma organização social. É uma tragédia para a população”, explicou a deputada.
Na Secretaria de Estado da Saúde, 8.869 servidores deixaram seus postos, apenas nos últimos quatro anos. Nas Fatecs, outros 871 trabalhadores deixaram os cargos. Na Secretaria de Estado da Educação foram mais 77.973. “Há muitos casos de aposentadoria, mas também de pessoas que não aguentam os baixos salários, a situação precária dos locais de trabalho. Não são robôs, são pessoas que precisam ser valorizadas. O governo paga pouco e compensa com gratificações, que não pesam na aposentadoria”, disse Beth.
A deputada ressaltou que o alto número de baixas na educação também se deve ao fechamento de salas de aula pela gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Segundo levantamento do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), cerca de 900 salas foram fechadas. “Juntaram várias salas, reduzindo o número de professores necessários e mantendo a péssima condição dos estudantes assistirem aulas em salas lotadas”, afirmou.
Na área de mobilidade urbana, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), que teve algumas de suas linhas concedidas à iniciativa privada este ano, perdeu 460 funcionários nos últimos quatro anos. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) perdeu quase o dobro: 846. Já a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) teve redução no quadro de 147 trabalhadores.
Outra empresa pública que perdeu muitos funcionários foi a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Mesmo no período em que a Região Metropolitana da capital paulista teve uma severa falta de água, a companhia reduziu o quadro em 750 funcionários. Voltando à saúde, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo perdeu 1.545 trabalhadores. E mesmo na segurança pública houve redução. A Policia Militar do Estado de São Paulo, que tem o maior efetivo do país, viu seu quadro ser reduzido em 3.579 agentes desde 2014.
O governo de São Paulo não se manifestou.
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