segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Etanol de segunda geração poderá ser economicamente viável a partir de 2025, Fapesp


28 de setembro de 2017

Elton Alisson | Agência FAPESP – O etanol celulósico, obtido da palha e do bagaço da cana-de-açúcar e também conhecido como etanol de segunda geração (2G), poderá ser economicamente viável a partir de 2025 se forem transpostas as atuais barreiras agrícolas, industriais e tecnológicas para produzi-lo e se o setor sucroenergético brasileiro superar a estagnação em que se encontra.
A avaliação é do pesquisador Antonio Bonomi, coordenador da divisão de inteligência de processos do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), do Centro Nacional de Pesquisa em Engenharia e Materiais (CNPEM), e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
“Hoje claramente é mais interessante do ponto de vista econômico para as empresas do setor sucroenergético montar uma nova usina voltada à produção de etanol de primeira geração do que construir uma usina de etanol de segunda geração integrada a uma de primeira geração, por exemplo, porque o retorno do investimento é maior”, comparou Bonomi.
“A tendência, contudo, é que em médio prazo – em 2025 – o custo de produção do etanol celulósico empate com o de primeira geração e a partir de 2030 o etanol de segunda geração seja mais barato do que o de primeira. Isso se forem superados os atuais obstáculos agrícolas, industriais e tecnológicos e se o setor sair da estagnação em que se encontra”, ponderou.
Os biocombustíveis de segunda geração serão um dos temas discutidos no Brazilian BioEnergy Science and Technology Conference (BBEST) 2017, evento promovido pelo BIOEN, que ocorrerá entre os dias 17 e 19 de outubro, em Campos do Jordão.
De acordo com Bonomi, que coordena um projeto apoiado pela FAPESP voltado à valorização da cadeia produtiva descentralizada de biomassa para produção de biocombustíveis avançados, o volume de etanol de segunda geração produzido hoje no Brasil é muito baixo.
A capacidade de produção das duas usinas voltadas à produção de etanol de segunda geração existentes hoje – uma da Granbio, localizada em São Miguel dos Campos, em Alagoas, inaugurada em 2014, e a outra da Raízen, situada em Piracicaba, no interior de São Paulo, que entrou em operação no final de 2014 – é de pouco mais de 100 milhões de litros por ano. Entretanto, as duas usinas têm produzido menos da metade dessa capacidade, estima o pesquisador.
“As duas usinas têm produção descontínua e estão em fase de aprendizado de produção, utilizando equipamentos ainda pouco eficientes e processos que ainda apresentam problemas que estão sendo identificados para, pouco a pouco, serem resolvidos”, avaliou.
O custo estimado de produção do etanol de segunda geração calculado pelos pesquisadores em julho de 2014 gira em torno de R$ 1,50 por litro, enquanto o custo de etanol de primeira geração é de, aproximadamente, R$ 1,15.
Até 2025, entretanto, o custo do etanol de segunda geração poderá cair para R$ 0,75 por litro, podendo chegar, até 2030, a R$ 0,52, calculou o pesquisador. Em parceria com colegas do CTBE, ele realizou um estudo, a pedido do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em que se projetou a evolução do custo de produção do etanol celulósico e a data em que a tecnologia se tornaria economicamente viável no Brasil.
“Ao custo de produção de R$ 0,52 por litro, o etanol de segunda geração seria competitivo mesmo se o preço internacional do barril de petróleo atingisse o mínimo de US$ 44 por litro”, estimou o pesquisador.
Diferentes cenários
Para chegar a esses valores, os pesquisadores realizaram um levantamento inicial junto a 22 empresas e especialistas do setor de etanol e realizaram simulações computacionais na Biorrefinaria Virtual de Cana-de-Açúcar (BVC) – uma ferramenta de simulação computacional desenvolvida pelo CTBE que possibilita avaliar a integração de novas tecnologias à cadeia produtiva de cana-de-açúcar e de outras biomassas nas fases agrícola, industrial e comercial.
As simulações foram feitas com base em diferentes cenários tecnológicos em curto prazo (de 2015 a 2020), médio prazo (de 2021 a 2025) e longo prazo (de 2026 a 2030).
Um dos cenários representa a média atual de produção de etanol hoje – principalmente da região Centro-Sul do país –, contemplando uma planta de etanol de primeira geração com capacidade de processamento de 2 milhões de toneladas de cana durante a safra, com tecnologia básica e sem integração energética.
Os demais cenários são baseados no processamento de, pelo menos, 4 milhões de toneladas de cana, com tecnologia moderna, e abrangem tanto a produção de etanol de primeira geração exclusivamente, como também a de primeira geração integrada à segunda e a de segunda geração independente.
Os pesquisadores consideraram duas rotas tecnológicas para produção de etanol de segunda geração, sendo a primeira por meio da fermentação separada de açúcares de cinco carbonos (xilose) e a segunda pela cofermentação dos açúcares de cinco e seis carbonos (glicose).
Os resultados das simulações indicaram que, na parte agrícola, um dos entraves para tornar o etanol celulósico economicamente viável é o custo da biomassa, que é alto.
“O custo da biomassa representa um entrave não só para a produção de etanol de segunda geração, mas também para o de primeira”, disse Bonomi.
Outros obstáculos são a falta de um sistema agrícola e industrial projetado para fazer o uso integral da cana, considerando também a palha, e de uma alternativa à cana no período de entressafra que possibilite a uma usina operar ao longo de 300 a 330 dias por ano, contra a atual média anual de 200 a 240 dias.
“A ‘cana-energia’ [variedade de cana obtida a partir do cruzamento das espécies Saccharum officinarum e Saccharum spontaneumque apresenta maior teor de fibras e menos açúcares em comparação com a cana convencional] pode ajudar nesse sentido porque apresenta algumas características interessantes”, afirmou o pesquisador.
Uma delas é que essas variedades de cana que têm sido desenvolvidas por empresas como a GranBio e a Vignis e por instituições como o Instituto Agronômico (IAC) não necessitam de estresse hídrico para aumentar seu teor de açúcar. Além disso, poderiam ser coletadas também ao longo da estação úmida, explicou Bonomi.
Já na área industrial, um dos principais obstáculos para viabilizar economicamente o etanol de segunda geração é diminuir o custo de capital – os equipamentos necessários para produção –, que ainda são altos, apontou o pesquisador.
“Esse é um problema que, provavelmente, a curva de aprendizado do processo vai resolver. A primeira planta normalmente sempre é mais cara, porque ainda não há fabricantes de equipamentos adequados para a produção”, ponderou Bonomi.
E na parte tecnológica um dos principais problemas é o pré-tratamento da biomassa – com o objetivo de separar a lignina da celulose e da hemicelulose – para adequá-la ao processo de hidrólise, em que a celulose e a hemicelulose são convertidas em açúcares fermentescíveis para produzir o etanol de segunda geração.
“Essa etapa, de preparação do material lignocelulósico para permitir a atuação das enzimas que fazem a quebra dos polímeros presentes no material lignocelulósico [a celulose e a hemicelulose], não é totalmente conhecida e ainda estão em desenvolvimento os equipamentos necessários para fazer isso, que são caros”, explicou Bonomi.
Um outro problema é o tempo necessário para o processo de hidrólise, que hoje é demorado. Por essa razão, o custo de armazenamento em tanques necessários para realizá-lo e o risco de contaminação são altos.
“Isso acaba exigindo que a capacidade de produção das usinas de etanol de segunda geração seja dimensionada com uma escala maior para poder compensar perdas que possam ocorrer por eventuais contaminações no processo”, disse Bonomi.
Um terceiro gargalo tecnológico está no processo de fermentação das pentoses – os açúcares resultantes da quebra (hidrólise) da hemicelulose, apontou o pesquisador.
Enquanto a quebra da celulose resulta em glicose – que é um açúcar facilmente fermentescível a etanol –, a da hemicelulose produz açúcares de cinco carbonos (pentoses), que os microrganismos (leveduras) existentes hoje não conseguem metabolizá-los facilmente para produzir o etanol de segunda geração. Por isso, a velocidade de produção de etanol de segunda geração a partir da hemicelulose é baixa.
“Hoje é possível produzir etanol de segunda geração em grande escala a partir do hidrolisado de celulose. Já a produção a partir do hidrolisado de hemicelulose ainda está em desenvolvimento, e o próprio CTBE acabou de desenvolver uma levedura modificada capaz de produzir etanol a partir das pentoses”, disse Bonomi.
“Os avanços esperados nessas áreas agrícola, industrial e tecnológica devem fazer com que o etanol de segunda geração se torne mais barato que o de primeira”, afirmou.
Rotas tecnológicas
As duas usinas de etanol de segunda geração existentes no Brasil hoje adotaram diferentes rotas tecnológicas.
Enquanto a GranBio se baseou em uma rota tecnológica chamada stand alone – caracterizada por uma usina dedicada exclusivamente à produção de etanol de segunda geração, sem ser integrada a outra de primeira geração –, a Raízen (joint ventureentre a Shell e a Cosan) optou por construir uma usina integrada.
Uma vantagem que o processo tecnológico adotado pela Raízen apresenta em relação à GranBio é a possibilidade de fermentar pelo menos o hidrolisado de celulose junto com a sacarose do caldo de cana para obter etanol de segunda geração, comparou Bonomi.
“Enquanto a GranBio tem uma tendência de transformar em etanol a mistura do hidrolisado de celulose com o hidrolisado de hemicelulose – ou seja, a combinação dos açúcares C6 [da fração celulósica] da glicose e das pentoses –, a tecnologia da Raízen tem mais um processo de fermentação do C6 junto com a sacarose, enquanto as pentoses podem ser fermentadas isoladamente na produção de etanol”, disse o pesquisador.
As duas usinas, contudo, têm enfrentado desafios tecnológicos para produzir o etanol de segunda geração, principalmente na fase de pré-tratamento do material, apontou o pesquisador.
Em nota ao Broadcast – o serviço em tempo real do Grupo Estado – no início de junho, a GranBio admitiu ter mudado o cronograma de investimentos e metas de produção de etanol celulósico por conta de problemas tecnológicos relacionados ao pré-tratamento e pela crise econômica. Mas que espera ter, em 2019, um etanol de segunda geração competitivo como o fabricado a partir da cana.
Consultada pela Agência FAPESP, a Raízen respondeu em nota que um dos pontos-chave para o sucesso que tem obtido com a produção de etanol de segunda geração na usina Costa Pinto, em Piracicaba, é justamente a integração da planta de segunda geração à de primeira geração, que proporciona consideráveis benefícios logísticos.
“A companhia aposta nessa tecnologia disruptiva e acredita que os desafios tecnológicos já foram superados. No momento estamos buscando a confiabilidade mecânica dos equipamentos e um nível satisfatório de excelência da planta como um todo”, disse a empresa em nota.
O estudo De promessa a realidade: como o etanol celulósico pode revolucionar a indústria da cana-de-açúcar: uma avaliação do potencial competitivo e sugestões de política pública, de Bonomi e outros, pode ser acessado em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/4283.

domingo, 15 de outubro de 2017

Pelas ruas de São Paulo, lojas vazias formam os escombros da crise, Pauta Patah


09/10/2017 
Dois anos e meio de crise já deixaram marcas profundas nos imóveis vagos na maior metrópole do País. Um ano atrás, quem percorria os principais corredores comerciais de São Paulo encontrava inúmeras casas e lojas com placas de “aluga-se” ou “vende-se”. Hoje, muitos desses imóveis continuam vagos. Pior: eles apresentam avançado estado de degradação.

Além da falta de manutenção, agravada pelos visíveis sinais da longa espera por um novo inquilino ou comprador, muitos imóveis encalhados estão pichados, com vidros quebrados e cercados por tapumes, na tentativa de preservar o que resta das suas estruturas. Há até proprietários que permitem a ocupação de um morador de rua para evitar novas invasões.

Não há dados consolidados a respeito de quantos imóveis comerciais estão vagos hoje em São Paulo. Mas estimativas da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), que reúne cem administradoras, indicam que entre 30% e 35% dos imóveis comerciais de rua estão desocupados na cidade. “Essa taxa de vacância é o triplo da registrada em períodos normais, quando a economia crescia”, diz o presidente da entidade, Rubens Carmo Elias Filho. 

O grande número de imóveis vagos por um longo período abriu espaço para a degradação das casas. Faz um ano, por exemplo, que um imóvel de 400 metros quadrados (m²) que fica na Avenida Rebouças, importante corredor comercial da cidade, está vazio. “O último inquilino foi um buffet”, conta Carlos Alberto Papa, proprietário. Logo que ficou vago, ele pedia um aluguel de R$ 15 mil. Mas o tempo foi passando e o imóvel foi invadido. “Entraram e quebraram tudo”, conta Papa. A saída para preservar a casa foi cercá-la com tapumes e permitir que um morador de rua se instalasse no local. “Deixa ele lá, ele me protege”, justifica o proprietário.

Para conseguir alugar, Papa baixou o aluguel pedido para R$ 12 mil e está disposto a dar uma carência por conta da necessidade de reforma.

Na Rua Estados Unidos, nos Jardins, outro endereço nobre de São Paulo, a história se repete. Desde setembro do ano passado, um imóvel de 230 m², onde funcionava um pet shop, está vazio. Segundo a imobiliária responsável pela locação, a casa foi invadida: roubaram a fiação, o relógio da luz e até os tijolos. A saída encontrada para proteger o imóvel de novas invasões foi colocar um zelador morando dentro da casa e permitir que um morador de rua fizesse da varanda, protegida por tapumes, o seu dormitório. De acordo com a imobiliária, mesmo com o corte no aluguel pedido, de R$ 16 mil para R$ 14 mil, não apareceram interessados. 

Os sinais de degradação atingem também áreas comerciais menos nobres. Quem passa pela Rua Solon, esquina com a Rua Visconde de Taunay, no Bom Retiro, se assusta ao se deparar com um galpão com 230 m² todo pichado. Há ainda faixas, resquícios de uma grande liquidação feita pelo último inquilino, que vendia peças de vestuário por R$ 5. Segundo a imobiliária responsável pela locação, faz quase um ano que o imóvel está vazio. De lá para cá, houve oito consultas de empresários do ramo de confecção, mas nenhuma visita ou proposta firme.

Flexibilidade. Nem a maior flexibilidade dos proprietários para negociar preço tem ajudado a destravar as locações. Nilton Freitas, corretor da Local Imóveis, conta que faz seis meses que tenta uma nova locação para um imóvel de 900 m² localizado na Avenida Antarctica. Inicialmente, o aluguel pedido era de R$ 22 mil. Agora já recuou para R$ 18 mil. “Estamos bastante flexíveis, mas não chegou o cliente certo”, justifica o corretor. Ele explica que, apesar de o imóvel ter sinais de degradação por fora, a parte interna, segundo ele, está bem conservada.

Já não é isso que se vê no imóvel que fica a menos de um quilômetro dali, na Avenida Sumaré, esquina com a Rua doutor Homem de Melo, em Perdizes. Ali, os sinais do tempo deixaram marcas impressionantes de degradação. Os vizinhos não lembram a última vez que o prédio foi ocupado. Procurado pela reportagem, o corretor não quis fornecer informações.

Além do corte no valor do aluguel para tentar conseguir inquilino – que em alguns casos chega a 50% do valor inicialmente pedido –, os proprietários estão usando outras estratégias. Flávio Prando, vice-presidente de Intermediação Imobiliária do Secovi-SP, diz que atualmente os donos de imóveis oferecem carência para o novo inquilino. 

Isto é, eles isentam o locador do aluguel por alguns meses para que o novo empreendimento comece a andar e o locador consiga “criar” o ponto. “Hoje não é raro o proprietário dar carência de seis meses para o inquilino se capitalizar.” Prando diz que há expectativa de melhora do mercado de locação comercial para o ano que vem, mas não de forma significativa.

Círculo vicioso. O tempo maior gasto hoje para locar um imóvel e os efeitos negativos sobre o estado de conservação – já que muitos proprietários, sem a renda do aluguel não têm condições de fazer a manutenção básica –, levam a um círculo vicioso, na análise do arquiteto e urbanista Rogério Batagliesi, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-SP). Ele explica que, por conta da falta de manutenção e degradação dos imóveis vagos, com o passar do tempo fica cada vez mais difícil recolocá-los no mercado. 

Questionada sobre os imóveis degradados, a Prefeitura disse, por meio de nota, que “a Secretaria das Prefeituras Regionais informa que de acordo com a Lei nº15.442, os responsáveis por imóveis, edificados ou não, vizinho a vias públicas, são obrigados a mantê-los limpos, capinados e drenados, respondendo, em qualquer situação, pelo uso como depósito de lixo, detritos ou resíduos. A pena pela falta de limpeza é de R$ 4 por metro quadrado”.

Fonte: Estadão

Sindicatos temem perda de até R$ 3 bilhões com fim de imposto, FSP


Marlene Bergamo/Folhapress
CUT, CTB e Intersindical promovem atos contra reformas da Previdência, trabalhista e terceirização promovidas pelo governo Michel Temer.
CUT, CTB e Intersindical promovem atos contra reformas promovidas pelo governo Temer

O sindicalismo brasileiro se prepara para enfrentar tempos de penúria. Com a reforma trabalhista, que entra em vigor no próximo mês, o imposto sindical, que equivale a um dia de trabalho e hoje é descontado em folha, passará a ser voluntário.
O temor de sindicalistas é que parte expressiva dos trabalhadores deixe de contribuir, colocando em risco uma arrecadação que em 2016 somou cerca de R$ 2,9 bilhões.
Segundo o economista da Unicamp José Dari Krein, especialista em movimento sindical, levantamentos apontam que entre 25% e 30% da receita dos sindicatos vêm do imposto sindical.
A dependência é maior no caso das centrais, que em alguns casos praticamente sobrevivem desse repasse, uma vez que não contam com mensalidade de sócios, como acontece com os sindicatos.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores), maior central do país, projeta um orçamento 30% menor em 2018. A Força Sindical diz que "vai acabar" sem o imposto, enquanto a União Geral dos Trabalhadores (UGT) vai se mudar para uma sede mais barata em São Paulo.
"O impacto negativo do fim do imposto deve ser generalizado. A queda de receita deve ser ainda mais substantiva em setores menos estruturados e com alta rotatividade, como comércio e construção civil", diz Krein.
Um caso emblemático é o do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que em 2016 foi a organização que mais recebeu imposto sindical no Brasil –R$ 31,5 milhões, segundo dados mais recentes do Ministério do Trabalho.
Em 2017, o orçamento total da entidade (considerando outras fontes além do imposto) foi de R$ 95 milhões. Mas para o ano que vem a previsão é que o caixa encolha para R$ 20 milhões, diz o presidente, Ricardo Patah.
Algumas medidas para se adaptar à nova realidade já estão sendo implementadas. O sindicato abriu um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para cortar 200 dos 600 funcionários e vai reduzir em mais de 50% os serviços oferecidos, como atendimento médico. As oito subsedes da entidade serão fechadas.
O orçamento da UGT, também presidida por Patah, deve despencar de R$ 50 milhões em 2017 para R$ 1 milhão no ano que vem.
PRESSÃO
Uma saída defendida pela UGT e pela Força Sindical, entre outras centrais, é a cobrança da contribuição assistencial (também conhecida como taxa assistencial) de todos os trabalhadores da categoria, e não só dos filiados.
As entidades pressionam o governo Michel Temer para editar uma medida provisória (MP) que regulamente a questão, uma vez que no início do ano o Supremo Tribunal Federal decidiu que ela só poderia ser descontada de quem fosse filiado.
A taxa de sindicalização no Brasil gira em torno de 20%, de acordo com o IBGE. Por isso, os sindicatos querem ampliar a cobrança.
Sem a MP, a Força Sindical "vai acabar", diz João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da central. "Nosso orçamento vai cair de R$ 48 milhões para zero."
Contando com a MP, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo –que está negociando nova convenção coletiva– quer uma taxa assistencial de até 1% do salário da categoria. Do contrário, Miguel Torres, presidente da entidade, espera uma queda no próximo ano de 40% do orçamento de R$ 50 milhões.
Nesse caso, Torres também defende que as convenções valham apenas para quem contribuir. "Como o sindicato vai trabalhar de graça para quem não paga?"
COMPARTILHAMENTO
"Eu tenho participado em muitos debates com sindicatos para a gente formular uma estratégia que não seja de desespero", diz Quintino Severo, secretário de administração e finanças da CUT, central que historicamente sempre foi contra o imposto.
Uma das medidas que devem ser adotadas diante do orçamento apertado é a racionalização de custos e estrutura, como o compartilhamento de sedes por sindicatos diferentes, afirma Severo.
Isso já está sendo estudado pelo Sintetel-SP, entidade que representa os trabalhadores em telecomunicações, e que pretende compartilhar suas colônias de férias no litoral com outros sindicatos.
A entidade demitiu dez funcionários e deve fazer mais cortes, diz o vice-presidente, Mauro Cava de Britto.
Para contornar a queda, o Sintetel quer ampliar a oferta de cursos à distância em parceria com escolas privadas. Nesse esquema, os filiados pagam metade do valor do curso, e o restante é subsidiado pela empresa. A entidade ganha a mensalidade.
Outra alternativa é restringir a oferta de serviços. O Sindicato dos Químicos do Paraná, por exemplo, está limitando consultas odontológicas e médicas. Segundo o presidente da entidade, Francisco Rodrigues Sobrinho, o sindicato tem 1.900 filiados, que pagam R$ 27 por mês.
Já entidades com alta taxa de sindicalização, como os bancários de São Paulo e os metalúrgicos do ABC, dizem que o fim do imposto terá pouco impacto, uma vez que contam com a contribuição assistencial e a mensalidade paga pelos sócios. Por isso, esses sindicatos devolvem o imposto aos trabalhadores.
DIEESE PEDE DOAÇÕES
O aperto no bolso dos sindicatos com o fim da obrigatoriedade do imposto sindical também preocupa o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
A principal fonte de financiamento da organização é a contribuição dos cerca de 800 sindicatos associados. Eles pagam uma mensalidade que varia de R$ 300 a R$ 15 mil –dependendo do tamanho e do salário médio da categoria– para ter acesso aos serviços prestados pelo Dieese.
Sem recursos para pagar essa mensalidade, alguns sindicatos já estão pedindo suspensão da filiação, diz o diretor técnico da entidade, Clemente Ganz Lúcio.
Antevendo dificuldades maiores, a entidade começou uma campanha pedindo o aporte de uma 13ª mensalidade dos filiados.
O Dieese também busca filiar mais sindicatos e passou a aceitar doações de pessoas físicas, afirma o diretor.
Desde 2015, com a redução nos convênios com o setor público em razão da crise econômica e do ajuste fiscal, o Dieese já reduziu em R$ 10 milhões seu orçamento.
Para o próximo ano, a estimativa é de R$ 35 milhões –o que pode ser revisto em dezembro, caso o cenário se deteriore, diz o diretor.
"Ainda não deixamos de fazer atividades para o movimento sindical, mas, se houver redução do financiamento, teremos que fazer. Podemos não ter condição de acompanhar todas as negociações coletivas, por exemplo", afirma Lúcio.